quinta-feira, 26 de março de 2009

Lançamento de Um Litro de Letras



Será lançado no dia 03 de abril na cidade mineira de Ouro Preto o livro Um Litro de Letras do poeta pontenovense Jaquesson Alberto Rodrigues. O lançamento ancontecerá a partir das 18:00 na FIEMG, Praça Tiradentes. Portanto, vocês que curtem poesia e estão em Ouro Preto ou redondezas não deixem de comparecer. É um momento importante e não será exagero acrescentar: raro. Atribuo esse valor de raridade pelo fato de estar longe da esfera comum o aparecimento de trabalhos de qualidade na área da poesia. Vivemos tempos em que os verdadeiros poetas estão em extinção, em que predomina uma obsessão louca em avançar no campo tecnológico, nossas mentes formatadas pela ideologia de um neo-positivismo. Tempos assim fazem necessário o nascimento de poetas, para que com seus versos possam nos lembrar que somos humanos.
O nascimento de um livro cujas letras foram cuidadosamente unidas e separadas, trabalhadas de modo artesanal, para formas versos, não pode ser um dia comum. Está feito o convite, só lamento não poder estar em Ouro Preto neste dia.

Visitem o blog do poeta e conheçam um pouco de seu trabalho, o link é:
http://cigarraeletronica.blogspot.com/

Depoimento do poeta sobre sua obra:

Feito talvez no pior momento de minha vida, este livro é um marco de transição de um estado de "saúdes para outro estado de "saúdes".Ele traz em si, algo mais do que simplesmente material impresso e grafado, traz também a minha convicção de que podemos nos curar através da prática de variadas linguagens.Entre essas, a literatura foi a minha.
É claro que minha iniciativa de escrever, esse ato produtor de sinais de existência e vozes tão frágeis ,que são os poemas, me levou até pessoas sensíveis como eu,que se interessaram pelo meu processo e se mostraram além de solidários, reconhecedores do meu talento.Essas pessoas são: laene teixeira mucci, délcio teobaldo e ayrton pyrtz.O primeiro, Délcio teobaldo, jornalista, etnomusicólogo e muito mais mídias, é pessoa que eu agradeço muito por ter me apresentado a segunda, Laene, que me impulsionou para a esperança novamente, me dando muito mais do que a chance de ser editado e lido.O terceiro, ayrton pyrtz, com seu talento absurdo, me deu mais um presente como tantos outros bons, que foram as iustraçoes do livro.Por fim, agradeço á toda a conspiração de ordem natural e sobrenatural, que atuando através do meu livro, me mostrou novamente o caminho que vai dar no coração das pessoas.

acreditemos na vida, ela é afirmação.

Jaquesson Alberto Rodrigues

Generacion Y: a nova revolução cubana


Lendo uma das edições eletrônicas da revista Piauí, deparei-me com uma reportagem cujo conteúdo assumiu ares de descoberta. O tema era a filóloga cubana Yoani Sanches, que em 2008 esteve na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo divulgada pela revista norte-americana Times.
O “poder” desta cubana franzina não vem da construção de relações dentro da política internacional, ela não é uma mega empresária cuja empresa possui filiais em todo mundo e nem possui um botão em seu apartamento com o qual pode ativar o lançamento de todo arsenal atômico americano e russo. A influência de Yoani se dá no campo das idéias. Não queridos amigos, ela não possui nenhum cargo entre os “homens de confiança” de Fidel, nem é jornalista, muito menos escreve para qualquer veículo de comunicação de grande porte. Yoani expressa suas idéias através de um instrumento usado por milhares de adolescentes de todo mundo, o blog. Ela transformou esse espaço que serve a muitos como simples agenda pública num instrumento de questionamento e reflexão, que tem colocado os governantes cubanos de cabelo em pé, ao menos o pouco de cabelo que ainda tem.
Quase diariamente são publicados textos em seu blog Generacion Y, que discutem questões referentes à realidade do povo cubano. Seu discurso é direto sem perder a elegância. As pessoas que mantêm blogs por aqui podem se admirar por alguém conseguir manter um fluxo de textos, mas pelo motivo errado. Ficarmos admirados com a produtividade de Yoani é ficar admirado pelo motivo errado, pois em Havana a internet é proibida à população, seu uso é restrito ao alto escalão do governo cubano. Existem apenas dois ciber-cafés na capital da Ilha e além destes dois locais, internet apenas nos hotéis. Em entrevista concedida à revista Veja a filóloga diz que para acessar a internet destes ciber-cafés, tem-se que enfrentar filas imensas, que podem levar até três horas de espera. Não é só tempo que se perde tentando acessar a internet em Cuba, os preços pelo acesso são excessivos e levam cerca de um quarto do salário do cubano. Yoani vive uma verdadeira odisséia todos os dias, não só para postar seus textos como para sobreviver.
Peço que ao acessarem o Generacion Y leiam em especial o perfil de Yoani, é uma leitura bastante forte, faz aflorar emoções de muitas espécies. Outra característica que impressiona no blog é a quantidade de postagens encontradas em cada um dos textos, alguns ultrapassam os mil comentários. A qualidade também é a marca destes comentários, muitos deles são verdadeiros textos críticos dialogando com a blogueira. Não é exagero dizer que Yoani inaugurou um modo de usar o blog e de se expressar via internet. O mundo reconhece seu trabalho, atacado pelo governo cubano, em muitos momentos até pelo próprio Fidel Castro. Generacio Y é um marco na reflexão política latino americana. Antes de terminar queremos ressaltar outro trabalho de Yoani o site desdecuba.com que mantêm com um grupo de amigos em Havana. Os links para o blog Generacio Y e o site desdecuba.com podem sem encontrados na sessão de links Sem Papas na Língua do nosso blog Born To Lose.

