sábado, 9 de outubro de 2010

A urgência de uma formação política dos estudantes brasileiros/ Apoio dos Professores de Filosofia à candidatura de Dilma Roussef à presidência do Brasil.

       Nesta fase decisiva para o futuro do nosso país, estou voltado à pesquisa dos caminhos que a eleição presidencial vem trilhando desde o início da campanha dos partidos nela envolvidos. O recente bombardeio de calúnias dirigidos à candidata do PT Dilma Roussef por parte da grande mídia e do EIXO, formado pelo PSDB e do DEM chama-nos professores ao engajamento contra as distorções, preconceitos e supertições que o EIXO lança sobre a população brasileira com o intuito de fazer nascer ali o medo na eleição da Dilma. A opção do EIXO é pela propagação do medo e não da argumentação, que busque sustentar a legitimidade de suas críticas e a necessidade para o país das propostas presentes em sua plataforma política.
        Essa estratégia foi usada pelas classes dominantes através da grande mídia, cujo representante maior é a Rede Globo, nas eleições de 1989, quando se incutiu na cabeça das pessoas o medo através de notícias de que Lula iria fechar igrejas, tomar o carro e a casa de quem possuía mais de um veículo e mais de um imóvel, etc, para distribuir entre aqueles que não possuíam nenhum carro, nenhuma casa.
      Naquele momento essas calúnias funcionaram eficientemente, contudo o momento do país é outro, as pessoas tem mais acesso à informação, tem acesso à uma educação melhor, embora esteja longe do ideal. A retomada desta velha estratégia, aliás, vale ressaltar, covarde, mostra o desespero do EIXO, bem como revela-nos o modo como vêem o povo brasileiro: um amontoado de imbecis! As calúnias que o EIXO faz pesar sobre a Dilma vão da afirmação de que a candidata vai fazer com que a lei do aborto seja legalizada, que vai ensinar nas escolas que o aborto deve ser praticado, que vai obrigar as religiões a realizar casamentos homossexuais e o pior de tudo, que vai instaurar a ditadura em nosso país. Essa última e mais absurda infâmia fiquei sabendo pelo meu irmãozinho caçula, que apesar do diminutivo tem 21 anos, sendo este o motivo que o levou a votar em Serra e não em Dilma. Isso revelou a ignorância do meu irmão, o que me assustou, mas certamente é o motivo de muitos outros brasileiros a optarem por Serra e não em Dilma. Tal acontecimento foi o que me levou a redigir este texto. 
       Isso mostra que as pessoas sabem que vivem num estado democrático, mas não fazem idéia do que significar viver em tal regime político. Não sabem que o presidente faz parte do executivo, que qualquer lei para ser passível de ser vetada ou homologada pelo presidente deve antes ser votada na Câmara dos Deputados e pelo Senado. Isso já é motivo suficiente para desmascarar as calúnias criadas pelo EIXO. Falta ao brasileiro uma educação política.
      Retomando o que havia dito anteriormente, cabe a nós professores nos esforçarmos na formação política dos estudantes, seja na esfera básica, média ou superior, para que aberrações como essas não sejam aceitas como verdade pelas pessoas. Apenas uma mente petrificada pela falta de conhecimento, pode acolher tais absurdos como motivos efetivos para se votar ou não em alguém. Temos que promover discussões nas salas de aula, buscar por todos os meios relacionar os assuntos discutidos em sala de aula à compreensão política de nossa realidade. Essa tarefa deve ser o cerne principalmente das disciplinas pertencentes à área de humanas, mas que pode fazer parte da pauta de discussões da biologia, pois a questão dos alimentos e da água está diretamente ligada ao lucro das grandes corporações e o domínio das mesmas do mercado dos alimentos, bem como da matemática que pode abordar a questão econômica através dos índices de crescimento econômico, populacional, da geração de emprego etc. 
     Entendo que hoje a interdisciplinaridade deve trabalhar a favor da formação política do brasileiro, para que não continuemos a ser vítimas de nossa própria ignorância.  


Sendo professor de Filosofia e por apoiar a eleição da candidata Dilma Roussef à presidência da república coloco em anexo a esta postagem o "Manifesto dos Professores e Pesquisadores de Filosofia Apoiam Dilma Rousseff para a Presidência da República":


Professores e pesquisadores de Filosofia, abaixo assinados, manifestamos nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Seguem-se nossas razões.

Os valores de nossa Constituição exigem compromisso e responsabilidade por parte dos representantes políticos e dos intelectuais

Nesta semana completam-se vinte e dois anos de promulgação da Constituição Federal. Embora marcada por contradições de uma sociedade que recém começava a acordar da longa noite do arbítrio, ela logrou afirmar valores que animam sonhos generosos com o futuro de nosso país. Entre os objetivos da República Federativa do Brasil estão “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, “garantir o desenvolvimento nacional”, “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.

A vitalidade de nossa República depende do efetivo compromisso com tais objetivos, para além da mera adesão verbal. Por parte de nossos representantes, ele deve traduzir-se em projetos claros e ações efetivas, sujeitos à responsabilização política pelos cidadãos. Dos intelectuais, espera-se o exame racionalmente responsável desses projetos e ações.

Os oito anos de governo Lula constituíram um formidável movimento na direção desses objetivos. Reconheça-se o papel do governo anterior na conquista de relativa estabilidade econômica. Ao atual governo, porém, deve-se tributar o feito inédito de conciliar crescimento da economia, controle da inflação e significativo desenvolvimento social. Nesses oito anos, a pobreza foi reduzida em mais de 40%; mais de 30 milhões de brasileiros ascenderam à classe média; a desigualdade de renda sofreu uma queda palpável. Não se tratou de um efeito natural e inevitável da estabilidade econômica. Trata-se do resultado de políticas públicas resolutamente implementadas pelo atual governo – as quais não se limitam ao Bolsa Família, mas têm nesse programa seu carro-chefe.

Tais políticas assinalam o compromisso do governo Lula com a realização dos objetivos de nossa República. Como ministra, Dilma Rousseff exerceu um papel central no sucesso dessa gestão. Cremos que sua chegada à Presidência representará a continuidade, aprofundamento e aperfeiçoamento do combate à pobreza e à desigualdade que marcou os últimos oito anos.

Há razões para duvidar que um eventual governo José Serra ofereça os mesmos prospectos. É notório o desprezo com que os programas sociais do atual governo – em particular o Bolsa Família – foram inicialmente recebidos pelos atores da coligação que sustenta o candidato. Frente ao sucesso de tais programas, José Serra vem agora verbalizar sua adesão a eles, quando não arroga para si sua primeira concepção. Não tendo ainda, passado o primeiro turno, apresentado um programa de governo, ele nos lança toda sorte de promessas – algumas das quais em franco contraste com sua gestão como governador de São Paulo – sem esclarecer como concretizá-las. O caráter errático de sua campanha justifica ceticismo quanto à consistência de seus compromissos. Seu discurso pautado por conveniências eleitorais indica aversão à responsabilidade que se espera de nossos representantes. Ironicamente, os intelectuais associados ao seu projeto político costumam tachar o governo Lula e a candidatura Dilma de populistas.

O compromisso com a inclusão social é um compromisso com a democracia


A despeito da súbita conversão da oposição às políticas sociais do atual governo, ainda ecoam entre nós os chavões disseminados por ela sobre os programas de transferência de renda implementados nos últimos anos: eles consistiriam em mera esmola assistencialista desprovida de mecanismos que possibilitem a autonomia de seus beneficiários; mais grave, constituiriam instrumento de controle populista sobre as massas pobres, visando à perpetuação no poder do PT e de seus aliados. Tais chavões repousam sobre um equívoco de direito e de fato.

A história da democracia, desde seus primeiros momentos na pólis ateniense, é a história da progressiva incorporação à comunidade política dos que outrora se viam destituídos de voz nos processos decisórios coletivos. Que tal incorporação se mostre efetiva pressupõe que os cidadãos disponham das condições materiais básicas para seu reconhecimento como tais. A cidadania exige o que Kant caracterizou como independência: o cidadão deve ser “seu próprio senhor (sui iuris)”, por conseguinte possuir “alguma propriedade (e qualquer habilidade, ofício, arte ou ciência pode contar como propriedade) que lhe possibilite o sustento”. Nossa Constituição vai ao encontro dessa exigência ao reservar um capítulo aos direitos sociais.

