domingo, 24 de maio de 2009

Portas e Chaves



Que doideira bicho!!! Vocês não vão acreditar!! Outro dia um cara abriu uma de suas portas na minha frente, e foi uma coisa louca o que vi lá dentro: olhos chorando lágrimas de sangue, uma boca que desespera em gritos, mãos feitas de dor e que destroem paredes de tijolos como se fossem de papel.
Cara!! Foi assustador ver o que aquela porta escondia, ou pelo menos aquilo que defendia seu conteúdo; ou ainda defende, sei lá. Doideira maior foi perceber que estava ao mesmo tempo encantado pelo momento; seduzido pelo medo, mortificado pela beleza oferecida pela visão do assustador!!
É muito foda descrever uma sensação sem fugir de uma atitude introspectiva, mas...... ali percebi que nascemos pra sentir a dor da vida e não a dor da jaula. Pô, é o seguinte, essa faca corta de 2 lados!! O mundo todo pode ser uma jaula, causar acessos de caustofobia no camarada. E o pior é que tem uns malucos aí que tão acorrentados até os dentes e você olha pros caras e eles parecem com o vôo de uma borboleta no colorido imenso de um vale em plena primavera. Dá ou não dá pra pirá?
Só posso pensar que cada um constrói sua própria jaula, ou sua própria liberdade. Todos nós temos portas fechadas, pois somos covardes, um pouco imbecis também, por acharmos que devemos esconder algo. Que bosta cara!! Tem porta trancada a 7 chaves!! Se for pra fingir melhor rir do q chorar né? É muito bom quando uma força, seja o desespero ou a embriaguez, levanta nosso braço e abre mais uma dessas portas de merda!! Outra gota de suor na construção da liberdade!!
Sei que as portas só abrem com chaves. Já vi alguns caras, até mesmo eu, abrirem algumas portas com lágrimas, outras com gritos, outras com abraços. A porta mais difícil que abri, ainda me lembro como se fosse ontem, foi a coisa mais linda que meus olhos já viram!! A chave? A piração maior é que não precisei de chave alguma, a porta já estava aberta, só precisei empurrar. Entretanto, durou apenas um segundo a visão do que estava lá dentro. A única porta que não precisei abrir foi também a única que se fechou depois de aberta. A violência com que foi fechada me faz pensar se vou abri-la novamente. Durante algum tempo esse pensamento foi a minha jaula. Consegui destruí-la, agora esse pensamento é ora meu sorriso, ora minha música, ora minha paisagem. Jaula transformada em liberdade!!
Ainda sinto nos meus ombros todo o peso de todas as portas que ainda não abri e sei que aquele cara também tá nessa comigo.

Precisamos de + liberdade
“ abrir + portas
“ fazer + chaves

sábado, 9 de maio de 2009

Entrevista Luis Henrique Tozo

Luis Henrique Tozo, o Tozin, aceitou gentilmente nosso convite para uma entrevista, portanto o mês de maio é dedicado a este artista aqui no Born To Lose. Tozin nasceu na cidade mineira de Ponte Nova e hoje faz o curso de Artes Visuais na UEMG em Belo Horizonte. Luis Henrique concentra seus trabalhos na fotografia, campo que o introduziu nas artes, fazendo suas fotos por meio da camera de seu aparelho celular. Hoje o artista dialoga com novos recursos através da computaçao gráfica. O artista se interessa pelo campo do cinema, tendo feito com o amigo e poeta Rogério Saraiva um Curta Metragem, Antônio Nu Escuro. O curta teve visibilidade e recebeu elogios do site JA filmes, onde o vídeo é divulgado e pode ser assistido. O link do JA filmes é http://www.jafilmes.com/site_2008/secoes/curtas_do_brasil/curtas/antonio_claro_escuro/antonio_nu_claro_escuro.htm. Para conhecer mais do trabalho de Luis Henrique Tozo acessem o blog Realidades Possíveis o endereço é http://tozinfotos.blogspot.com/.

Confiram a entrevista na íntegra logo abaixo:




Born To Lose - A Primeira pergunta é um aquecimento, uma quebra de clima e uma maneira de confrontar diferentes perspectivas do que seja Arte. Desse modo Tozin, diga-nos: o que é arte para você?

Tozim: Arte é uma forma de expressar idéias através de símbolos ... tornar palpável o inteligível.


Born To Lose – Você tem alguns trabalhos com fotografia feitos de um modo bastante peculiar, usando o celular como ferramenta. Como é o seu método de trabalho com fotografia em celular? Porque escolheu esse tipo de linguagem para expressar suas idéias?