Confiram a entrevista de Yoani para a revista Veja, o link é:

http://veja.abril.com.br/280508/auto_retrato.shtml

Fidel ataca Caetano Veloso devido seu comentário a texto publicado pelo Generacion Y confiram:

http://www.obraemprogresso.com.br/tag/generacion-y/

quinta-feira, 19 de março de 2009

A entrevista e seus modos de entrevistar


Por Carlos Inácio

Queremos aproveitar o ensejo de publicar em nosso blog uma série de entrevistas com artistas de várias tendências para fazer algumas considerações acerca do que tem sido o ato de entrevistar, ao menos em nosso país, nas grandes instituições de comunicação brasileira, em particular nas emissoras de televisão. A idéia surgiu enquanto assistia uma entrevista do diretor alemão Rainer Werner Fassbinder, que fazia parte do Bônus do seu filme Lili Marlene. Aliás, a entrevista era justamente acerca do lançamento deste mesmo filme se não me engano no ano de 1978.
Assistindo a entrevista acabei me sentindo intimidado pelo modo como a apresentadora formulava as perguntas e mais ainda pelo modo como Fassbinder as recebia e as respondia sem o menor problema. A entrevistadora elaborava suas perguntas colocando o diretor alemão contra a parede, as elaborava a partir do que o diretor respondia naquele momento e não seguindo uma receita de perguntas elaboras previamente. Uma entrevista dinâmica como nunca havia visto antes, em que havia o interesse sincero de explorar todas as possibilidades estéticas tanto da obra, no caso o filme Lili Marlene, quanto das idéias do próprio Fassbinder. Ali aconteceu um debate sincero, sem demagogias e quem assistiu ou assistir essa entrevista realmente saíra com algo na cuca acerca do que foi dito. Não houve promoção do filme, muito menos do diretor. A entrevistadora tinha uma perspectiva própria do que seja o fazer cinema, do que seja arte, que em muitos pontos divergia daquelas do entrevistado. O melhor é que ela se expressava de igual para igual com o Fassbinder.
Terminada a entrevista e deixado o transe de espectador foi que percebi ter sentido aquela sensação de constrangimento acerca do modo como a entrevista foi conduzida. O pior foi ter chegado à conclusão de que só tive tal sensação por estar enquadrado dentro de um formato de entrevista inerente às grandes instituições de massa, que não fazem mais do que apresentar artistas, sejam eles de quaisquer vertentes artísticas, como produtos prontos para o consumo. Essa espécie de entrevista geralmente são feitas em programas de auditório, como Faustão, Hebe e o caralho à quatro e parecem mais um formulário do IBGE. Esses programas não passam de vitrine, uma bolsa de valores do mercado cultural. Fica mais feio esse procedimento em programas como Jô Soares e Altas Horas, que posam de cult, pois recebem artistas cujo trabalho são de grande relevância para a produção artística e intelectual do Brasilde e que no entanto sò reproduzem uma ladainha insossa. O espectador e o artista convidado acabam sendo obrigados a ouvir essa conversa fiada, piadas de papagaio e a mesma pergunta que é dirigida indistintamente a todos os convidados sem levar em consideração suas particularidades artísticas. Claro que existem exceções como o programa Povocações do Antônio Abujamra e o Sem Frescura do Paulo Cezar Peréio, o Ensaio claro, o Conexão Roberto Dávilla ok. Existem estes programas, mas eles orbitam em um espaço quase subterrâneo, pois passam em horários estranhos, que não são fixos e em emissoras cujo sinal só é alcançado por uma antena parabólica ou uma assinatura da Sky.
Podemos tirar de tudo isso que a condução da entrevista deve ser inquiridora, no sentido de trazer à tona o sumo do artista, ou seja, suas idéias mais suculentas aquelas que só podem ser alcançadas por perguntas fortes livres de compromissos comerciais. Tentaremos seguir essa vertente em nossa série de entrevistas, esperamos seguir por caminhos interessantes. É importante a postagem de críticas a respeito das entrevistas publicadas para que possamos melhorar o procedimento de inquirição na entrevista seguinte.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Exame de DNA do Hardcore




Por Carlos Inácio

Caso nos demos ao trabalho de analisar a história do rock´n roll não poderemos nos contentar em ter os anos 50 como marco de seu início e tão pouco considerar músicos como Bill Harley, Elvis Presley e Chuck Berry, apenas para citar alguns desses músicos, como seus genitores. Será preciso regredir um pouco mais até que se alcance o blues. Quem nos dá essa dica não é ninguém menos que o bluesman Willie Dixon, responsável por compor os mais famosos blues da história como Back Door Man, Litle Red Rooster e I´m Hoccie Kochie Man, gravadas à exaustão por quase todos os bluesmen. A dica de Dixon é dada pela seguinte frase “O blues é a raiz de toda música americana, os outros estilos musicais são apenas ramificações dessa raiz”. Desse modo os outros estilos americanos, no caso, o jazz, o country, o folk, o soul, o rithym and blues, o rock e o rap são apenas as partes de uma árvore cuja raiz é o blues.

Contudo, algumas dessas partes da árvore tornaram-se raiz na medida em que geraram novas ramificações. Assim, o jazz criou suas ramificações como o Jazz Tradicional de Nova Orleans, o ragtime, o swing, o bee bop, o cool, o free jazz, o fuzion até se fundir com elementos mais modernos da música como o eletrônico e o rap. O blues, entretanto, está sempre presente nessas ramificações em menor ou maior grau. O fato de ser o jazz uma música de predominância negra mantém forte essa ligação com o blues, expressão máxima da alma do negro norte-americano. Basta procurarmos nas biografias dos grandes músicos do jazz, e claro em sua extensa lista musical, como Charlie Parker, Miles Davis, John Coltrane Billie Holliday para constatarmos o quanto o blues é importante para sua música.

O rock também criou suas ramificações, gerou uma infinidade de variantes, muitas delas difíceis de traçar um perfil exato que as diferencie umas das outras. Ao menos eu tenho essa dificuldade, por exemplo, não consigo distinguir White Metal de Trash Metal. Deixemos essa questão de lado, pois nosso interesse aqui é mostrar que a música americana é um emaranhado de ramificações, cujo ponto de origem é o blues. Do rock primitivo dos anos cinqüenta até o punk rock dos últimos anos da década de setenta tudo pode remeter por um processo genealógico ao blues. Pegue por exemplo os Ramones. É sem dúvida a banda mais importante do Punk Rock, pois acabaram por levar ao extremo aquilo que representaria a estética desse movimento. Os Ramones foram os mais simples, os mais rápidos, os mais bizarros, os mais agressivos, os mais desorientados e os menos “músicos” daquela geração batizada de punks. Apesar de toda essa caracterização bastante peculiar, o som dos Ramones estava carregado de influências de ramificações posteriores do rock, como a surf music, o rockbilly e em alguns momentos da onda iê iê iê.

MC5, The New York Dolls e The Stooges estão ainda mais ligados às origens do rock e conseqüentemente ao blues. Basta manter-se atento aos riffs de guitarra para que perceba a presença marcante do blues em suas músicas. Essas três bandas em particular deram o ponta-pé inicial para aquilo que seria a música punk: letras agressivas, o som sujo e de ritmo rápido. Claro que é possível voltar na história do rock e encontrar bandas que tinham seu estilo musical caracterizado dessa mesma forma. Para não continuarmos sem citar algumas delas: The Sonics, The Throggs e The Who. Contudo o momento a que pertenciam MC5, The New York Dolls e The Stooges, era particular e isso os diferenciava de outras bandas que tinham uma sonoridade que de algum modo lembrava às suas próprias.

O momento a que pertenciam tais bandas e referido acima por mim é o momento que antecede o surgimento dos Ramones. Johnny, Joe, Dee Dee e Tommy ouviam muito The Stooges e The New York Dools e estavam totalmente cativados por aquele som, pra dizer diretamente: pagaram um pau fodido pros caras. A decisão de formar a banda levou àquilo que seria a contribuição definitiva para o punk rock e que seria a motivação para que outros garotos formassem suas bandas e que resultaria “naquilo” que passou a se chamar hardcore. Refiro-me ao fato de nenhum dos quatro garotos saber tocar qualquer tipo de instrumento musical. Chega a ser engraçado o depoimento do Tommy Ramone no documentário definitivo sobre os Ramones End of Century, em que comenta esse fato. Segundo o baterista foi no momento em que se preparavam para realizar o primeiro ensaio da banda que decidiram quem ficaria responsável por tocar este ou aquele instrumento. Essa é a chave para compreendermos o que foi o hardcore e a única via possível que pode vinculá-lo às demais vertentes do rock que o precedeu.

Bom, todo o movimento que fizemos até aqui foi para chegar no depoimento que resultou na inquietação que me levou a escrever este texto, e foi dito pelo ex-vocalista da banda de hardcore de Washington D.C Minor Threat, Ian Mackaye. Ian diz no excelente documentário sobre o hardcore intitulado American Hardcore: The Story of America Punk Rock que o hardcore é um estilo musical que em nada se assemelha, musicalmente falando, com seus antepassados musicais. Como disse, o único vínculo existente é a atitude dos Ramones de fazer música tendo somente a vontade como instrumento e que os levaram a querer tocar mesmo sem ter o mínimo de conhecimento musical para tocar. Quando num ensaio da banda pedem ao Dee Dee Ramone para dar um E (mi) o “baixista” solta um sorriso amarelo do tipo “que bicho é esse?”. Foi essa atitude que fez com que os adolescentes, muitos com idade entre 15 e 16 anos, a formarem suas bandas e produzirem um som totalmente novo e que apenas com um exame de DNA pode ter atestada sua paternidade.
O que parecia impossível acabou por tornar-se possível, o nível de rapidez Ramone no tocar fora quebrado e conseqüentemente levou a uma diminuição do tempo de duração das músicas. Também a agressividade dos vocais aumentou de forma absurda a ponto de criar uma unidade quase indissociável com a base instrumental. Os adolescentes da Califórnia criaram uma anomalia quebrando com a firme ramificação que ligava toda a música americana à sua raiz, o blues. Ouvir uma música como Gimme, Gimme, Gimme do Black Flag é uma experiência desconcertante para quem pela primeira vez se depara com a sonoridade do hardcore. Para um estudioso da música ou da história da música esse desconcerto é ainda maior, provavelmente a sensação dessa pessoa é estar de frente a um extra-terrestre. Parece-me, como conhecedor superficial de teoria musical, impossível realizar uma análise teórica dessa música. Ela não se compõe de elementos musicais que formam a base harmônica da música compreendida em sua forma tradicional. Parece-me que sem o saber esses meninos fizeram algo que os músicos clássicos da vanguarda erudita do século XX realizaram ao criarem com o dodecafonismo uma escrita musical que comportasse aqueles novos sons a que haviam chegado. Para que houvesse algum registro escrito de tais composições foi preciso criar uma notação musical baseada em doze notas e que comportavam além do tom e semi tom o micro tom, que seria o resultado da divisão do semi-tom. O hardcore opera algo semelhante ao combinar de modo anacrônico os diferentes instrumentos. Não há um padrão harmônico como no blues, no jazz e no rock de modo geral que permite ao músico improvisar criando variantes melódicas do tema principal. O efeito sonoro nesse caso é bastante agradável e transmite ao ouvinte uma viagem introspectiva. O hardcore não possui base harmônica, é a junção instintiva dos sons próprios a cada instrumento utilizado, não há percepção de detalhes na musica, simplesmente porque não existem detalhes. As músicas são torrentes de violência, o som uma pancada direta e aguda no cérebro.
Todas essas características corroboram o depoimento de Ian Mackaye e o hardcore acaba sendo a trilha sonora de um rito tribal primitivo que nasce no auge da civilização hi-tec, a expressão anômala de uma tradição musical enraizada no blues, na cultura negra norte-americana.

Para maiores detalhes sobre a história do Punk Rock e do Hardcore,

Ler: Mate-me Por Favor de Legs Macneil e Gillian Mccain, editora L&PM
Assistir: The Story of The Ramones: End of Century
Ramones Raw
American Hardcore: The Story of America Punk Rock
Punk Rock Not Die
Botinada: A Origem do Punk no Brasil
Ouvir: Ramones, Circle Jerks, Black Flag, Minor Threat, Dead Kenneds, Bad Brains, Buzzcoks, Dead Boys, The Stooges, Iggy Pop, MC5, The New York Dools, The Sex Pistols, The Dammed, The Toy Dolls, The Clash, Husker Du, Guitar Wolf, Tiger Army, The Jinx, MinutMen, New Race, Patti Smith, 7 Seconds, Misfists, Danzing, Agent Orange, Força Macabra, Inkisição, Pé de Cabra, Mata Ratos, Garotos Podres, Ratos de Porão, Agrotóxico, Cólera, Mercenárias, Olho Seco, Replicantes, Inocentes, etc.