sábado, 25 de abril de 2009

Luis Henrique Tozo e as realidades possíveis

I

A presença maciça da tecnologia, principalmente a tecnologia digital, tem alterado violentamente a maneira como entendemos aquilo que denominamos “realidade”. Aceitando que conhecemos o mundo apenas através dos sentidos, então é possível afirmar que o conhecimento adquirido por meio deles possui caráter perceptivo e a representação deste mundo se dá pelas percepções colhidas via sentidos. Assim aquilo que chamamos realidade, não é mais do que um conjunto de percepções e não os fenômenos eles mesmos. Para ser mais preciso: quando olhamos pela janela à noite e vemos a lua no céu, não vemos a lua ela mesma, mas apenas uma percepção da lua. Estou tentando aqui aplicar o princípio empirista de David Hume, o qual sentencia que para toda idéia presente na mente há uma impressão responsável por gerá-la. Segundo Hume, tanto impressão quanto idéia são percepções, ou seja, tudo que existe em nossa mente, tudo o que sentimos através dos sentidos são percepções. Portanto, quando vemos a lua pela janela à noite, não vemos a lua ela mesma, mas a impressão da lua naquele momento, e quando lembramos daquele momento, não fazemos mais do que consultar a idéia referente àquele momento em que olhávamos para a lua no céu.
Esse pequeno recuo ao empirismo humeano não é gratuito, pretendo com isso mostrar que se tudo que conhecemos são percepções, e num primeiro momento entramos em contato com as impressões das coisas através dos sentidos, aquilo que chamamos de “realidade” não passa de percepções presentes na mente. Uma vez que captamos a “realidade” por meio dos sentidos, qualquer alteração sensorial nos apresentará a “realidade” de outra maneira, ou ainda, nos apresentará outra “realidade”. Dito isto podemos voltar à questão dos avanços tecnológicos e sua relação com a arte.

II

Quando a fotografia surgiu, tornou obsoleta a expressão da pintura através de uma técnica que buscava reproduzir com perfeição a “natureza”. Não havia sentido retratar uma paisagem ou uma pessoa, uma vez que este objetivo era alcançado com perfeição por este novo instrumento chamado máquina fotográfica. Houve então, o rompimento do artista com a natureza. A arte deveria neste momento explorar outros universos, deveria se voltar para aquilo que representava o rompimento com a natureza, ou seja, a substituição de nossas capacidades naturais de interagir com o mundo, de conhecê-lo, de percebê-lo, pelas novas capacidades que nós humanos estávamos adquirindo, quais sejam, as de conhecer, perceber e interagir com o mundo através de instrumentos que simulavam ou mesmo aumentavam os poderes dos nossos sentidos.
Alterados os poderes de nossos sentidos, alterou-se também a maneira como as percepções chegam à nossa mente, ou seja, considerando junto com Hume que não conhecemos mais que percepções, temos alteradas também a “realidade”, esta sempre de caráter perceptivo. O “real” ganha novas dimensões. A revolução digital alterou o modo como apreendemos o mundo, os detalhes que não podem ser percebidos a olho nu são alcançados sem maiores problemas pelo uso de máquinas digitais potentes, microscópios com poder de aumento impensável pelo homem comum, telescópios que alcançam distâncias apenas concebidas pelo uso da imaginação. A realidade com a qual passamos a nos confrontar está muito além daquela realidade percebida pelos sentidos sozinhos. As “próteses”, que são estes instrumentos responsáveis por aumentar a potência de nossos sentidos, levam-nos a uma realidade alternativa, uma espécie de “super-realidade”.
Estas transformações são um prato cheio para as artes visuais, que explorando estas novas possibilidades de construção da experiência estética, nos apresentam imagens fantásticas, possíveis apenas pelo uso criativo e expressivo do artista, que faz de algo frio e de uso específico, como são os instrumentos tecnológicos, meios pelos quais atingimos fins que colocam em evidência o potencial expressivo destas novas tecnologias.

III

Todas estas considerações acerca da relação entre arte e as novas tecnologias, tem como objetivo apresentar o trabalho do artista visual Luiz Henrique, Tozin para os amigos, que será nosso entrevistado do mês de maio aqui no Born To Lose. Tozin, assim como todos os nossos entrevistados, enveredou pelos caminhos da arte atendendo um chamado pessoal, uma necessidade tão aguda quanto o próprio ato de respirar, a necessidade de se relacionar com o mundo de maneira a privilegiar, ao menos para si mesmo, as questões que lhe afligiam. Instintivamente, podemos dizer, procurou os meios de saciar esta necessidade, foi assim que as artes visuais entraram em sua vida.
Trabalhar com artes visuais significa assenhorear-se de determinadas técnicas próprias à linguagem das artes visuais, portanto, ligadas à fotografia, ao vídeo, à computação gráfica, etc, bem como ter à disposição os instrumentos necessários à produção artística desta vertente, como máquinas fotográficas, um estúdio de trabalho, um computador de ponta, câmeras de vídeo, dentre outras coisas. Dá pra ver que não é barato ser um artista visual né não? Contudo, como todo bom artista, qual seja, aquele que procura de todas as maneiras satisfazer sua necessidade de expressão, Tozin iniciou seu trabalho através da câmera de seu celular: os resultados são surpreendentes! Não há exageros nesta exclamação, confiram com os próprios olhos algumas fotos feitas pelo artista com sua câmera de celular.