Tozim: Na verdade, escolhi o celular por falta de opção, nos trabalhos recentes comecei a usar maquina digital mesmo...mas foi através do celular que surgiu o interesse por fotografia, que acabou funcionando mais como um laboratório de imagens, por enquanto, não pretendo usar esta ferramenta....quanto ao método, eu deixava a casa escura e utilizava a tv como fonte de luz.

Born To Lose – Confesso entender pouco sobre fotografia, contudo alguns amigos que trabalham nessa área criticam muito o uso da câmera digital, pois esta não consegue captar determinados detalhes. Acho que as limitações apontadas na câmera digital vão muito além disso, do ponto de vista de alguns fotógrafos, mas foi até onde consegui chegar. Como você vê tais críticas, elas tem fundamento, há uma diferença muito grande entre fotografar com uma máquina digital e uma tradicional? Ou você está usando a digital da mesma forma como usou o celular, porque não tem em mãos a ferramenta com que gostaria de trabalhar?




Tozim: Não concordo com as críticas, o que importa é a sensibilidade do fotógrafo! A máquina digital é simplesmente um recurso adicional, ela também exige sensibilidade e criatividade de quem a utiliza. A diferença é que na digital você tem um controle maior ao editar, é inegável que a tecnologia atual tenha ampliado os recursos de trabalho. Hoje, prefiro continuar usando a digital da mesma forma como trabalhei com o celular.

Born To Lose – Você começou um curso superior em Artes Visuais, o que é um curso de artes visuais? Ao que me parece é algo que vai além da fotografia e que permite o diálogo com novas tecnologias como a computação gráfica, por exemplo. É isso mesmo?

Tozim – No curso de Artes Visuais, ensina-se a importância da observação. O primeiro passo consiste em você educar o olhar para aprender a ver o mundo com olhos de desenhista. No meu caso, faço licenciatura e posso trabalhar como educador ou na área de pesquisa, porém confesso que o curso deixa a desejar um pouco em termos de interação com tecnologia, pois o objetivo é formar professores e não artistas...assim eu ouvi de um professor, achei absurdo. O educador deveria te possibilitar a escolher um caminho.

Born To Lose – Concordo, realmente é um absurdo ouvir isso dentro de uma universidade. Como você vê isso Tozin, digo, esta separação feita entre professor e artista feita na academia não lhe soa estranha? O que você esperava da universidade, enquanto artista, que via na universidade um local para expandir seu conhecimento sobre as técnicas de fotografia, por exemplo, e acaba encontrando alguém que lhe diz que receberá uma formação a qual lhe dará condições apenas de ser um professor?

Tozin – Para ser sincero não entendo porque existe esta separação na academia, estou estudando para aprofundar o meu conhecimento no campo da arte. Até que a universidade apresenta oportunidades como alguns concursos fotográficos e exibição de curtas, mas há certos comentários que você precisa ignorar e continuar fazendo a sua parte, senão você acaba se sentindo na obrigação de seguir um caminho proposto pela academia. Talvez eu esteja no lugar errado, mas vejo esta situação como mais um degrau a ser escalado. Para finalizar, acho que um curso ajuda na formação artística, com certeza, mas ele um meio é não um fim.

Born To Lose – Bom você falar em curtas. Você e Rogério Saraiva fizeram um curta metragem cujo título é 'Antônio Nú Claro Escuro'. Qual é o seu interesse pelo cinema em termos de expressão artística? Você tem interesse em vincular cinema e fotografia, como você compreende a relação entre essas duas esferas artísticas?

Tozin - Eu quero simplesmente mostrar que cinema vai muito mais além de querer contar uma historia, quero um dia trabalhar com animação ajudando na direção de arte ou na concepção de cenário.Quanto a fotografia e cinema acho que uma complementa a outra e não vejo nenhuma distinção entre essas áreas artística,pois ambas lidam com a arte da imagem.

Born To Lose – Você continua tirando suas fotografias? O que tem produzido atualmente?

Tozin - Sim, recentemente fiz uma foto para a banda Sonary, o baterista Fefeu queria uma imagem que traduzisse a idéia de mudança. Fiz a arte com uma pessoa pintando uma casa velha e posteriormente um amigo que faz designer deu o tratamento final. Também tenho um trabalho de capa para banda Persona de Ponte Nova, neste momento estou interessado em fazer uma exposição de fotografia.

Born To Lose – Qual pergunta eu não fiz à você e que gostaria de ter respondido?

Tozin - Acho que foi o suficiente, por mim esta tudo bem...agradeço!

Alguns dos trabalhos de Luis Henrique, mais do trabalho do artista no blog Realidades Possíveis



quarta-feira, 6 de maio de 2009

Arte Subterranea em Ponte Nova.