Os programas de transferência de renda implementados pelo governo não apenas ajudaram a proteger o país da crise econômica mundial – por induzirem o crescimento do mercado interno –, mas fortaleceram nossa democracia ao criar bases concretas para a cidadania de milhões de brasileiros. Se atentarmos ao seu formato institucional, veremos que eles proporcionam condições para a progressiva autonomia de seus beneficiários, ao invés de prendê-los em um círculo de dependência. Que mulheres e homens beneficiados por tais programas confiram seus votos às forças que lutaram por implementá-los não deve surpreender ninguém – trata-se, afinal, da lógica mesma da governança democrática. Senhoras e senhores de seu destino, porém, sua relação com tais forças será propriamente política, não mais a subserviência em que os confinavam as oligarquias.

As liberdades públicas devem ser protegidas, em particular de seus paladinos de ocasião

Nos últimos oito anos – mas especialmente neste ano eleitoral – assistiu-se à reiterada acusação, por parte de alguns intelectuais e da grande imprensa, de que o presidente Lula e seu governo atentam contra as liberdades públicas. É verdade que não há governo cujos quadros estejam inteiramente imunes às tentações do abuso de poder; é justamente esse fato que informa o desenvolvimento dos sistemas de freios e contrapesos do moderno Estado de Direito. Todavia, à parte episódios singulares – seguidos das sanções e reparos cabíveis –, um olhar sóbrio sobre o nosso país não terá dificuldade em ver que o governo tem zelado pelas garantias fundamentais previstas na Constituição e respeitado a independência das instituições encarregadas de protegê-las, como o Ministério Público, a Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal.

Diante disso, foi com desgosto e preocupação que vimos personalidades e intelectuais ilustres de nosso país assinarem, há duas semanas, um autointitulado “Manifesto em Defesa da Democracia”, em que acusam o governo de tramas para “solapar o regime democrático”. À conveniência da candidatura oposicionista, inventam uma nova regra de conduta presidencial: o Presidente da República deve abster-se, em qualquer contexto, de fazer política ou apoiar candidaturas. Ironicamente, observada tal regra seria impossível a reeleição para o executivo federal – instituto criado durante o governo anterior, não sem sombra de casuísmo, em circunstâncias que não mereceram o alarme da maioria de seus signatários.

Grandes veículos de comunicação sistematicamente alardeiam que o governo Lula e a candidatura Dilma representam uma ameaça à liberdade de imprensa, enquanto se notabilizam por uma cobertura militante e nem sempre responsável da atual campanha presidencial. As críticas do Presidente à grande imprensa não exigem adesão, mas tampouco atentam contra o regime democrático, em que o Presidente goza dos mesmos direitos de todo cidadão, na forma da lei. Propostas de aperfeiçoamento dos marcos legais do setor devem ser examinadas com racionalidade, a exemplo do que tem acontecido em países como a França e a Inglaterra.

Se durante a campanha do primeiro turno houve um episódio a ameaçar a liberdade de imprensa no Brasil, terá sido o estranho requerimento da Dra. Sandra Cureau, vice-procuradora-geral Eleitoral, à revista Carta Capital. De efeito intimidativo e duvidoso lastro legal, o episódio não recebeu atenção dos grandes veículos de comunicação do país, tampouco ensejou a mobilização cívica daqueles que, poucos dias antes, publicavam um manifesto contra supostas ameaças do Presidente à democracia brasileira. O zelo pelas liberdades públicas não admite dois pesos e duas medidas. Quando a evocação das garantias fundamentais se vê aliciada pelo vale-tudo eleitoral, a Constituição é rebaixada à mera retórica.

Estamos convictos de que Dilma Rousseff, se eleita, saberá proteger as liberdades públicas. Comprometidos com a defesa dessas liberdades, recomendamos o voto nela.

Em defesa do Estado laico e do respeito à diversidade de orientações espirituais, contra a instrumentalização política do discurso religioso

A Constituição Federal é suficientemente clara na afirmação do caráter laico do Estado brasileiro. É garantida aos cidadãos brasileiros a liberdade de crença e consciência, não se admitindo que identidades religiosas se imponham como condição do exercício de direitos e do respeito à dignidade fundamental de cada um. Isso não significa que a religiosidade deva ser excluída da cena pública; exige, porém, intransigência com os que pregam o ódio e a intolerância em nome de uma orientação espiritual particular.

É, pois, com preocupação que testemunhamos a instrumentalização do discurso religioso na presente corrida presidencial. Em particular, deploramos a guarida de templos ao proselitismo a favor ou contra esta ou aquela candidatura – em clara afronta à legislação eleitoral. Dilma Rousseff, em particular, tem sido alvo de campanha difamatória baseada em ilações sobre suas convicções espirituais e na deliberada distorção das posições do atual governo sobre o aborto e a liberdade de manifestação religiosa. Conclamamos ambos os candidatos ora em disputa a não cederem às intimidações dos intolerantes. Temos confiança de que um eventual governo Dilma Rousseff preservará o caráter laico do Estado brasileiro e conduzirá adequadamente a discussão de temas que, embora sensíveis a religiosidades particulares, são de notório interesse público.

O compromisso com a expansão e qualificação da universidade é condição da construção de um país próspero, justo e com desenvolvimento sustentável

É incontroverso que a prosperidade de um país se deixa medir pela qualidade e pelo grau de universalização da educação de suas crianças e de seus jovens. O Brasil tem muito por fazer nesse sentido, uma tarefa de gerações. O atual governo tem dado passos na direção certa. Programas de transferência de renda condicionam benefícios a famílias à manutenção de suas crianças na escola, diminuindo a evasão no ensino fundamental. A criação e ampliação de escolas técnicas e institutos federais têm proporcionado o aumento de vagas públicas no ensino médio. Programas como o PRODOCENCIA e o PARFOR atendem à capacitação de professores em ambos os níveis.

Em poucas áreas da governança o contraste entre a administração atual e a anterior é tão flagrante quanto nas políticas para o ensino superior e a pesquisa científica e tecnológica associadas. Durante os oito anos do governo anterior, não se criou uma nova universidade federal sequer; os equipamentos das universidades federais viram-se em vergonhosa penúria; as verbas de pesquisa estiveram constantemente à mercê de contingenciamentos; o arrocho salarial, aliado à falta de perspectivas e reconhecimento, favoreceu a aposentaria precoce de inúmeros docentes, sem a realização de concursos públicos para a reposição satisfatória de professores. O consórcio partidário que cerca a candidatura José Serra – o mesmo que deu guarida ao governo anterior – deve explicar por que e como não reeditará essa situação.

O atual governo tem agido não apenas para a recuperação do ensino superior e da pesquisa universitária, após anos de sucateamento, como tem implementado políticas para sua expansão e qualificação – com resultados já reconhecidos pela comunidade científica internacional. O PROUNI – atacado por um dos partidos da coligação de José Serra – possibilitou o acesso à universidade para mais de 700.000 brasileiros de baixa renda. Através do REUNI, as universidades federais têm assistido a um grande crescimento na infraestrutura e na contratação, mediante concurso público, de docentes qualificados. Programas de fomento, levados a cabo pelo CNPq e pela CAPES, têm proporcionado um sensível aumento da pesquisa em ciência e tecnologia, premissa central para o desenvolvimento do país. Foram criadas 14 novas universidades federais, testemunhando-se a interiorização do ensino superior no Brasil, levando o conhecimento às regiões mais pobres, menos desenvolvidas e mais necessitadas de apoio do Estado.

Ademais, deve-se frisar que não há possibilidade de desenvolvimento sustentável e preservação de nossa biodiversidade – temas cujo protagonismo na atual campanha deve-se à contribuição de Marina Silva – sem investimentos pesados em ciência e tecnologia. Não se pode esperar que a iniciativa privada satisfaça inteiramente essa demanda. O papel do Estado como indutor da pesquisa científica é indispensável, exigindo um compromisso que se traduza em políticas públicas concretas. A ausência de projetos claros e consistentes da candidatura oposicionista, a par do lamentável retrospecto do governo anterior nessa área, motiva receios quanto ao futuro do ensino superior e do conhecimento científico no Brasil – e, com eles, da proteção de nosso meio-ambiente – no caso da vitória de José Serra. A perspectiva de continuidade e aperfeiçoamento das políticas do governo Lula para o ensino e a pesquisa universitários motiva nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff.

Por essas razões, apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Para o povo brasileiro continuar em sua jornada de reencontro consigo mesmo. Para o Brasil continuar mudando!

06 de outubro de 2010



terça-feira, 5 de outubro de 2010

À classe média o Debate, aos trabalhadores a novela.

“Como acontece em todos os debates promovidos pela Rede Globo a preocupação de todos nós é que seja útil para você eleitor por isso nós pedimos que as discussões sejam civilizadas ....” Assim William Bonner se dirigiu aos eleitores do país após explicar as regras do debate dos presidenciáveis organizado pela Globo. Bonner diz que a Globo se preocupa em ser útil ao eleitor, oferecendo a estes a oportunidade de conhecer as propostas dos candidatos à presidência da república, contudo, o debate parece ser menos importante que a novela dos pseudo italianos, dita novela das oito, mas que começa às nove e que em tempos de eleição começa depois da propaganda política às 9:20 da noite. No dia do debate a novela foi ao ar às 9:20 da noite e nem sequer teve seu tempo diminuído para que o debate começasse mais cedo. Desta forma o debate teve início às 22:35. Certamente os trabalhadores que acreditavam na dita utilidade do debate teve que sacrificar parte das suas oito horas de sono (aqueles que dispõem dessas oito horas para o descanso) para se “beneficiar” do “espaço democrático” oferecido pela Globo.
Levando-se em consideração a importância dada pela emissora dos Marinhos à novela, que mesmo num momento decisivo para o país, tem garantida sua presença no horário nobre global, como não duvidar das intenções da emissora? Somos forçosamente levados a concluir que William Bonner estivesse se dirigindo à um determinado eleitor, ao considerar a utilidade do debate, aquele que pode dormir depois da meia noite, que não precisa acordar cedo para trabalhar, está portanto falando às classes média e alta brasileira que tem o “privilégio” de ficar acordados madrugada afora e dormir até mais tarde.
Quando se trata de seus programas e novelas a globo sinceramente se preocupa com os cidadãos brasileiros que fazem parte da classe trabalhadora, daqueles que se espremem nas favelas do país e que tem na televisão uma válvula de escape para a dura realidade que enfrentam diariamente, porém, quando se está em jogo a decisão de que rumos o Brasil irá tomar nos próximos 4 anos. A Globo não democratiza sua contribuição para os rumos das eleições, sendo útil aos ricos e perversa com os pobres. 

domingo, 12 de setembro de 2010

Dunga, o demolidor

A nova Era Dunga: o fim do besteirol esportivo
24/06/2010 16:19:49
Leandro Fortes
Foi na Copa do Mundo de 1986, no México, com Fernando Vanucci, então apresentador da TV Globo, que a cobertura esportiva brasileira abandonou qualquer traço de jornalismo para se transformar num evento circense, onde a palhaçada, o clichê e o trocadilho infame substituíram a informação, ou pelo menos a tornaram um elemento periférico. Vanucci, simpático e bonachão, criou um mote (“alô você!”) para tornar leve e informal a comunicação nos programas esportivos da Globo, mas acabou por contaminar, involuntariamente, todas as gerações seguintes de jornalistas com a falsa percepção de que a reportagem esportiva é, basicamente, um encadeamento de gracinhas televisivas a serem adaptadas às demais linguagens jornalísticas, a partir do pressuposto de que o consumidor de informações de esporte é, basicamente, um retardado mental.

Por diversas razões, Vanucci deixou a Globo, mas a Globo nunca mais abandonou o estilo unidunitê-salamê-minguê nas suas coberturas esportivas, povoadas por sorridentes repórteres de camisa pólo colorida. Aliás, para ser justo, não só a Globo. Todas as demais emissoras adotaram o mesmo estilo, com igual ou menor competência, dali para frente.

Passados quase 25 anos, o estilo burlesco de se cobrir esporte no Brasil passou a ser uma regra, quando não uma doutrina, apoiado na tese de que, ao contrário das demais áreas de interesse humano, esporte é apenas uma brincadeira, no fim das contas. Pode ser, quando se fala de handebol, tênis de mesa e salto ornamental, mas não de futebol. O futebol, dentro e fora do país, mobiliza imensos contingentes populacionais e está baseado num fluxo de negócios que envolve, no todo, bilhões de reais. Ao lado de seu caráter lúdico, caminha uma identidade cultural que, no nosso caso, confundi-se com a própria identidade nacional, a ponto de somente ele, o futebol, em tempos de copa, conseguir agregar à sociedade brasileira um genuíno caráter patriótico. Basta ver os carros cobertos de bandeiras no capô e de bandeirolas nas janelas.

É o momento em que mesmos os ricos, sempre tão envergonhados dos maus modos da brasilidade, passam a ostentar em seus carrões importados e caminhonetes motor 10.0 esse orgulho verde-e-amarelo de ocasião. Não é pouca coisa, portanto.

Na Copa de 2006, na Alemanha, essa encenação jornalística chegou ao ápice em torno da idolatria forçada em torno da seleção brasileira penta campeã do mundo, então comandada pelo gentil Carlos Alberto Parreira. Naquela copa, a dominação da TV Globo sobre o evento e o time chegou ao paroxismo. A área de concentração da seleção tornou-se uma espécie de playground particular dos serelepes repórteres globais, lá comandados pela esfuziante Fátima Bernardes, a produzir pequenos reality shows de dentro do ônibus do escrete canarinho. Na época, os repórteres da Globo eram obrigados a entrar ao vivo com um sorriso hiperplastificado no rosto, com o qual ficavam paralisados na tela, como em uma overdose de botox, durante aqueles segundos infindáveis de atraso de sinal que separam as transmissões intercontinentais.

Quatro anos antes, Fátima Bernardes havia conquistado espaço semelhante na bem sucedida seleção de Felipão. Sob os olhos fraternais do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi eleita a musa dos jogadores, na Copa de 2002, no Japão. Dentro do ônibus da seleção. Alguém se lembra disso? Eu e a Globo lembramos, está aqui.

O estilo grosseiro e inflexível de Dunga desmoronou esse mundo colorido da Globo movido por reportagens engraçadinhas e bajulações explícitas confeitadas por patriotadas sincronizadas nos noticiários da emissora. Sem acesso direto, exclusivo e permanente aos jogadores e aos vestiários, a tropa de jornalistas enviada à África do Sul se viu obrigada a buscar informações de bastidores, a cavar fontes e fazer gelados plantões de espera com os demais colegas de outros veículos.

Enfim, a fazer jornalismo. E isso, como se sabe, dá um trabalho danado. Esse estado de coisas, ao invés de se tornar um aprendizado, gerou uma reação rançosa e desproporcional, bem ao estilo dos meninos mimados que só jogam porque são donos da bola. Assim, o sorriso plástico dos repórteres e apresentadores se transformou em carranca e, as gracinhas, em um patético editorial.

Dunga será demitido da seleção, vença ou perca o mundial. Os interesses comerciais da TV Globo e da CBF estão, é claro, muito acima de sua rabugice fronteiriça e de sua saudável disposição de não se submeter à vontade de jornalistas acostumados a abrir caminho com um crachá na mão. Mas poderá nos deixar de herança o fim de uma era medíocre da crônica esportiva, agora defrontada com um fenômeno com o qual ela pensava não mais ter que se debater: o jornalismo. 

Fonte: Carta Capital

O totalitarismo global.

   Dunga foi perseguido pelo pseudo jornalismo da Globo por não ter permitido à emissora fazer da concentração brasileira em 2010 um reality show como na Copa da Alemanha em 2006 quando a seleção era comandada mercenário Carlos Alberto Parreira. Parreira capacho de Ricardo Teixeira e da Globo permitia aos repórteres da Globo  acompanhar a delegação no ônibus, no vestiário e na concentração. Dunga acusado de ser mal educado fez com que todos os repórteres da Globo, inclusive a Senhora Bonner, a fazer plantões na porta do hotel da seleção, da concentração, etc como todo e qualquer reporter independente de qual emissora ele representasse. Dunga fez algo mais importante que trazer o Hexa, ele quebrou a hegemonia totalitária da Globo nas transmissões  das Copas do Mundo.
     O totalitarismo da Globo pode ser visto no editorial lido pelo comediante Tadeu Shimith, adorado por fazer piadinhas durante seus comentários infames.

Memória Born To Lose - Carta de João Ubaldo Ribeiro à FHC

     Caros leitores, esta postagem traz um texto de João Ubaldo Ribeiro à FHC em 1998, quando o sociólogo era eleito para o seu segundo mandato como presidente do Brasil. João Ubaldo não foi comedido, falou o que achava que devia falar. Naquele momento João Ubaldo era colunista da Folha de São Paulo, que proibiu a publicação do texto, porém, foram obrigados a publicá-la para não terem que vestir a carapuça da censura. Boa leitura.