Tozin desbravou seu caminho de facão na mão e muita vontade dentro de si. Suas fotos nos oferecem uma realidade perceptiva diversa, que não pode ser percebida a olho nus. O uso da tecnologia como expressão artística é feito de modo bastante criativo por Tozin e sua fome por novas “realidades” não param por aí, confiram a entrevista que o artista gentilmente nos concedeu no próximo dia dez aqui neste mesmo blog. Então até lá meus amigos.

Querem conhecer um poco mais do trabalho de Luis Henrique Tozo, acessem seu blog, o endereço é http://umacoisafacil.blogspot.com/.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Entrevista com a Artista Plástica Paula Inácio


Born To Lose – A primeira pergunta é uma espécie de ritual, ela será a primeira não só de sua entrevista, mas de todas as outras. O que você entende por arte, qual sua concepção particular do que seja arte? Seja o mais subjetiva possível.

Paula Inácio –
Caramba! Estremeço um pouco frente a perguntas o que é, mas como a resposta pode ser bem subjetiva, vamos la! A arte é algo que me toca, por exemplo, quando estou desenhando, sinto uma vontade enorme de chorar e ao mesmo tempo de sorrir, ao escutar uma música que muito aprecio o mesmo sentimento me invade, é um sentimento tão intenso que gosto de experimentar sozinha, não quero ninguém por perto. O mesmo acontece com a literatura, tem livros, poesias, que nos acontecem, que são inseparáveis de nós, caminham conosco, então a arte, no meu entendimento, é essa experiência bem singular, que nos tira um pouco do ter que fazer, ter que ser diário e nos faz sentir angústia, alegria...

Born To Lose –
Seus trabalhos com desenho apresentam uma característica bastante particular, seus traços expressam um modo próprio de constituição das imagens. Em alguns desenhos pode-se notar o uso de um instrumento não usual entre os desenhistas, que é aquela caneta de três cores da bic. O modo como faz seus desenhos tem alguma influência específica, você pensou primeiramente num modo de desenhar para em seguida partir para a prática? Como surgiu a idéia de usar a caneta de três cores em seus desenhos?

Paula Inácio –
Sim, as canetas! Na verdade não foi programado, mas aconteceu. Antes delas, fazia esboços com lápis e em seguida utilizava a tinta. Porém, quando fui morar em Salvador, em 2005, não tinha espaço nem condições de pintar, e o único material que tinha disponível eram as canetas. Inicialmente comecei a experimentar com canetas azuis e pretas, e percebi que conseguia fazer efeitos e traços diferentes, que até então não tinha experimentado. Foi um período em que desenhava freneticamente, sempre estava rabiscando algo. Então comecei a ir às papelarias e comprar canetas de cores e pontas variadas, bem como papéis de diferentes cores e texturas. Gostei dos efeitos e acho que meus desenhos ficaram mais nítidos a partir de então. Até hoje as utilizo!

Born To Lose – Na verdade você respondeu apenas parte da pergunta. (rs) Você ficou nos devendo uma resposta para a outra parte da pergunta a respeito das influências sobre seu modo de desenhar: elas existem ou não? Ainda há uma terceira parte se prestarmos atenção. (rs) Houve uma reflexão previa de como você deveria desenhar?
Paula Inácio – É verdade! Então, penso que a influência primordial, ou o que me levou a desenhar, foi a convivência com meu pai e todo o ambiente que ele me proporcionou. Meu pai chama-se Antônio Inácio e o considero um grande escultor! Além das esculturas ele também desenha, quando criança, sempre encontrava desenhos dele dentro de alguns livros e até hoje os encontro. Esses desenhos são feitos à caneta e em pequenos pedaços de papel. Além disso, ele sempre nos proporcionou um ambiente que considero experimental, por que crescemos em meio a livros de arte, desenho, tintas, músicas, e tudo sempre a nossa disposição. Acredito que essa foi a influência primeira. Apesar de não ser estudiosa da pintura, um artista que gosto muito de apreciar as imagens é o Miró, me identifico bastante com sua obra. Em relação se houve ou não reflexão previa de como desenhar, não houve e até hoje não tem. Quando começo a desenhar não pré-defino o que vou desenhar, começo com um traço primeiro e a partir dele as possibilidades de construção de formas e imagens vão surgindo, são inúmeras possibilidades, mas apenas uma se delineia! Apesar do que, se observarmos há determinadas imagens que são constantes, mas os desenhos vão sempre se modificando. Tenho muita dificuldade, por exemplo, de representar uma determinada figura, ou desenhar algo em um sentido já orientado.

Born To Lose –
Considero esse um ponto forte de seu estilo. O fato de não ter estudado para pintar e desenhar, o que talvez lhe permitisse suprir essa dificuldade que você aponta de não conseguir reproduzir imagens, como retratos ou mesmo outros desenhos. O seu caso me parece o oposto daquele de Picasso que era um exímio retratista e usou dessa técnica, de um estudo rigoroso para chegar ao cubismo, que a um leigo pareceria algo feito por alguém com dificuldades em desenhar com perfeição. No seu caso a necessidade de desenhar parece se impor e meio que instintivamente você é levada a traçar suas telas, suprimindo as deficiências de ordem técnica. Levando em conta essas considerações, você acha que seria um exagero de minha parte dizer que o seu trabalho traz uma expressão artística original? Sem modéstia, por favor. rs

Paula Inácio –
Se formos analisar desta forma parece que sim, até então não tinha pensado sobre isso. Realmente nunca estudei desenho, técnicas de desenho, mas, no entanto, desenho. E, como você disse muito bem, é uma necessidade que sinto e a partir disso os traços vão surgindo.

Born To Lose – Esta talvez seja uma pergunta mais difícil de responder porque pega por um viés mais pessoal. Você é formada em pedagogia pela Universidade Federal de Viçosa, faz mestrado pela Universidade Federal Fluminense e é pedagoga da rede municipal de ensino de Cabo Frio – RJ. O que levou você a estudar pedagogia? Porque não procurou fazer o curso de artes plásticas, por exemplo?
Paula Inácio - Realmente é uma pergunta um pouco difícil..rs Bom, quando terminei o ensino médio, não tinha perspectivas do que gostaria de estudar, ou aprender profissionalmente, e o desenho ainda não se delineava como uma possibilidade concreta de estudo. Cursei pedagogia porque, dos cursos que a UFV oferecia na época, era o que eu achava possível de fazer. Confesso que hoje, apesar de atuar na profissão, não consigo me identificar com a atuação de um pedagogo na escola. Em relação ao curso de artes plásticas é aquilo mesmo, comecei a desenhar sem finalidades maiores, à medida que os desenhos se desenvolveram percebi que seria interessante estudar a história da arte, as técnicas de desenho e pintura, porém, já estava cursando a pedagogia e não tive ousadia de interromper o curso. Atualmente tenho vontade de aprender técnicas e instrumentos diferentes, devido às possibilidades de recursos que poderei utilizar para criar os meus desenhos. Hoje sinto mais essa necessidade do que quando comecei a desenhar.

Born To Lose –
Bem, você tem algum projeto artístico em mente, como está sua produção artística atual?

Paula Inácio -
Então, confesso que atualmente estou produzindo pouco e, por enquanto, não tenho nenhum projeto em mente. Tenho perspectivas de retomar assim que possível, mas por enquanto tenho desenhando bem esporadicamente.

Visitem o blog Curvas e Retas e conheçam mais sobre o trabalho da artista Paula Inácio. O link é http://curvaseretas.blogspot.com/.



domingo, 5 de abril de 2009

Uma outra perspectiva acerca da imprensa cubana?




Nos últimos dias vocês acompanharam textos divergentes a respeito da condição política e social em Cuba. Tudo isso por eu ter postado um texto comentando um blog da filóloga cubana Yoani Sanches, Generacion Y. Meu caro amigo Rogério Saraiva escreveu alguns comentários que tentam mostrar o quão equivocada é esta visão passada pela cubana em seu blog. Postamos aqui no texto Generacion Y: Uma nova revoluçao cubana o link do blog Generacion Y e também a entrevista cedida à revista Veja pela Yoani. Como não queremos aqui fazer juízo de valores, colocamos a disposição dos leitores o site mineiro Soy Cuba Soy Minas Gerais, que reforçam o ponto de vista exposto por Rogério Saraiva em suas observações.

o link é http://soycubasoyminasgerais.blog.com/. Leiam, é uma outra perspectiva acerca da imprensa cubana, bastante diferente daquala passada pela Yoani Sanches e que pode permitir ao leitor que se interessou por essa questao cubana a conhecer melhor a condicao política e social daquele país. Desejo a todos uma boa pesquisa!

Volto e passo a vocês mais dois links presentes no blog o Pensador da Aldeia escrito pelo professor Pedro Jonas de Lima Piva. Ele argumenta contra Generacion Y e procura mostrar de forma bastante lúcida e com argumentação direta e seca as contradições presentes nas críticas feitas ao governo cubano. Além destes textos que podem ser encontrados através dos links abaixo, existem outros sobre as relacçoes entre Cuba e Estados Unidos e outros temas ligados à política nacional. Vale a pena conferir.

http://opensadordaaldeia.blogspot.com/2009/04/obama-o-degelo-da-ditadura-norte.html

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Nova Revolução Cubana, será?


Esta é uma segunda postagem do texto divulgado no blog no final de março, em que falava do blog da cubana Yoani Sanches. Resolvi postar novamente o texto agora com comentários de Rogério Saraiva contrário a tudo o que foi dito por mim no texto sobre a blogueira. Ele passou um mês e nao uma semana como eu havia dito em resposta a sua primeira postagem, em Cuba e mostra uma imagem bastante diferente daquelas transmitidas por todos os meios de comunicaçâo, de que nâo há regime autoritário em Cuba e que a maior parte da população está feliz da maneira como está vivendo. Contudo nao podemos esquecer questões factuai como a fuga em massa de cubanos para Cuba, e muitos cubanos que demonstram insatisfaçao com o regime cubano, como os músicos cubanos que vieram fazer shows no Nordeste do Brasil e não voltaram para Cuba por nao estarem satisfeitos com a condição de seu país, ou como musicos como Ibrahim Ferrer e Compai Segundo que passaram quase toda a vida enrolando charutos e somente no final da vida tiveram o devido reconhecimento por sua música. Contudo meu querido amigo Rogério fala com conhecimenento de fato,foi a Cuba e viveu um pouco do cotidiano cubano. Porém o conhecimento de fato só é o bastante para aquele que viveu a experiencia, e quando emprega num debate pode tomar contornos de um apelo a autoridade. Assim, uma vivencia só tem força para aquele que a viveu, para os outros que escutam seu relato tem apenas a força de um relato. Portanto amigos leiamos, pesquisemos e procuremos ahcar nossas proprias conclusoes.

Lendo uma das edições eletrônicas da revista Piauí, deparei-me com uma reportagem cujo conteúdo assumiu ares de descoberta. O tema era a filóloga cubana Yoani Sanches, que em 2008 esteve na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo divulgada pela revista norte-americana Times.
O “poder” desta cubana franzina não vem da construção de relações dentro da política internacional, ela não é uma mega empresária cuja empresa possui filiais em todo mundo e nem possui um botão em seu apartamento com o qual pode ativar o lançamento de todo arsenal atômico americano e russo. A influência de Yoani se dá no campo das idéias. Não queridos amigos, ela não possui nenhum cargo entre os “homens de confiança” de Fidel, nem é jornalista, muito menos escreve para qualquer veículo de comunicação de grande porte. Yoani expressa suas idéias através de um instrumento usado por milhares de adolescentes de todo mundo, o blog. Ela transformou esse espaço que serve a muitos como simples agenda pública num instrumento de questionamento e reflexão, que tem colocado os governantes cubanos de cabelo em pé, ao menos o pouco de cabelo que ainda tem.
Quase diariamente são publicados textos em seu blog Generacion Y, que discutem questões referentes à realidade do povo cubano. Seu discurso é direto sem perder a elegância. As pessoas que mantêm blogs por aqui podem se admirar por alguém conseguir manter um fluxo de textos, mas pelo motivo errado. Ficarmos admirados com a produtividade de Yoani é ficar admirado pelo motivo errado, pois em Havana a internet é proibida à população, seu uso é restrito ao alto escalão do governo cubano. Existem apenas dois ciber-cafés na capital da Ilha e além destes dois locais, internet apenas nos hotéis. Em entrevista concedida à revista Veja a filóloga diz que para acessar a internet destes ciber-cafés, tem-se que enfrentar filas imensas, que podem levar até três horas de espera. Não é só tempo que se perde tentando acessar a internet em Cuba, os preços pelo acesso são excessivos e levam cerca de um quarto do salário do cubano. Yoani vive uma verdadeira odisséia todos os dias, não só para postar seus textos como para sobreviver.
Peço que ao acessarem o Generacion Y leiam em especial o perfil de Yoani, é uma leitura bastante forte, faz aflorar emoções de muitas espécies. Outra característica que impressiona no blog é a quantidade de postagens encontradas em cada um dos textos, alguns ultrapassam os mil comentários. A qualidade também é a marca destes comentários, muitos deles são verdadeiros textos críticos dialogando com a blogueira. Não é exagero dizer que Yoani inaugurou um modo de usar o blog e de se expressar via internet. O mundo reconhece seu trabalho, atacado pelo governo cubano, em muitos momentos até pelo próprio Fidel Castro. Generacio Y é um marco na reflexão política latino americana. Antes de terminar queremos ressaltar outro trabalho de Yoani o site desdecuba.com que mantêm com um grupo de amigos em Havana. Os links para o blog Generacio Y e o site desdecuba.com podem sem encontrados na sessão de links Sem Papas na Língua do nosso blog Born To Lose.

Confiram a entrevista de Yoani para a revista Veja, o link é:

http://veja.abril.com.br/280508/auto_retrato.shtml

Fidel ataca Caetano Veloso devido seu comentário a texto publicado pelo Generacion Y confiram:

http://www.obraemprogresso.com.br/tag/generacion-y/
Postado por Carlos Inácio Coelho Neto às 16:11
3 comentários:

Rogério Saraiva disse...

Meu caro amigo,

visitei o blog desta senhorita e não estou de acordo com as palavras dela. Como você mesmo sabe, tive o prazer de ficar um mês em Cuba no começo deste ano e o que mais se falava lá era sobre a abertura do governo dos EUA à Cuba e de cara, vejo palavras tendenciosas logo no primeiro/último post da Yoani. Como ela disse "Os jornalistas andam absortos em outros temas: a colheita de batatas, o mundial de beisebol, a revolução bolivariana e - está claro - os festejos pelo dia da imprensa cubana." é uma verdadeira mentira. Ao chegar em Cuba, fiquei até mesmo puto, pois não tinha nenhum festejo dos 50 anos de Revolução, tanto em Havana, quanto nas cidades interioranas. Tive o prazer de trazer muitos jornais/periódicos cubanos, desde do meio do ano passado ate os dias que estava lá e em todos, notícias importantes sobre o embargo e sua abertura.

Discordo de você quanto ao conteúdo do blog dela, pra mim é de baixo conteúdo, pois ataca algo ao governo cubano que é inverídico. Não vi por exemplo, críticas a burocracia que o Estado exerce, os três problemas, alimentação, moradia e transporte que o Estado não consegue resolver e etc. Problemas que você encontra até sob tese de doutorado, a qual comprei por 50 centavos numa livraria em Havana e de alta qualidade.
2 de Abril de 2009 09:43
Carlos Inácio Coelho Neto disse...

Existem posts bem anteriores em que ela trata deste tema. Uma coisa é visitar um país, outra é viver nesse país, ainda mais sobre um regime autoritário. Muitas questoes colocadas pela Yoáni referem-se ao direito de se expressar livremente, coisa que o governo cubano nao permite, o proprio Fidel Castro deu ordem de nao deixá-la sair do pais. Isso meu caro é fato. Vai me dizer que nao há um controle do governo sobre o que se escreve nos jornais de Cuba? Vai me dizer que não há ditadura, que o direito de ir e vir das pessoas nao é vetado? Tudo bem você achar que Cuba é o paraíso passndo uma semana lá e baseado nesta experiencia discordar do que a Yoani diz, contudo acho um pouco pretencioso dizer que o conteudo do blog é de baixa qualidade. Isso Rogério, percebe-se facilmente que nao é, basta ler os textos desarmado, sem conceitos prévios, pra nao dizer pre conceitos. Pode ser que ela nao expresse a opiniao da maioria da populaçao cubana, mas ela tem a visao dela, aquelka condicao de vida nao a satisfaz portanto ela pode expressar sua insatisfaçao. E claro, é perfeitamente possivel argumentar contra o que ela diz, contestar linha por linha, o que nao pode é fazer juizo de valor.

Gostei da postagem, botou lenha na fogueira. rs.
2 de Abril de 2009 12:22
Rogério Saraiva disse...

Não passei uma semana, passei um mês a qual tive a oportunidade de fazer três cursos, um congresso, de ir em 5 cidades cubanas, visitar escolas, centros culturais, pontos turísticos, Ministérios do governo a qual fui muito bem recebido e o mais importante, muitas casas de cubanos, que inclusive a família que mais gostei, me convidaram para o seu casamento e pode-se encontrar fotos deles em meu orkut, onde também mantemos contato via telefone e e-mail. Em Cuba tive a oportunidade de participar de manifestações contra o sionismo de Israel e a favor da Palestina, um ato maravilhoso que realmente você via a indignação dos cubanos em relação ao conflito. Alguns dias depois, vi alguns cubanos na rua gritando abaixo o comunismo, abaixo fidel, fidel é viado e etc. Fiquei abismado, pois os policiais que se encontravam perto dali, nao fizeram absolutamente nada, muito pelo contrário, até viraram o rosto; aliás, você quase não vai ver policiais em qualquer cidade em cuba, até na capital Havana.

Existem milhares de jornais em Cuba e repito, trouxe alguns comigo, onde pode se ver críticas ferozes ao governo, principalmente o jornal "jeventude rebelde". Também trouxe revistas maravilhosas a preço menos que banana, que os próprios estudiosos cubanos encaram pau a pau os problemas do Estado. Essas revistas se chamam "Casa" e "Caminos", onde vc encontra textos de Saramago, Emir Sader, Boaventura de Souza Cruz, Paulo Freire e muitos outros.

Qualquer cubano tem o direito de ir e vir! Isso já está mais que saturado em Cuba. Só oficiais das Forças Armadas que não podem sair do país. Quando você pra outro país, é este que deve aceitá-lo ou não e não o seu país de origem. Isso se chama concessão e muitos países não aceitam os cubanos, pois eles são mão de obra altamente qualificada e poderiam ser eventuais imigrantes.

O Estado é o maior subsidiário de tudo que envolve publicações literárias, acadêmicas e jornalísticas, isso não significa dizer que é o único. O Estado por exemplo, não quis publicar um autor chamado Gutierrez, a qual tive o prazer de ler e pra mim é o segundo Paulo Coelho, por concluir que a escrita dele não tem representatividade nenhuma e certamente Paulo Coelho não seria publicado lá também. Esse autor simplesmente conseguiu apoio estrangeiro e de seu bolso e publicou seus livros. Você pode encontrá-los aqui ou lá. Acontece que lá, ele quase não é lido não pq o governo não quer, os próprios cubanos não desejam.

Digo de baixa qualidade, por representar um conteúdo tendencioso e tacanho. Posso informar duas autoras qualificadas, gabaritadas que destroem muito mais o governo cubano ao que parece que essa garota quer, com muito mais classe, estudos, fundamentos, sem fazer nenhum discurso tendencioso. Os nomes dela são María Isabel Romero e Ania Mirabal.

Ao pesquisar sobre essa garota com amigos que moram em Cuba, eles disseram que todos sabem da história dessa garota e que ela recebe uma boa grana em sua conta bancária daqueles que ficam solidários à sua causa e ela nunca foi proíbida por ninguém de sair de Cuba! Aliás, uma opinião minha, seria muito mais fácil conviver com alguém que te xinga, longe do morando na mesma casa.


E claro, ela pode se manifestar quando quiser, não é o que ela está fazendo? Se o Estado Cubano fosse tão autoritário assim, já tinham cortado a internet dela e mandado-a para o paredão.

Em Defesa de Kill Bil, Primeira Parte


O cinema é o irmão caçula das demais formas de arte, seu registro de nascimento foi lavrado entre as primeiras décadas do século XX. Esse fato distancia a sétima arte de suas irmãs mais velhas, que surgidas no período clássico da civilização ocidental puderam vivênciar, participar e sofrer suas tranformações no seio das mais diversas sociedades. O cinema ao contrário se vincula apenas à sociedade de massa formada ao longo do século XX e que aponta para uma nova metamorfose no século XXI. Portanto, o cinema se transforma intimamente ligado a essa etapa do capitalismo, em que tudo se volta quase que necessariamente ao consumo extremado. E a meu ver existe apenas um critério nesse contexto de consumismo desenfreado que permite determinar o que é fruto da arte e o que é fruto da indústria pura e simplesmente: saber se o resultado de um dos sete campos da arte é ou não puro entretenimento.
O entretenimento é apenas uma das facetas da sociedade de massa a qual disseminou suas raízes pelos sete campos da arte tal qual um musgo que se lança sobre uma parede ou uma rocha. Desse modo, a indústria do entretenimento atua com o objetivo de transformar as obras de arte em produto de consumo a ser oferecido nas prateleiras das lojas de departamento mundo afora. Podemos então, a partir do que até aqui foi dito, considerar estarmos no limite do que pode ser considerado obra de arte e o que não passa de objeto de consumo. Embora a obra de arte possa ser consumida ela não possui apenas essa característica, ela não é apenas produto, ela também é arte. Ocorre o contrário com aquilo que é apenas produto e que é vinculado à arte pelo simples fato de possuir um determinado formato, assim, a banda Calypso embora seja apenas produto de consumo é chamado de música, ou seja, uma das expressões da arte, por ter características musicais. O mesmo se aplica à literatura, cinema, etc. Para que sejamos mais claros afirmaremos de maneira direta e incisiva que a banda Calypso não é música porque é entretenimento puro.
O cinema está imerso nesse contexto mais do que qualquer outra forma de arte porque sua transformação ocorre simultaneamente às transformações da sociedade em que foi gestado. Assim, lançamos as seguintes questões: o que um filme deve ter para ser considerado obra de arte? Basta ser feito sem patrocínio, sem o apoio de um grande estúdio, estar fora de Hollywood? Como identificar se um filme é entretenimento ou não? Quando ele é experimental é arte, quando é dinâmico é entretenimento? A questão fundamental nesse caso é saber se um filme é entretenimento puro e quando possui algo mais, quer dizer, quando permite reflexões, quando produz mudanças perceptivas, quando altera nosso humor, nossas emoções e por aí vai. Essas questões ficam mais difíceis quando dirigidas a um modo particular de fazer cinema, o modo de fazer cinema de Quentin Tarantino. A discussão aqui abordada gira em torno de um filme específico: Kill Bill. Quando nos referirmos a Kill Bill nos referimos aos dois filmes conjuntamente, como uma única obra.
Para alguns este filme não passa de mais uma produção hollywoodiana, sem qualquer relação com uma perspectiva estética em sentido forte, ou seja, é uma bosta completa, pra falar de modo literal. Por isso mesmo deveria ser relegado, juntamente com seu diretor, Quentin Tarantino, ao círculo das mega produções bancadas pelos grandes estúdios cinematográficos cujo único fim é o lucro certo arrecadado através das bilheterias pelo mundo.
Permitimo-nos discordar dessa posição um tanto quanto apressada, simplesmente porque acusar Kill Bill de hollywoodianismo, o que é o mesmo que considerá-lo puro entretenimento, é uma atitude um tanto quanto anacrônica. Entendemos o termo hollywoodiano como definição de uma espécie de filme de contexto comercial, a forma pura do entretenimento, e nesse caso entenda-se como a reprodução de um padrão de composição do filme (montagem, roteiro, locação, a maneira como as cenas são filmadas, etc.), o que significa seguir um tipo de padrão estético a ser consumido nas prateleiras de locadoras, cinemas e lojas de departamento. O filme nesse caso não consegue ser algo além de um produto a ser consumido. Para fazer um filme dessa espécie basta grana e seguir uma determinada receita. Outro ponto se refere à alienação do diretor e da produção às exigências dos grandes estúdios que os financiam. Queremos defender o filme dessa acusação e mostrar que Kill Bill não se enquadra em nenhuma dessas características expostas do termo hollywoodiano. Finalmente afirmamos ser anacrônica a comparação entre Quentin Tarantino e Jean Luc Godard, que faz parte do seu segundo ataque, caro amigo, ao Kill Bill.

I
Quentin Tarantino insere-se numa tradição cinematográfica diretamente associada à consolidação dos grandes estúdios cinematográfico e da indústria do cinema representada por Hollywood. Essa é a maneira americana de se fazer cinema e a maior parte dos grandes diretores americanos esteve dentro desse contexto. Citamos entre estes os nomes de Stanley Kubrick, Orson Wells, Francis Ford Coppola, Martin Scorcese, Oliver Stone, entre outros. Todos esses diretores ao filmarem seus grandes filmes estiveram sempre vinculados a algum estúdio de Hollywood. Aqui registramos um fato que não impede a criação de filmes que sejam verdadeiras obras de arte, citemos os casos de Spartacus, a trilogia doe O Poderoso Chefão, Cidadão Kane, Touro Indomável, Platoon, todos filmes de alto teor hollywoodiano.
Fazer um filme sob a regência de um estúdio de Hollywood não faz do filme hollywoodiano, ao menos no sentido exposto logo no início desse texto. Kill Bill é um filme de ação recheado de clichês próprios dos filmes comerciais e realmente poderia levar o espectador distraído ou o cinéfilo obcecado pelo plano teórico a desprezar as características particulares do filme e considerá-lo como mais um entre tantos outros filmes de ação existentes. Contudo, Kill Bill encontra-se fora dos limites que abrigam a definição de filme comercial de ação. Isso porque o roteiro não é pré fabricado, há uma intenção por traz de cada cena feita que busca satisfazer as expectativas estéticas do diretor ao mesmo tempo que estabelece um formato que imprime no espectador uma percepção própria do que acontece na tela, destacamos o método de montagem não linear do filme, característica particular de seu diretor. E não só isso mas o fato de estarem em conjunto no filme uma série de linguagens que se coadunam e deslocam o espectador para uma outra maneira de se perceber as cenas de ação. A violência exposta durante Kill Bill não é gratuita, pois serve ao próposito principal do roteiro que é a vingança da Noiva. Cada morte produzida pelo aço da espada Hatori Hanzo da Noiva representa a proximidade de ter saciado o desejo de vingança.
Contudo o desejo de vingança presente em Kill Bill não é aquele desejo banal e muitas vezes sem sentido, enfim, uma justificação para as medidas extremas tomadas pela noiva. Não há questão moral no sentido de que a Noiva é um personagem de bom caráter que é levada à adotar medidas violentas para realizar uma boa ação. A Noiva é motivada pela desejo de vingança sem haver qualquer questão moral envolvida. Existe apenas a violência resultado de um sentimento de vingança. A cena da luta com os Oitenta e Oito Loucos ilustra bem essa perspectiva. A violência se faz presente em estado absoluto e aquilo que é a Noiva e seus adversário desaparece dando lugar àquilo que poderia ser considerado a imagem da vilência, seu rosto, sua face. Por isso a necessidade de uma luta envolvendo tantas pessoas, aquilo que são os idíduos desaparece dando lugar a uma totalidade, à materialização da violência. Assim como ocorre em uma batalha entre exércitos da antiguidade, o nùmero de participantes é tão grande que deixamos de ver indíviduos para ver uma enorme entidade que se forma.
Nessa seqüência de cenas em particular a violência é liberada pelo desejo de matar não os Oitenta e Oito Loucos, mas sua líder, O-Ren-Ishi. Para matar O-Ren é preciso antes matar seus capangas. A Noiva è uma espécie de Hércules às avessas. Ao contrário do mitológico herói grego a Noiva vence seus obstáculos na procura de fazer vingança. Outro ponto que devemos destacar com relação à noção de vingança em Kill Bill se refere à satisfação de um desejo pessoal, enquanto na maior parte dos filmes-receita de ação a motivação da vingança é um desejo de se fazer justiça. Isso porque quase sempre o foco da ação que dá origem à vingança é outra pessoa, geralmente a filhinha, a esposa, os pais ou os amigos, e não o vingador. Em Kill Bill é isso que acontece, a vingança da noiva não vai além disso, não há nada que enobreça essa vingança.
A história é contada de modo fragmentado e as peças se encaixam formando sua totalidade a medida que o filme se desenrola. Não há como saber o que acontecerá na cena a seguir. O espectador é preso ao filme inicialmente pelo simples fato de se encontrar confuso quanto aos acontecimentos, pois não consegue traçar uma linha interpretativa para os acontecimento e nesse sentido a vingança deixa de ser a vingança comum aos filmes de ação. O espectador é violentado pelas cenas, pelos acontecimentos que de início parecem gratuitos. Esse é um dos pontos fortes do filme: uma interpretação so é possível a partir da segunda parte da história (Kill Bill Vol. 2). São dois momentos distintos que se completam. Durante todo o Kill Bill Vol. 1 os acontecimentos pegam o espectador de assalto o tempo todo sem dar explicações, entrando de sola literalmente. O filme acaba e a sensação de estranheza é inevitável. E ela se mantêm até que se assista o Vol. 2.
Quanto as linguagens, que você querido amigo julgou exageradas, digo que são mesmo exageradas, mas o modo como Tarantino as usa imprime-lhes um sentido simples que não compromete o fluxo tranquilo do filme. Não há arestas na montagem dessas linguagens, o que é bastante difícil de se conseguir ao colocar em contato linguagens cinematógráficas tão díspares como os filmes B de artes marciais, o western os filmes de ação etc. E conjugado com esses genêros do cinema todos os clichês que lhes são próprios.
O que está em jogos em todos os filmes de Tarantino sem exceção é a estética pulp, que consiste naquele genêro literário duvidoso (se é que se pode chamar aquilo de literatura), de caráter sensacionalista e bastante underground que teve seu auge nos anos trinta e quarenta. Nesse tipo de literatura a preocupação é a venda dos livros e para tal a linguagem utilizada era bastante simples e refletia o cotidiano americano conjugado a histórias fantásticas muito em moda naquela época. Quentin Tarantino, pode-se dizer firmemente, introduziu esse elemento de modo fantástico no cinema e Kill Bill é o ápice dessa influência, além de revelar a maturidade desse diretor.
Desse modo os filmes B de artes marciais constituem um elemento pulp por contar com recursos parcos para produção dos filmes e por não ter como objetivo construir uma obra de arte. Diferentemente de Tarantino que insere essa estética no filme de modo a acentuar a dinâmica da violência presente no filme. Do mesmo modo utiliza a linguagem da animação para contar a história de O-Ren Ishi com estilo próprio aos desenhistas mangás. Cada elemento pop-pulp utilizado na montagem da sequência de cenas presentes no filme é encaixada com precisão e refletem um roteiro elaborado bem como uma filmagem cuidadosa. Que revela pouco interesse com a questão experimental, o que significa apenas que o filme não é experimental.
A ação de Kill Bill e a violência por ela expressada afirma sua identidade própria o que o afasta do padrão presente nos filmes de ação comercial produzidos em larga escala pelos estúdios de Hollywood. Portanto o termo hollywoodiano ou blockbuster não se aplica a Kill Bill, que embora não seja um ícone do cinema conceitual, que não compartilhe do ideal experimentalista tão em moda entre os cinéfilos de plantão, ainda sim é um grande filme, pois possui uma linguagem própria, livre de rótulos.

II

Se há uma Verdade em cinema, uma unanimidade, essa deve ser que Jean Luc Godard é incomparável, mesmo que Nelson Rodrigues já nos tenha avisado de antemão que a unanimidade é burra. Realmente não é possível determinar parâmetros para os filmes de Godard. O diretor francês não apenas dispõe de um etilo de composição bastante particular no que toca o experimentalismo como é referência para cineastas dos quatro cantos do mundo. Em Glauber Rocha, por exemplo, é notória a influência de Godard, além claro de termos vários registros tanto escritos quanto filmados do diretor brasileiro pagando o maior pau para a obra do diretor francês.
A meu ver, a contribuição de Godard ao cinema está no alto grau de experimentalismo de suas filmagens que arrebatam o espectador de forma incisiva, causando todo tipo de reação, que vai da revolta e mal estar ao delírio e admiração. Isso porque assistir um filme de Godard exige certo apuro do espectador, que não pode assistir ao filme sem conhecer alguma coisa do cinema, e digo conhecimento de caráter técnico e conceitual. Os filmes de Godard se dirigem a um público específico preocupado com a linguagem cinematográfica, preocupado em experimentar, ou seja, são eles diretores ou estudiosos do cinema enquanto arte.
Seguindo esse raciocínio, como fazer uma comparação entre o cinema de Godard e de qualquer outro diretor sem que com isso terminemos por considerar um dos lados como expressão maior do cinema e outro uma bosta completa? Em nosso caso específico, como comparar Godard a Tarantino? O resultado está previsto na pergunta anterior e foi o que aconteceu quando se tentou analisar o cinema, o jeito de se fazer cinema enquanto arte, a partir da perspectiva godardiana. Como dissemos, Godard é único, sem que com isso seja especial ou divino, e exigir de um diretor que para alcançar qualidade em seus filmes deva se aproximar o máximo daquilo feito pelo diretor francês não é mais do que se alienar a uma única perspectiva estética.

Delírio Junk



álcool, cocaína, tabaco, anfetamina
êxtase, heroína, haxixe, mescalina
maconha, diorexidrina, LSD, cafeína
ópio, codeína, lexotan, morfina
crak, diamorfina, cola, naobufina.

A vida é mesmo o maior barato!!!!!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Coisa material também é gente


Recentemente tive que me desfazer de alguns objetos pelos quais nutria um carinho imenso. Tais objetos estavam comigo há muitos anos e não pude deixar de me livrar deles com um aperto muito grande no coração. Geralmente o tempo de uso desse tipo de objeto é muito curto e as pessoas os descartam sem qualquer dor na consciência. Porém pra mim coisa material também é gente. Havia algumas camisas e bermudas que estavam comigo desde quando vim para salvador em 2000 e agora em 2008 fui obrigado a me desfazer delas. Outros objetos em sua maioria cadernos e folhas de papel tiveram o mesmo destino.
Partiu de pessoas queridas a sugestão de jogar fora esses objetos com os quais dividia uma história, com os quais passei situações muito desagradáveis e outras muito boas, que marcaram minha vida. Entendo a situação e a conclusão a qual tais pessoas chegaram, racionalmente era o que devia ser feito, uma vez que estávamos de mudança e necessitávamos de espaço para acomodar nossas coisas.
Minha intenção na verdade era guardar esses objetos, pois eles representam o resgate de minhas vivências, são memórias sensíveis que magicamente faziam brotar aqueles momentos que vivi, nos quais vestia aquela bermuda ou aquela camisa ou aquela bota, lia ou escrevia aqueles papéis! Para isso bastava vê-las, tocá-las e voltar no tempo e me ver beijando Elidi pela primeira vez, me ver caindo no esgoto do canal da Barra com M., os sentimentos que tinha aos dezenove anos quando escrevi aquelas frases, quando fui à casa de Danilo pela primeira vez, quando Gil e eu falamos do Mundo Desabitado pela primeira vez e por ai vai.
Consegui preservar algumas coisas realmente muito importantes pra mim, como por exemplo, minha camisa do Iron Maiden que comprei em 1994 quando tinha catorze anos e a minha bermuda azul que eu adoro e com a qual fui à praia com a galera da faculdade e tinha que amarrá-la com um arame de varal na minha cintura porque não tinha um cinto. Não pude ser o Shindler de outras coisas como gostaria e minha bermuda preta com uma manchinha branca na perna direita foi pro lixo. Ao menos alguma coisa ficou.
Além das minhas queridas roupas tive que me livrar de vários outros pertences como os cadernos que trouxe de Minas onde arriscava escrever alguns poemas, uma série de panfletos recolhidos na saída de shows ou cinemas e que me remetiam àquele momento em que curtia o show ou assistia ao filme sempre que os tinha sobre meu olhar. O argumento principal usado como motivo para que me desfizesse de tais objetos foi que eram velharia e não tinham mais nenhuma utilidade: os cadernos já estavam escritos, os shows já tinham acontecido, os livros já haviam sido lidos, as roupas já haviam sido vestidas demais, etc. Se é assim qual o sentido de preservar essas coisas? Se pensarmos utilitariamente não há motivo algum. Porém se pensarmos em termos afetivos os motivos são muitos. Quando estiveram envolvidos em momentos marcantes da minha vida tais objetos passaram a ser mais que simples objetos, mas emoções, sentimentos, como disse, lembranças sensíveis, verdadeiros amigos, que enquanto estivessem preservados haveria sempre a possibilidade de ativarem minha memória e me permitir desfrutar daqueles momentos vividos. Ao descartá-las talvez tenha perdido para sempre as lembranças que esses objetos tão queridos guardavam consigo.