Quando estive em Ponte Nova em dezembro passado, 2008, algo de inusitado aconteceu comigo, pode parecer viagem, mas tive uma espécie de revelação. Podem rir, mas é como denomino o insight que tive naquela ocasião. O que me foi revelado? A existência de uma produção cultural que ocorria na penumbra, esgueirando-se pelas esquinas, que se fazia presente em conversas de uns poucos amigos. Os pontenovenses, desde quando eu era um pirralho, reclamam de não haver cultura em sua terra. Hoje sei que o pontenovense mediano, 95% da população, pra ser otimista, tem uma visão bastante padronizada do que seja arte. Àquilo que tais filisteus chamam de arte não é nada mais que entretenimento disfarçado de arte. Se acontecerem cinqüenta shows na cidade com bandas de axé, pagode, pop, esta merda toda, colocar um cinema projetando filmes da Xuxa, aquelas produções infames da Globo, que mais parecem novelas de duas horas, umas peças teatrais fazendo adaptações de textos do Miguel Falabela, então basta fazer uma pesquisa junto à população no final deste ano hipotético e garanto que boa parte dos pesquisados dirão que foi um ano em que se investiu muito em cultura, que agora sim Ponte Nova possui uma cena cultural e outras sandices mais.
Os pontenovenses não sabem o que é arte e ponto final! Existem grandes artistas na cidade, novas gerações estão surgindo e é isto que percebi. O fato de estar há dez anos morando em Salvador, visitando minha cidade apenas uma vez por ano, ativou em mim esta sensibilidade, que embora tenha levado dez anos para se fazer clara, ainda sim ocorreu. Deixa eu afirmar com mais convicção: OS PONTENOVENSES NÃO SABEM O QUE É ARTE!!!!!!!!!!! Essa afirmação é derivada de uma constatação empírica, porque amigos de infância, amigos íntimos, estão fazendo arte em Ponte Nova, arte no sentido mais forte da palavra! Versos carregados do novo; imagens que vão buscar para além da realidade comum a existência de novas realidades, imperceptíveis pelo poder natural de nossos sentidos; pinturas que dialogam com as vanguardas e refletem uma nova perspectiva; sonoridade agressiva, erudita, popular; há arte em Ponte Nova, feita com muita criatividade, com muita dedicação, com muita paixão, arte feita pela arte, despreocupada em agradar terceiros, livre de exigências hediondas de empresários, arte inocente e cativante, apenas ARTE!
Outra constatação que fiz, até irônica, foi de que embora todos os envolvidos nesta “onda” artística em Ponte Nova sejam amigos, não há uma unidade, mas não unidade do ponto de vista estético, como se todos devessem partilhar de um mesmo paradigma artístico, mas não há unidade no sentido concreto do termo. Não existe um esforço destes artistas em fazer algo que entrelace todos os fazeres artísticos, que una num mesmo acontecimento poesia, artes plásticas, artes visuais, música, escultura, etcetera e tal. Estas pessoas não servem de interlocutores uns dos outros.
Nosso blog pretende gerar este diálogo, mesmo que no âmbito virtual. Nosso projeto Entre-Vistas, tem como objetivo trazer a opinião destes artistas sobre o que é arte, confrontar as perspectivas, notar os pontos de convergências de suas obras, dar uma face à esta ebulição artística de Ponte Nova. A velha máxima revolucionária, pode já estar gasta, mas serve bem pra definir o que precisa ser feito, “unidos somos fortes separados somos fracos”, não sei se a frase é esta, mas o sentido é este. Acho que seria mais proveitoso se houvesse interação, se as artes visuais se fundisse a música e produzisse algo, se a música se unisse ao teatro e gerasse algo, se o teatro se unisse à pintura e outra coisa daí surgisse, que tudo se misturasse para que nossa curiosidade fosse satisfeita e quem sabe nossa sede por novas criações.
Por isso tive a idéia, estou meio que retomando meu lado romântico, utópico, há muito adormecido, de fazer uma comunidade no Orkut que permitisse divulgar os artistas pontenovenses que fazem esta arte aqui descrita, que discuta a possibilidade de unidade deste fazer artístico, da possibilidade de um diálogo, da possibilidade de criar novas perspectivas, de ... de ... de ... quem sabe provocar a sensibilidade de novos artistas, de propiciar as condições para que nasçam novos apreciadores da arte, e talvez fazer o mais difícil, mostrar aos pontenovenses que há arte em Ponte Nova, o que não há pessoas com sensibilidade o suficiente para reconhecer o que é arte. O convite está feito, o link da comunidade no Orkut é: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=88042404, o nome da comunidade é Arte Subterrânea em Ponte Nova.