Senhor Presidente – João Ubaldo Ribeiro

Por Editor, 22 de setembro de 2008 0:01
25 de outubro de 1998

Senhor Presidente,
Antes de mais nada, quero tornar a parabenizá-lo pela sua vitória estrondosa nas urnas. Eu não gostei do resultado, como, aliás, não gosto do senhor, embora afirme isto com respeito. Explicito este meu respeito em dois motivos, por ordem de importância. O primeiro deles é que, como qualquer semelhante nosso, inclusive os milhões de miseráveis que o senhor volta a presidir, o senhor merece intrinsecamente o meu respeito. O segundo motivo é que o senhor incorpora uma instituição basilar de nosso sistema político, que é a Presidência da República, e eu devo respeito a essa instituição e jamais a insultaria, fosse o senhor ou qualquer outro seu ocupante legítimo. Talvez o senhor nem leia o que agora escrevo e, certamente, estará se lixando para um besta de um assim chamado intelectual, mero autor de uns pares de livros e de uns milhares de crônicas que jamais lhe causarão mossa. Mas eu quero dar meu recadinho.
Respeito também o senhor porque sei que meu respeito, ainda que talvez seja relutante privadamente, me é retribuído e não o faria abdicar de alguns compromissos com que, justiça seja feita, o senhor há mantido em sua vida pública – o mais importante dos quais é com a liberdade de expressão e opinião. O senhor, contudo, em quem antes votei, me traiu, assim como traiu muitos outros como eu. Ainda que obscuramente, sou do mesmo ramo profissional que o senhor, pois ensinei ciência política em universidades da Bahia e sei que o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico. Mas, como dizia antigo personagem de Jô Soares, eu acreditei.
O senhor entrou para a História não só como nosso presidente, como o primeiro a ser reeleito. Parabéns, outra vez, mas o senhor nos traiu. O senhor era admirado por gente como eu, em função de uma postura ética e política que o levou ao exílio e ao sofrimento em nome de causas em que acreditávamos, ou pelo menos nós pensávamos que o senhor acreditava, da mesma forma que hoje acha mais conveniente professar crença em Deus do que negá-la, como antes. Em determinados momentos de seu governo, o senhor chegou a fazer críticas, às vezes acirradas, a seu próprio governo, como se não fosse o senhor seu mandatário principal. O senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo. Político competente é Antônio Carlos Magalhães, que manda no Brasil e, como já disse aqui, se ele fosse candidato, votaria nele e lhe continuaria a fazer oposição, mas pelo menos ele seria um presidente bem mais macho que o senhor.
Não gosto do senhor, mas não tenho ódio, é apenas uma divergência histórico-glandular. O senhor assumiu o governo em cima de um plano financeiro que o senhor sabe que não é seu, até porque lhe falta competência até para entendê-lo em sua inteireza e hoje, levado em grande parte por esse plano, nos governa novamente. Como já disse na semana passada, não lhe quero mal, desejo até grande sucesso para o senhor em sua próxima gestão, não, claro, por sua causa, mas por causa do povo brasileiro, pelo qual tenho tanto amor que agora mesmo, enquanto escrevo, estou chorando.
Eu ouso lembrar ao senhor, que tanto brilha, ao falar francês ou espanhol (inglês eu falo melhor, pode crer) em suas idas e vindas pelo mundo, à nossa custa, que o senhor é o presidente de um povo miserável, com umas das mais iníquas distribuições de renda do planeta. Ouso lembrar que um dos feitos mais memoráveis de seu governo, que ora se passa para que outro se inicie, foi o socorro, igualmente a nossa custa, a bancos ladrões, cujos responsáveis permanecem e permanecerão impunes. Ouso dizer que o senhor não fez nada que o engrandeça junto aos corações de muitos compatriotas, como eu. Ouso recordar que o senhor, numa demonstração inacreditável de insensibilidade, aconselhou a todos os brasileiros que fizessem check-ups médicos regulares. Ouso rememorar o senhor chamando os aposentados brasileiros de vagabundos. Claro, o senhor foi consagrado nas urnas pelo povo e não serei eu que terei a arrogância de dizer que estou certo e o povo está errado. Como já pedi na semana passada, Deus o assista, presidente. Paradoxal como pareça, eu torço pelo senhor, porque torço pelo povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados, com o qual o senhor, em seu palácio, não convive, mas eu, que inclusive sou nordestino, conheço muito bem. E ouso recear que, depois de novamente empossado, o senhor minta outra vez e traga tantas ou mais desditas à classe média do que seu antecessor que hoje vive em Miami.
Já trocamos duas ou três palavras, quando nos vimos em solenidades da Academia Brasileira de Letras. Se o senhor, ao por acaso estar lá outra vez, dignar-se a me estender a mão, eu a apertarei deferentemente, pois não desacato o presidente de meu país. Mas não é necessário que o senhor passe por esse constrangimento, pois, do mesmo jeito que o senhor pode fingir que não me vê, a mesma coisa posso eu fazer. E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais.
 Fonte: Alma Carioca.

Serra, o brasileiro não é burro.

      A campanha tucana mostra sinais de desespero. A ultima acusação da aliança PSDB/DEM, ou DEMO, representada pelas acusações absurdas à candidata do PT Dilma Roussef de ter quebrado o sigilo da filha de Jose Serra, Verônica Serra, de tão banal e infundada acaba dispensando qualquer tipo de defesa. Contudo encontrei uma postagem interessante no blog do Luis Nassif, em que numa reportagem que saiu esta semana na revista Carta Capital nos é revelado ou melhor, nos é recordado, que Verônica Serra esteve envolvida em uma esquema de quebra de sigilo bancário em 2001, quando era sócia de Verônica Dantas, irmã dele, Daniel Dantas, na empresa Decidir.com. Serra em sua propaganda eleitoral vem acusando sordidamente Dilma Roussef de estar envolvendo a pobre e indefesa filha dele Serra em joguete político e bla, bla, bla para atingi-lo. Bom o discurso demagógico e covarde de Serra insulta a inteligência do eleitor brasileiro, pois, qual seria o interesse do PT em quebrar o sigilo de quem quer que seja, ainda mais da filha do Serra,  que como o candidato mesmo defende, nada tem a ver com a política nacional,  estando a candidata Dilma Roussef em 1o lugar nas pesquisas, resultado que mostra a vitória de Dilma já no dia 03 de outubro. Vejam, pensem bem, é preciso mesmo atingir Serra de alguma forma, uma vez que sua derrota está mais que garantida? Serra o povo brasileiro não é burro como você parece acreditar. Leiam a reportagem abaixo e conheçam um pouco mais do passado de Serra e sua filha.

Aventuras das duas Verônicas

Por Webster Franklin
Carta Capital: filha de Serra expôs sigilo de milhões de pessoas
A revista CartaCapital que está nas bancas nesta semana traz reportagem de Leandro Fortes que vai colocar em apuros o tucano José Serra. Segundo a reportagem, baseada em documentos oficiais, por 15 dias no ano de 2001, no governo FHC/Serra a empresa Decidir.com abriu o sigilo bancário de 60 milhões de brasileiros. A Decidir.com é o resultado da sociedade, em Miami, da filha de Serra, Verônica Serra,  com a irmã de Daniel Dantas. Veja abaixo a reportagem de CartaCapital.
Extinta empresa de Verônica Serra expôs os dados bancários de 60 milhões de brasileiros obtidos em acordo questionável com o governo FHC
30 de janeiro de 2001, o peemedebista Michel Temer, então presidente da Câmara dos Deputados, enviou um ofício ao Banco Central, comandado à época pelo economista Armínio Fraga. Queria explicações sobre um caso escabroso. Naquele mesmo mês, por cerca de 20 dias, os dados de quase 60 milhões de correntistas brasileiros haviam ficado expostos à visitação pública na internet, no que é, provavelmente uma das maiores quebras de sigilo bancário da história do País. O site responsável pelo crime, filial brasileira de uma empresa argentina, se chamava Decidir.com e, curiosamente, tinha registro em Miami, nos Estados Unidos, em nome de seis sócios. Dois deles eram empresárias brasileiras: Verônica Allende Serra e Verônica Dantas Rodenburg.
Ironia do destino, a advogada Verônica Serra, 41 anos, é hoje a principal estrela da campanha política do pai, José Serra, justamente por ser vítima de uma ainda mal explicada quebra de sigilo fiscal cometida por funcionários da Receita Federal. A violação dos dados de Verônica tem sido extensamente explorada na campanha eleitoral. Serra acusou diretamente Dilma Rousseff de responsabilidade pelo crime, embora tenha abrandado o discurso nos últimos dias.
Naquele começo de 2001, ainda durante o segundo mandato do presidente FHC, Temer não haveria de receber uma reposta de Fraga. Esta, se enviada algum dia, nunca foi registrada no protocolo da presidência da Casa. O deputado deixou o cargo menos de um mês depois de enviar o ofício ao Banco Central e foi sucedido pelo tucano Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais, hoje candidato ao Senado. Passados nove anos, o hoje candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff garante que nunca mais teve qualquer informação sobre o assunto, nem do Banco Central nem de autoridade federal alguma. Nem ele nem ninguém.
Graças à leniência do governo FHC e à então boa vontade da mídia, que não enxergou, como agora, nenhum indício de um grave atentado contra os direitos dos cidadãos, a história ficou reduzida a um escândalo de emissão de cheques sem fundos por parte de deputados federais.
Temer decidiu chamar o Banco Central às falas no mesmo dia em que uma matéria da Folha de São Paulo informava que, graças ao passe livre do Decidir.com, era possível a qualquer um acessar não só os dados bancários de todos os brasileiros com conta corrente ativa, mas também o Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), a chamada “lista negra”do BC. Com base nessa facilidade, o jornal paulistano acessou os dados bancários de 692 autoridades brasileiras e se concentrou na existência de 18 deputados enrolados com cheques sem fundos, posteriormente constrangidos pela exposição pública de suas mazelas financeiras.
Entre esses parlamentares despontava o deputado Severino Cavalcanti, então do PPB (atual PP) de Pernambuco, que acabaria por se tornar presidente da Câmara dos Deputados, em 2005, com o apoio da oposição comandada pelo PSDB e pelo ex-PFL (atual DEM). Os congressistas expostos pela reportagem pertenciam a partidos diversos: um do PL, um do PPB, dois do PT, três do PFL, cinco do PSDB e seis do PMDB. Desses, apenas três permanecem com mandato na Câmara, Paulo Rocha (PT-PA), Gervásio Silva (DEM-SC) e Aníbal Gomes (PMDB-CE). Por conta da campanha eleitoral, CartaCapital conseguiu contato com apenas um deles, Paulo Rocha. Via assessoria de imprensa, ele informou apenas não se lembrar de ter entrado ou não com alguma ação judicial contra a Decidir.com por causa da quebra de sigilo bancário.
Na época do ocorrido, a reportagem da Folha ignorou a presença societária na Decidir.com tanto de Verônica Serra, filha do candidato tucano, como de Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity. Verônica D. e o irmão Dantas foram indiciados, em 2008, pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, por crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal, formação de quadrilha, gestão fraudulenta de instituição financeira e empréstimo vedado. Verônica também é investigada por participação no suborno a um delegado federal que resultou na condenação do irmão a dez anos de cadeia. E também por irregularidades cometidas pelo Opportunity Fund: nos anos 90, à revelia das leis brasileiras, o fundo operava dinheiro de nacionais no exterior por meio de uma facilidade criada pelo BC chamada Anexo IV e dirigida apenas a estrangeiros.
A forma como a empresa das duas Verônicas conseguiu acesso aos dados de milhões de correntistas brasileiros, feita a partir de um convênio com o Banco do Brasil, sob a presidência do tucano Paolo Zaghen, é fruto de uma negociação nebulosa. A Decidir.com não existe mais no Brasil desde março de 2002, quando foi tornada inativa em Miami, e a dupla tem se recusado, sistematicamente, a sequer admitir que fossem sócias, apesar das evidências documentais a respeito. À época, uma funcionária do site, Cíntia Yamamoto, disse ao jornal que a Decidir.com dedicava-se a orientar o comércio sobre a inadimplência de pessoas físicas e jurídicas, nos moldes da Serasa, empresa criada por bancos em 1968. Uma “falha”no sistema teria deixado os dados abertos ao público. Para acessá-los, bastava digitar o nome completo dos correntistas.
A informação dada por Yamamoto não era, porém, verdadeira. O site da Decidir.com, da forma como foi criado em Miami, tinha o seguinte aviso para potenciais clientes interessados em participar de negócios no Brasil: “encontre em nossa base de licitações a oportunidade certa para se tornar um fornecedor do Estado”. Era, por assim dizer, um balcão facilitador montado nos Estados Unidos que tinha como sócias a filha do então ministro da Saúde, titular de uma pasta recheada de pesadas licitações, e a irmã de um banqueiro que havia participado ativamente das privatizações do governo FHC.
A ação do Decidir.com é crime de quebra de sigilo fiscal. O uso do CCF do Banco Central é disciplinado pela Resolução 1.682 do Conselho Monetário Nacional, de 31 de janeiro de 1990, que proíbe divulgação de dados a terceiros. A divulgação das informações também é caracterizada como quebra de sigilo bancário pela Lei n˚ 4.595, de 1964. O Banco Central deveria ter instaurado um processo administrativo para averiguar os termos do convênio feito entre a Decidir.com e o Banco do Brasil, pois a empresa não era uma entidade de defesa do crédito, mas de promoção de concorrência. As duas também deveriam ter sido alvo de uma investigação da polícia federal, mas nada disso ocorreu. O ministro da Justiça de então era José Gregori, atual tesoureiro da campanha de Serra.
A inércia do Ministério da Justiça, no caso, pode ser explicada pelas circunstâncias políticas do período. A Polícia Federal era comandada por um tucano de carteirinha, o delgado Agílio Monteiro Filho, que chegou a se candidatar, sem sucesso, à Câmara dos Deputados em 2002, pelo PSDB. A vida de Serra e de outros integrantes do partido, entre os quais o presidente Fernando Henrique, estava razoavelmente bagunçada por conta de outra investigação, relativa ao caso do chamado Dossiê Cayman, uma papelada falsa, forjada por uma quadrilha de brasileiros em Miami, que insinuava a existência de uma conta tucana clandestina no Caribe para guardar dinheiro supostamente desviado das privatizações. Portanto, uma nova investigação a envolver Serra, ainda mais com a família de Dantas a reboque, seria politicamente um desastre para quem pretendia, no ano seguinte, se candidatar à Presidência. A morte súbita do caso, sem que nenhuma autoridade federal tivesse se animado a investigar a monumental quebra de sigilo bancário não chega a ser, por isso, um mistério insondável.
Além de Temer, apenas outro parlamentar, o ex-deputado bispo Wanderval, que pertencia ao PL de São Paulo, se interessou pelo assunto. Em fevereiro de 2001, ele encaminhou um requerimento de informações ao então ministro da Fazenda, Pedro Malan, no qual solicitava providências a respeito do vazamento de informações bancárias promovido pela Decidir.com. Fora da política desde 2006, o bispo não foi encontrado por CartaCapital para informar se houve resposta. Também procurada, a assessoria do Banco Central não deu qualquer informação oficial sobre as razões de o órgão não ter tomado medidas administrativas e judiciais quando soube da quebra de sigilo bancário.
Fundada em 5 de março de 2000, a Decidir.com foi registrada na Divisão de Corporações do estado da Flórida, com endereço em um prédio comercial da elegante Brickell Avenue, em Miami. Tratava-se da subsidiária americana de uma empresa de mesmo nome criada na Argentina, mas também com filiais no Chile (onde Verônica Serra nasceu, em 1969, quando o pai estava exilado), México, Venezuela e Brasil. A diretoria-executiva registrada em Miami era composta, além de Verônica Serra, por Verônica Dantas, do Oportunity, Brian Kim, do Citibank, e por mais três sócios da Decidir.com da Argentina, Guy Nevo, Esteban Nofal e Esteban Brenman. À época, o Citi era o grande fiador dos negócios de Dantas mundo afora. Segundo informação das autoridades dos Estados Unidos, a empresa fechou dois anos depois, em 5 de março de 2002. Manteve-se apenas em Buenos Aires, mas com um novo slogan: “com os nossos serviços você poderá concretizar negócios seguros, evitando riscos desnecessários”.
Quando se associou a Verônica D. Na Decidir.com, em 2000, Verônica S. era diretora para a América Latina da companhia de investimentos International Real Returns (IRR), de Nova York, que administrava uma carteira de negócios de 660 bilhões de dólares. Advogada formada pela Universidade de São Paulo, com pós-graduação em Harvard, nos EUA, Verônica S. Também se tornou conselheira de uma série de companhias dedicadas ao comércio digital na América Latina, entre elas a Patagon.com, Chinook.com, TokenZone.com, Gemelo.com, Edgix, BB2W, Latinarte.com, Movilogic e Endeavor Brasil. Entre 1997 e 1998, havia sido vice-presidente da Leucadia National Corporation, uma companhia de investimentos de 3 bilhões de dólares especializada nos mercados da América Latina, Ásia e Europa. Também foi funcionária do Goldman Sachs, em Nova York.
Verônica S. ainda era sócia do pai na ACP – Análise da Conjuntura Econômica e Perspectivas Ltda, fundada em 1993. A empresa funcionava em um escritório no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, cujo proprietário era o cunhado do candidato tucano, Gregório Marin Preciado, ex-integrante do conselho de administração do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), nomeado quando Serra era secretário de Planejamento do governo de São Paulo, em 1993. Preciado obteve uma redução de dívida no Banco do Brasil de 448 milhões de reais para irrisórios 4,1 milhões de reais no governo FHC, quando Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-arrecadador de campanha de Serra, era diretor da área internacional do BB e articulava as privatizações.
Por coincidência, as relações de Verônica S. com a Decidir.com e a ACP fazem parte do livro Os Porões da Privataria, a ser lançado pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr. Em 2011.
De acordo com o texto de Ribeiro Jr., a Decidir.com foi basicamente financiada, no Brasil, pelo Banco Opportunity com um capital de 5 milhões de dólares. Em seguida, transferiu-se, com o nome de Decidir International Limited, para o escritório do Ctco Building, em Road Town, Ilha de Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas, famoso paraíso fiscal no Caribe. De lá, afirma o jornalista, a Decidir.com internalizou 10 milhões de reais em ações da empresa no Brasil, que funcionava no escritório da própria Verônica S. A essas empresas deslocadas para vários lugares, mas sempre com o mesmo nome, o repórter apelida, no livro, de “empresas-camaleão”.
Oficialmente, Verônica S. e Verônica D. abandonaram a Decidir.com em março de 2001 por conta do chamado “estouro da bolha” da internet – iniciado um ano antes, em 2000, quando elas se associaram em Miami. A saída de ambas da sociedade coincide, porém, com a operação abafa que se seguiu à notícia sobre a quebra de sigilo bancário dos brasileiros pela companhia. Em julho de 2008, logo depois da Operação Satiagraha, a filha de Serra chegou a divulgar uma nota oficial para tentar descolar o seu nome da irmã de Dantas. “Não conheço Verônica Dantas, nem pessoalmente, nem de vista, nem por telefone, nem por e-mail”, anunciou.
Segundo ela, a irmã do banqueiro nunca participou de nenhuma reunião de conselho da Decidir.com. Os encontros mensais ocorriam, em geral, em Buenos Aires. Verônica Serra garantiu que a xará foi apenas “indicada”pelo Consórcio Citibank Venture Capital (CVC)/Opportunity como representante no conselho de administração da empresa fundada em Miami. Ela também negou ter sido sócia da Decidir.com, mas apenas “representante”da IRR na empresa. Mas os documentos oficiais a desmentem.
Fonte: CartaCapital

sábado, 14 de agosto de 2010

A Manipulação Midiatica e os rumos das eleições 2010.

Esta semana os telespectadores do Jornal Nacional, o único da TV brasileira feito em família, puderam assistir o casal William e Fátima sabatinarem os candidatos à presidência da república. Logo de cara tivemos a Dilma Rousseff respondendo às perguntas, peraí, eu disse respondendo? Desculpem, tentando responder às perguntas do casal de apresentadores. Parece que o espírito de porco que acompanha o Faustão, agora Faustinho, baixou na bancada do Jornal Nacional, impedindo que a candidata do PT conseguisse completar um único raciocínio. Dilma Rousseff foi várias vezes deselegantemente interrompida, tanto por Bonner quanto por sua patroa.  Eu disse que eles foram deselegantes? Caros leitores, peço desculpas mais uma vez, foram muito mal educados! Ou quem sabe estivessem apenas seguindo o roteiro proposto pelo diretor do jornal.
A segunda entrevista foi dirigida contou com a participação da candidata do PV Marina Silva. Mais uma vez os apresentadores foram mal educados, impedindo que Marina concluísse uma única resposta na santa paz de Deus. Ao presenciar aquele modo truculento de entrevistar a candidata Dilma Rousseff, que mais lembrava um interrogatório, não pude deixar de lembrar do episódio de 1989, quando a Globo armou para o Lula naquele debate contra o Collor, produzindo o mais famigerado caso de manipulação por parte da emissora na história das eleições do chamado período “democrático” do nosso país.  Coloco o termo democrático entre parênteses, por considerar que ações como essa da Globo, pedem que repensemos o conceito de democracia no Brasil. Assim relembrando do histórico totalitário e truculento da emissora dos Marinho, fui levado a concluir que estavam armando pra Dilma, o que me levou a esperar com mais ansiedade pela entrevista do Tucano José Serra. Contudo, a falta de educação registrada também na entrevista da Marina Silva me levou a repensar os resultados de minhas reflexões,  resolvi esperar um pouco mais antes de tirar qualquer conclusão, para evitar possíveis acusações de estar sofrendo da síndrome da teoria da conspiração que vez por outra nos afeta.
Esperei a entrevista do Serra acreditando que o mesmo iria ocorrer, que na verdade o Casal global era apenas mal educado, não sabiam a hora e a vez de falar e se calar. Esta nova disposição de espírito levou-me à surpresa, isso porque José Serra não foi interrompido uma única vez, conseguiu concluir todos os seus raciocínios. Como não pensar que a entrevista do Serra foi favorecida pela emissora? Ao menos um preconceito foi derrubado, o de que William Bonner e Fátima Bernardes são mal educados. Eles são apena funcionários exemplares de sua empresa, que seguem à risca as orientações de seus patrões.
Como o Serra pode terminar suas respostar, concluir seus raciocínios sua entrevista acabou rendendo mais e até promovendo melhor o candidato em relação aos seus adversários, ou se quiserem, às suas adversárias. O que mais chamou a minha atenção na entrevista do Serra foi a tentativa de criar um vínculo de sua figura com o povo brasileiro, através da imagem do garoto de origem humilde, o que mexeu mais uma vez minha memória, rapidamente fui levado à imagem do menino Jesus, claro, como esquecer do menino Lula.
Serra apelou ao afirmar sua origem humilde, que na verdade não era lá tão humilde assim. Serra nunca passou fome, nunca pegou no pesado, pois os pais se sacrificaram ao máximo para fazer com que o filho estudasse e tivesse um futuro grandioso. Serra chegou onde chegou graças aos pais, teve uma base familiar sólida que o permitiu estudar e se tornar um homem bem sucedido, ao menos de acordo com os parâmetros da nossa sociedade. Serra vem de uma família de classe média, pelo amor de Deus, para um país como o nosso é o mesmo que nascer em berço de ouro.  O Serra quer ser o novo Lula, ao menos do ponto de vista biográfico, mas não tem nada a ver com o Lula, que teve que trabalhar para sustentar a família, vinda do sertão pernambucano, não pôde fazer o colegial como o Serra pensando na universidade, teve que ser pragmático e fazer um curso profissionalizante. Ora não me venha com essa Serra! Sua origem pode ser humilde segundo os padrões europeus ou norte americanos, mas para o padrão brasileiro é luxuoso. Seus pais como tantos outros, como os meus, se sacrificaram pelos filhos, para que esses tivessem algo melhor do que eles. Acho que o melhor seria respeitar esse sacrifício, sem o transformar em discurso demagógico, pensando que o povo vai se identificar com sua origem, pois muito mais da metade do povo brasileiro não faz idéia do que é ter a vida de um individuo da classe média, mas sabe muito bem o que é ter a origem de um retirante nordestino que vai atrás do pote de ouro paulista.
...
Bom algum dos leitores pode terminar a leitura do texto acima e perguntar: e a Dilma que nasceu no seio de uma família burguesa e tradicional mineira, o que torna sua tradição ainda mais tradicional do que a das famílias de outros estados. Dilma Rousseff cursou o ensino fundamental no Colégio Nossa Senhora do Sion em Belo Horizonte, cuja educação se pautava na rigidez dos princípios do catolicismo. As meninas eram educadas para serem donas de casa exemplares, aprendiam todas as atividades necessárias à função de dona de casa burguesa. Até aí poderíamos pensar não ser possível à pequena Dilma fugir da formatação de uma personalidade reacionária e tradicionalista. Porém o ensino médio mudou os rumos da formação de Dilma. Prestou concurso e ingressou no Colégio Estadual Central (atual Escola Estadual Governador Milton Campos) onde cursou o curso clássico, atual ensino médio. Nesse momento entrou em contato com o movimento estudantil e começou a perceber que o seu mundo deveria ser algo mais que uma casa arrumada, eternas participações em eventos sociais acompanhada do almofadinha a quem deveria chamar de marido. Ingressou na política operária, fez parte do POLOP, organização oriunda do Partido Socialista Brasileiro que por sua vez deu origem ao Comando de Libertação Nacional (COLINA), grupo guerrilheiro cuja participação de Dilma Rousseff foi direta e ativa.
Dilma pode ter saído do berço da burguesia, assim como tantos outros líderes revolucionários, dentre eles Che e Fidel Castro, e como os citados, foi buscar a revolução ao invés de seguir comodamente a vida burguesa que suas famílias haviam lhes reservado. Tais exemplos nos mostram que a origem de uma pessoa não faz dela aquilo que ela é, se assim fosse Che, Fidel e Dilma, por exemplo, seriam hoje grandes burgueses, quem sabe capitalistas vorazes, Lula um simples peão da indústria e Serra herdaria a barraquinha de frutas do pai, estaria ainda no mercado gritando os preços das frutas. Não devemos esquecer nossa origem, porém não devemos fazer dela condição necessária para justificar aquilo que somos, nossa origem não determina nossa vida, esta é determinada a cada instante a partir do que escolhemos e concretizamos.
Devemos, portanto, estar atentos, procurar identificar os discursos vazios, utilizados para persuadir e não para esclarecer. A retórica da forma como vem sendo utilizada por determinados candidatos, objetiva construir uma imagem que consiga agregar votos aos mesmos, devemos ter cuidado para que manipulações midiáticas aliadas ao marketing eleitoreiro feito por alguns partidos substituam o voto como fator de decisão nas eleições deste ano.

Nas postagens abaixo, vocês podem conferir como foram as entrevistas de José Serra e Dilma Rousseff ao Jornal Nacional. 

Entrevista Dilma Rousseff - Jornal Nacional -09/08/2010 - William Bonner

Sabatina com José Serra - Jornal Nacional - 11/08/2010

O Genesis, segundo Crumb.

A Revista Piaui lançou uma edição especial destinada à FLIP 2010. Para minha surpresa eles divulgaram no site da revista um trecho do Genesis, quadrinho criado por Robert Crumb, que foi um dos convidados da FLIP 2010 onde falou um pouco deste seu novo trabalho. Para os amantes dos quadrinhos, da bíblia e de Robert Crumb, resolvemos disponibilizar aqui no Born To Lose o arquivo encontrado na revista Piaui. Para saber mais sobre a FLIP 2010 clic no link a seguir e visite o site da Revista Piaui http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao_46/artigo_1372/piaui_flip_2010.aspx  







quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Como estão os caminhos que nos conduzem por Salvador.


            Tive acesso ao texto que se segue abaixo através do blog Som do Roque(http://somdoroque.blogspot.com/) que chamou minha atenção por levantar um problema grave em nossa cidade, Salvador, a locomoção pela cidade. Durante toda minha graduação em filosofia na UFBA, fui andando para as aulas, saía da minha casa no Barbalho e ia caminhando até São Lázaro na Federação. Essa foi a solução que encontrei para fugir dos ônibus super lotados e dos engarrafamentos nos horários de pico. Contudo encontrei outros obstáculos, calçadas esburacas, onde constantemente tropeçava, carros estacionados nas calçadas que me obrigavam a ter que me aventurar entre os carros nas pistas, sinalizações de transito que priorizam os carros e não os pedestres, e  uma série de outras situações problemáticas, que o Pablo Florentino explora com detalhes em seu texto.
                Em Salvador os carros são cada vez mais priorizados, que o diga a obra que está sendo feita na rótula do Abacaxi. O que dizer do metrô que em dez anos de obras parece que vai inaugurar no final de 2010 um trecho de 6 km, que dará o título à nossa capital de menor sistema metroviário do mundo, ao menos nossos governantes conseguiram colocar o nome de Salvador e seu metrô no Guinnes Book.

Leiam com atenção o texto e vejam a situação dos caminhos de Salvador.
Reproduzo aqui no blog o importante texto "Cidades orientadas a carro", do amigo Pablo Florentino. Um texto para se pensar o modelo de planejamento da maioria das nossas cidades. (a nossa é Salvador)... Leiam, leiam, leiam...



___________________________________________________

CIDADES ORIENTADAS A CARRO
( talvez um pouco longo, mas necessário. Compartilho com um grupo
especial de colegas e amigos. Mas fiquem à vontade ... Fruto de quase
4 anos de observações e inquietações )

Entre uma esquina aqui e outra ali, venho observando a forma como
Salvador tem se organizado e planejado em relação ao seu elemento mais
importante: o cidadão soteropolitano. Observo um transporte
incrivelmente ruim em relação a outras cidades, mas que, ainda sim,
tem melhorado. Observo calçadas desprovidas de qualquer aparato para
receber cadeirantes. Observo uma preocupação zero com a situação de
quem anda, literalmente, com os pés no chão, pela cidade. Os pontos de
ônibus são mal assistidos, não há qualquer informação sobre as linhas
que por ali circulam, os poucos abrigos estão em péssimas condições.
Não existe qualquer preocupação em oficializar a bicicleta como um
meio viável de transporte, não só criando corredores próprios para as
magrelas, mas, acima de tudo, conscientizando o motorista de que a
bicicleta faz parte do Código Nacional de Trânsito, possui uma
legislação específica e assim deve ser respeitada. Creio que muitos
não devem saber que qualquer motorista deve manter a distância de 1,5
m de qualquer bicicleta em movimento. Enquanto Rio e Sampa estão a
multiplicar sua linha férrea e de metrô, nós seguimos sem o menor
metrô do mundo.
Pelo contrário, vemos investimentos em cada vez mais vias para carros,
ao invés de planejarmos e investirmos num sistema de transporte
público de qualidade. Poucos talvez percebam isso, mas, com certeza,
seria muito mais confortável ir e voltar do trabalho sem ter que
buzinar, que enfrentar engarrafamentos na posição de motorista, sem
ter que enfrentar faróis acesos queimando a retina, sem ter que
respirar CO2 (no caso de trens elétricos e bicicletas).

Dentro deste contexto, vemos algumas consequências. A primeira delas é
a perda do contato com a rua e com o ser humano. Muitos hoje saem de
suas casas e seus apartamentos sem colocar pé na rua, pois é o carro
que faz isso para você. Nem sequer se pisa na calçada. Chega-se ao
estacionamento do trabalho e a rua fica para trás. Deixou-se de manter
contato real com o meio que nos cerca. Onde ficou a rua? Atrás dos
vidros escurecidos dos automóveis. Perdeu-se aí o contato com a
vizinhança, pois nossa vizinhança passou a ser os condominos. Não
anda-se mais pelas ruas para comprar pão ou leite, ou um jornal de
domingo, ou para cortar o cabelo ou para comprar o tomate do molho, ou
qualquer coisa que o valha. Tudo deve ser feito através do carro.
Vejo como a maior parte das pessoas aqui perdeu o contato com a
cidade, seus espaços e paisagens. A maior parte das pessoas agora sai
de casa com o carro para qualquer lugar: trabalho, mercado, cinema,
praia, teatro, restaurante, padaria, banca de revista, bar ...
Perderam o contato visual e físico com a cidade real e preferem o
conforto e segurança psicológico oferecido pelos automóveis (sim, isso
é comprovado por estudos).

E assim, as pessoas deixaram de se olhar pelas ruas, de se cruzarem
pelas ruas, de sentirem a cidade viva! (Viva o projeto de Cassia, Dia
de Esquina, para Humanizar a Cidade, que vai ocupar as esquinas da
Manuel Dias da Silva dia 17/11). Tudo isso que citei foi transferido,
quase que totalmente, para shopping centers e supermercados. Sim, esta
é a segunda consequência da cidade orientada a automóveis. Aqueles que
se tornaram carro-dependentes, passaram também a ter estes espaços
(shoppings e supers) como referência para encontrar qualquer coisa, ou
quase qualquer coisa. Salvador se tornou a cidade dos mega shoppings.
Se queres encontrar alguma coisa, é ali que acharás o seu desejo! E
algumas vezes é, mas muitas vezes o que desejamos está ao nosso redor,
ao nosso lado, sem que a percebamos, na rua, fora destes grandes
centros aglutinadores.

A verdade é que às vezes é quase um demérito não ter carro em SSA. (
adianto desde já, não sou contra ter um carro, não sou contra quem tem
um. Aliás, quero voltar a ter um, mas não para ficar preso nos
engarrafamentos. Não estou pregando que vendam-se ou destruam-se os
carros, mas que, na oportunidade de utilizar outro meio
tranquilamente, use). Tudo tem seu espaço e momento. Se for possível
revezar, já teremos um grande avanço, pois é um carro a menos sem
ocupar espaço desnecessário, sem aquecer o ambiente, sem gastar
combustível.

Mas a realidade é que os trajetos são agora percorridos em altíssima
velocidade, sem observar o que existe ao redor ( na verdade, o contato
com o que acontece ao redor agora passa a ser através das mídias de
comunicação: TV, rádio, jornal, outdoors ...). Esta seria a terceira
consequência. Quando caminhamos, pedalamos ou estamos num transporte
público, nossa velocidade é muito menor do que se estivéssemos em um
carro. É permitido que nosso contato visual observe com maior cuidado
e melhor cadência os espaços ao redor, pois o foco sai do volante e
das marchas e se volta para o cotidiano. A observação vem
naturalmente, aprende-se mais sobre a cidade e o que ela oferece.
Muitos detalhes começam a aflorar, estabelecimentos começam a surgir,
novas possibilidades brotando. Ainda sim, existe esperança. Alguns
sinais desta retomada da urbanidade andarilha começam a se pronunciar
em bairros como Pituba, Rio Vermelho e Barra, com lojas de rua. Na
Manuel Dias isto começa a se fortalecer e mostrar que é possível.
Muitos vão me dizer: mas o transporte de Salvador é horrível! É ruim,
mas já foi pior, melhorou. E só vai melhorar se nos apropriarmos dele,
se passarmos a utilizá-lo, mesmo que parcialmente, em nosso dia a dia
e reclamar, reclamar com quem de direito. ( Evitem Bocões, Varelas e
Nas Miras que empobrecem nossa tv local, seguindo a cartilha do
terror.) Temos que pregar a liberação dos transportes alternativos,
por exemplo, a partir de uma determinada hora da noite, justamente
para atender a parcela da população que fica desassistida pelos ônibus
neste horário, ou muitos dos funcionários e garçons que atuam na
noite. Isso permitirá que mais pessoas circulem pela noite, mais
dinheiro se movimente, novos empreendimentos de entretenimento como
bares, teatros, cinemas, casas de show, se proliferem.

É necessário ocupar os espaços públicos, retomar este contato com o
comércio local, ver as pessoas sem vidros escurecidos de separação,
sentir o cheiro ou odor das ruas. Pessoas que conseguem transitar com
naturalidade pelas ruas de Salvador são cada vez
mais raras. Alguns vão gritar: " ...mas é inseguro!". Lembro de meu
pai falando de como andava de noite pela Av. Sete, namorando e
admirando as vitrines ... Sim, este tempo se perdeu, mas pode voltar.
Só depende de preenchermos os espaços públicos. Defendo uma bandeira:
COM TRANSPORTE, TUDO FICA MAIS FÁCIL! Ter acesso à Educação, chegar
ao posto de saúde, à biblioteca, ao teatro, à casa de show, ao centro
médico, à festa de aniversário. Permitir que os idosos possam
transitar mais livremente e que possam usufruir do que lhes é de
direito, evitando que gastem $$$$ e horas e horas pagando SKY, DirecTV
e revertendo estes $$$$ para algo que é local a Salvador e não um
grande conglomerado nacional, que vai concentrar seus lucros e
investimentos em alguma grande corporação do Sul/Sudeste. Fortalecer e
consumir o que é local reequilibra a sua economia, redireciona os
gastos para algo que está ao seu redor, e fortalece aquele que divide
o cotidiano com vc. Permitir que as pessoas circulem sem a necessidade
de um carro, isso impulsiona o comércio de rua, descentraliza o foco
concentrado nos shoppings. Com isso, empreendimentos locais, de
pessoas locais, podem se desenvolver, ao invés de nos tornarmos sempre
reféns das grandes redes, sejam lá do que for: roupa, fastfood,
restaurante , TV, rádio, etc...

Em Aju, nossa capital vizinha e tão sacaneada pelos baianos, pode-se
rodar a cidade com UMA PASSAGEM DE ÔNIBUS. Basta trocar de ônibus nas
estações. Isso foi pensado, foi planejado, visando o cidadão, foi uma
vontade política. Mas aqui, não existe foco no cidadão, no transeunte,
que pisa o pé no chão.

Exemplos disso são as passarelas de acesso do Iguatemi para a
Rodoviária e para o Shopping salvador: construídas mesmo para
dificultar a vida de quem não tem carro. Experimente ter alguém em sua
família que use cadeira de rodas ou tenha dificuldade em subir degraus
e a coloque para andar por Salvador ... Mas em Copacabana, Botafogo,
Flamengo, no Rio, isso é uma realidade (e só vou falar do que conheço,
do que não conheço, não falo). Observem o movimento que acontece em
cidades européias onde estão mais adiantados no pensamento e
perceberam o benefício em estimular o ciclismo como forma normal de
locomoção, não como modalidade esportiva. Toda a Europa incentiva as
pessoas a usarem seus camelos, criam sistemas de empréstimos rápidos
de bicicleta. Loucura ? Simplesmente estão diminuindo o número de
pessoas usando carro, dentro dos metrôs ou ônibus (sem falar da saúde
que estão gerando com uma prevenção indireta ao sedentarismo). Vemos
todas cidades se equipando e tomando consciência quanto ao ciclista,
mas aqui em SSA , você, enquanto usuário de bicicletas, é quase um ET,
considerado um louco, que atrapalha o trânsito. Começo a chegar a
conclusão que as pessoas aqui já nasceram dentro de um carro com a mão
na buzina, ou nunca andaram de ônibus nem pisaram na faixa. Neste
movimento atrasado de Salvador, seria mais interessante termos ruas
arborizadas, que dessem mais prazer e condições das pessoas se
deslocarem a pé, com calçamentos apropriados. Temos hoje uma cultura
na administração municipal de simplesmente acabar com as árvores. Aos
poucos, a cidade perde sombras, a cidade perde verdes, a cidade perde
frescor, a cidade vai sendo impermeabilizada, o concreto passa a se
tornar paisagem comum, que aquece e afasta o cidadão das calçadas.
Nossa frota de ônibus começa a se recolher já a partir das 22h. Depois
da meia-noite, o problema se instala com os permoitões, com linhas que
ninguém conhece, de longos trajetos e poucos carros: nada atrativos
para justificar que as pessoas tenham certeza em sair pela noite
usando o transporte público, garantindo tanto a ida quanto a volta.
Isso tudo afirmo de carteirinha, vivido in loco, com direito a "mão no
ônibus" e a mão em mim, nas blitz
policiais da madrugada.
Tudo isso caracteriza um grande "toque de recolher" indireto que
acontece todas as noites na soterópolis. As pessoas se veem
desencorajadas a permanecerem na rua após as 22/23 h. Mostra quanto
ainda somos medievais, e ao mesmo tempo, como o plano das grandes
montadores de automóveis conseguiu se instalar bem por aqui - nada
mais que uma reflexão trazida pelo David Byrne (sim, aquele do grupo
Talking Heads) em seu livro "Diários de Bicicleta", no qual relata
suas visitas a diversas cidades do mundo levando sua bicicleta
dobrável e interpretando cada uma das cidades a partir do olhar
ciclístico. A verdade é que as montadoras exigem uma multiplicação das
vias asfaltadas para que seus produtos possam transitar, alargando as
cidades desnecessariamente e distanciando as pessoas. Com certeza
somos hoje o grande mercado destas montadoras, pois em locais mais
civilizados, as montadores de bicicletas são as que mais crescem.

Enquanto isso, no Rio, os metrôs se equipam para permitir o transporte
de bicicletas aos fins de semana. Quase todas as linhas de ônibus
funcionam durante a madrugada, com menor número de carros, mas com
garantia de que estarão presentes na rua, ida ou volta, e com o
acréscimo do transporte alternativo em vans, que tem permissão de
funcionar a partir de certo estágio da noite. Trazer tudo isso para
SSA passa por uma mudança cultural, que demanda muito tempo, além de
uma vontade política diferente daquelas que estão organizando a
soterópolis há muitos anos.


Uma grande parcela da POPULAÇÃO DE SALVADOR já anda 365 dias sem
carro, pois cerca de 70% , não possuem esse meio de transporte. Porém
os 30% restantes devem entender que o dia mundial sem carro não é só
22 de setembro, mas qualquer dia, de janeiro a dezembro. Sempre que
for possível, ande de ônibus ou de bicicleta. Isto representa
altruísmo e solidariedade. "Uma cidade só existe para quem pode se
movimentar por ela."

Referências? Atitudes ?


http://www.mountainbikebh.com.br
http://tarifazero.org/
http://midiaindependente.org/pt/blue/2009/09/454845.shtml
http://www.bicicletada.org/tiki-index.php?page=Salvador
http://bikebook.com.br/
http://bicicletada.wordpress.com/
http://www.bicicletadanatalrn.blogspot.com/