Segue abaixo a descrição da comunidade:

Meus caros, digo a vocês que Ponte Nova possui uma força cultural, cujos fluxos são subterrâneos. Esta movimentação marginal de forças artísticas preserva sua identidade por não se interessar em atender as exigências de um público médio, que infelizmente é refletido pela mentalidade provinciana do pontenovense. Aqui nos propomos a convidá-los a adentrar este ambiente subterrâneo ao invés de trazer à tona estas forças. Não por achar que devam ser preservadas do mundo mediano, da influência do mercado, nada disso, simplesmente consideramos ser mais interessante conduzir as poucas mentes que ainda tem sede por novas expressões da paixão humana através da arte até este universo subterrâneo.
Consideramos forças responsáveis por este fluxo subterraneo da arte pontenovense artistas como Davi Primavera, Joe, Jquesson Alberto, Luiz Henrique Tozo (Tozin), Antonio Inácio, Rogério Saraiva, Paula Inácio, Wesley Costa Melo, Zé Carlos Daniel ... Provavelmente existem outros nomes e este é um dos objetivos desta comunidade, encontrar novas forças.
O nome Arte Subterrânea foi o modo que encontrei de identificar a produção artística de Ponte Nova, embora não haja um movimento artístico que divida objetivos estéticos em comum nesta cidade. Esta arte é subterrânea, não por ser feita escondida, mas por não ser notada pela cidade, pelos pontenovenses. Ela ocorre na superfície, seu caráter subterrâneo deve-se à indiferença de todas as esferas sociais e políticas da cidade. Assim, não há o que trazer à tona, não há o que mudar, há sim que fazer algo, fortalecer o fazer artístico, fortalecer a arte que está sendo feita, fazer o possível para que estes artistas continuem produzindo, pesquisando, sentindo-se motivados à criar. Também não há porque esta arte deixar de ser subterrânea, porque isso significaria prostituí-la, perdesse sua identidade, porque não dizer sua essência, pois para se tornar visíveis aos olhos destes pontenovenses, deveria deixar de ser arte e tornar-se espetáculo, tornar-se produto, entretenimento e isso meus amigos não pode acontecer.
Esta feito o convite, mão à obra.




sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dica de Leitura 1.

Leiam este livro:



Os 120 dias de Sodoma é sem dúvida a obra mais importante de Donatien Alphonse-François, o marquês de Sade. Bom talvez eu tenha exagerado, talvez não seja a mais importante,mas está entre as mais immportante. A coloco em primeiro lugar por ser um dos meus livros favoritos.
Nesta obra Sade faz duras críticas à igreja, à nobreza do século XIII, bem como aos filósofos de linhagem metafísica. Tais críticas tornam evidente a hipocrisia presente na moral pregada pelos membros da Igreja, os quais fazem dos princípios religiosos o véu onde escondem todas as suas depravações. Sade radicaliza, defendendo que todo ser humano tem seu preço, bastando estar precisando deste para resolver seus problemas pessoais, ou por adorar os luxos e excessos que pode proporcionar. Outro ponto marcante, característica predominante do século XVIII, é o uso da razao de forma metódica por parte do personagem principal, o libertino mais voraz do bando, o Duque de Blangis.
O Século das Luzes e a crença nos poderes da razão!! Blangis faz uso magnifíco de tais poderes, colocando metodicamente em prática os planos elaborados para os quatro meses de orgia, assassinato e tortura na busca obssessiva pelo prazer, pelas mais fortes torrentes de gozo.

Leiam e se arrepiem com as aventuras do Duque de Blangis e seus comparsas! Vejam até onde pode ir o homem quando tem coragem o bastante para satisfazer seus mais íntimos desejos. Aquilo que há de mais subterraneo em nossos desejos são satisfeitos pelos libertinos de Sade neste livro, por isso, se algum de vocês sentir alguma afinidade com algum destes libertinos, nao se preocupe, pois assim como nós, fazem parte do genêro humano.


Aproveitando a deixa, recomendamos o filme Saló os 120 de Sodoma de Pier Paolo Pasoli, baseado no livro do Marquês. Os libertinos do filme não são os nobres do século XVIII, mas fascistas do século XX, que uma vez tendo sido derrotados na Segunda Guerra Mundial, raptam adolescentes para satisfazerem suas fantasias sexuais em um palacete escondido no interior da Itália. O filme pode ser baixado pelo e mule sem problemas e a legenda vocês a encontram no site .

Alguns posteres e cenas do filme de Pasolini: