sábado, 26 de novembro de 2011

A repercussão da Amnésia Botocuda


 No dia 09 de novembro foi publicado no site da Revista de História da Biblioteca Nacional o artigo “Amnésia botocuda” e o Centro de Memória de Ponte Nova escrito pelo pontenovense Luiz Gustavo Santos Cota e pode ser lido na integra através do link http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/amnesia-botocuda-e-o-centro-de-memoria-de-ponte-nova . Esse artigo não passou desapercebido pelos governantes pontenovenses, em especial pelo secretário da cultura, rendendo uma matéria no jornal local Folha de Ponte Nova cujo destaque foi a avaliação do secretário de cultura Gilson Oliveira do conteúdo do artigo de Luiz Gustavo. Leia a matéria na integra logo abaixo:



   O título da matéria não está à altura da discussão gerada pelo artigo de Luiz Gustavo. Uma discussão levantada por um artigo publicado numa revista conceituada e de circulação nacional merecia mais que o título simplista e porque não medíocre de Memória de PN: professor acusa e secretário de Cultura responde. O título é sensacionalista e leva ao leitor à espera de um espetáculo de baixaria, quase as cenas teatrais do quadro Exame de DNA do Ratinho. Essa expectativa é rapidamente frustrada ao se iniciar a leitura da matéria. Contudo, ela está lá e cá entre nós não revela em nada o tom sério da discussão. 
     Deixemos essa discussão para o próximo post. Gostaria aqui de falar sobre os comentários feitos pelo secretário de cultura ao artigo de Luiz Gustavo. Sinceramente, este tipo de resposta dada pelo Secretario de Cultura de Ponte Nova não me surpreende. Estamos lidando com uma visão política arcaica em Ponte Nova, incapaz de compreender que estudos como o de Luis Gustavo Santos Cota visam chamar atenção para questões que devem ser resolvidas e não encaradas como ataque fruto de um sentimento de "amargura" e "recalque". Quando em Ponte Nova houve alguém preocupado em promover um reflexão sobre nossa cultura e nossa história? Temos uma geração de pontenovenses que reflete sobre as questões políticas e sociais da cidade, quando isso aconteceu? Os governantes não vêem a oportunidade de se estabelecer um espaço democrático de debate, mas inimigos, os quais acreditam ser uma nova corja que surge para tomar-lhes o poder. Quanta ignorância! As pessoas em Ponte Nova como na maior parte do país, pensam que contribuições positivas são aquelas que chegam revestidas por elogios, que procuram como o Cândido do Voltaire, ver sempre o lado bonito, feliz e positivo das coisas. Esquecem que a crítica é o real instrumento de modificação, pois exige que uma reflexão seja feita, que um problema seja identificado e que novos caminhos sejam apontados afim de resolvê-lo. Em Ponte Nova as pessoas parecem acreditar que contribuição significa preservar, não criticar, e se sentem ofendidas, levam pro lado pessoal o debate político que visa o bem comum, portanto, público e não particular. Visão embaralhada da prática política, que visa a satisfação pessoal e não garantir o bem comum a todos os cidadãos. Esse tipo de visão é uma característica de uma forma de governo autocrática que não reconhece erros e não sabe lidar com suas próprias falhas. Falam de democracia, mas esquecem que uma atividade política democrática significa ouvir posições contrárias, estar aberto a lidar com os problemas que porventura possam ser identificados pelos cidadãos que chamam pra si a responsabilidade sobre as decisões políticas de sua cidade, estado ou país. Quando os governantes, que esquecem que na verdade nos representam nos espaços consagrados às decisões políticas, consideram apenas a si mesmos como agentes políticos e portanto como únicos a serem capazes de questionar e dizer o que está certo e o que está errado na sociedade, a democracia já não existe. E sendo está a visão política que impera em Ponte Nova, só podemos esperar respostas evasivas, ignorantes e anti democráticas como está direcionada ao seu trabalho. Mais uma vez parabenizo Luis Gustavo Cota pelo artigo que procura gerar um debate importante sobre o tratamento político dado à questão histórico-cultural de nossa cidade. Que este seja apenas um dos muitos trabalhos que estão por vir.












terça-feira, 8 de novembro de 2011

As Olimpíadas Municipais de 2012

                       2012 é ano de Olimpíadas, pelo balanço da participação dos atletas brasileiros no Pan Americano de Guadalajara este ano teremos bons resultados em Londres no próximo ano. Além das Olimpíadas outra disputa acontecerá em 2012, a corrida por votos pelos candidatos que concorrerão à cargos públicos municipais nas modalidades Vereador e Prefeito. Os resultados dessa disputa afetarão diretamente a vida dos habitantes das cidades ao longo dos próximos quatro anos, portanto devemos começar a refletir sobre as eleições o quanto antes. Isso porque um fenômeno bastante raro, que ocorre de três em três anos, ocasionado pelos governistas, surge com muita força: a execução de obras populares em larga escala.
            Geralmente as gestões municipais relapsas deixam os problemas acumularem ao longo dos anos de sua administração, para que nos anos ou meses finais de seus mandatos possam executar certas obras que darão à população a sensação de que os problemas estão sendo resolvidos, que a administração atual é competente e preocupada com o bem do povo. Contudo parte dos problemas são resolvidos, apenas aqueles mais emergenciais, que aliás poderiam ter sido solucionados há muito mais tempo. Por estarmos presos ao presente, acabamos apoiando nossos critérios de julgamentos nos acontecimentos ressentes, deixando para trás, perdidos nos porões da memória as situações passadas. Realizando esse tipo de manobra, os governantes fortalecem seus argumentos, persuadem a população com fatos recentes encobrindo dos descasos do passado.
            Infelizmente não voto na cidade em que nasci, Ponte Nova, mas na cidade que escolhi para morar desde 2000, Salvador. Contudo, acompanhei ao longo da última década a vida política de Ponte Nova. A administração atual é marcada por críticas bastante fortes por parte da população, insatisfeita pela demora de conclusão de alguns trechos da Beira Rio, danificados pela última enchente que devastou o município em 2008. Ano passado uma manifestação organizada por alguns cidadãos pontenovenses “comemora” os dois anos da obra que deveria ter sido realizada num período de 180 dias (6 meses) como mostra a foto abaixo, mas que se arrastava há dois anos.



            A obra foi concluída este ano, muito tempo depois da data prevista de sua conclusão oficial. A foto está aí para que não esqueçamos que as dificuldades que vividas durante dois anos e meio poderiam ter sido evitadas se o prazo de execução da obra fosse cumprido. Ironicamente o ano de sua conclusão antecede o ano das eleições municipais, 2012.
Soma-se a este problema outro que há anos atormentava os moradores da “Beira Linha” na Vila Centenário. A rua Ernesto Trivelato que dá acesso aos ônibus ao Terminal Rodoviário de Ponte Nova aflige a população local desde sua inauguração. A falta de manutenção da rua causou a deterioração do calçamento de pedra, revestimento facilmente danificado pelas chuvas e pelos ônibus, mostrando a imcompetencia dos orgãos responsáveis em não perceber a inadequação deste tipo de revestimento ao transito de veículos de médio e grande porte.
O deterioramenteo do calçamento tornou ainda mais difícil o transito no local, pois em tempos de chuva formava-se um lamaçal que ainda por cima preparava armadilhas para os motoristas encobrindo os buracos. Durante os periodos de estiagem uma constante nuvem de poeira afetava a saúde das pessoas que residem no local, além de acumular poeira no interio de suas casas danificando movéis, eletrodomesticos e sujado a fachada e as parede internas das casas.  
            Escrevo sobre o problema no passado pelo fato de a Prefeitura Municipal de Ponte Nova ser acometida de um raro momento de lucidez e ter asfaltado a Rua Ernesto Trivelato. No perfil do facebook da Prefeitura Municipal de Ponte Nova encontramos o seguinte texto sobre a obra que foi feita para solucionar o problema:
Asfaltamento da Ernesto Trivelato provoca valorização imobiliária

A Prefeitura de Ponte Nova finaliza nesta quarta-feira 9/11, o asfaltamento da rua Ernesto Trivelato, na Chácara Vasconcelos, interligando a rua João Alves de Oliveira ao Terminal Rodoviário. A obra faz parte do conjunto de benfeitorias realizadas desde o bairro da Rasa, toda a extensão da rua João Alves de Oliveira até a Rodoviária Nova com orçamento inicial de R$ 544.199,03. Os recursos financeiros são provenientes da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, SETOP/MG e foram obtidos mediante emenda parlamentar do deputado estadual Bráulio Braz, atual secretário de Estado de Esportes e Juventude de Minas Gerais. 
Ricardo Murad Semião, Diretor-Geral do Dmaes, autarquia municipal que se localiza naquela via pública, avalia de forma muito positiva os trabalhos de modernização da via publica: “O fluxo de pessoas que procuram o Dmaes é muito grande. A partir de agora haverá muito mais conforto e as pessoas ficarão mais satisfeitas. A valorização de terrenos e imóveis no entorno da rua será muito grande. E devemos acrescentar que esta rua será muito utilizada para desafogar o trânsito de outras importantes ruas”, disse.
            Se você mora ou conhece alguém que vive na Rua Ernesto Trivelato, Rua Beira Linha e adjacências sabe que algumas informações estão faltando na postagem da Prefeitura Municipal de nossa querida Ponte Nova. Eles não mencionam a manifestação realizada pelos moradores em setembro deste ano que num ato de indignação quanto ao descaso do poder público pontenovense interditou a rua a fim de chamar atenção para à situação. Conversei via internet com alguns moradores da rua que antes de impedirem a passagem dos veículos procuraram a prefeitura para conversar sobre o transtorno causado pela nuvem de poeira levantada pelos veículos que transitam por ali. Foi estipulado um prazo de quinze dias para solução do problema, que caso não fosse resolvido, avisaram os moradores, resultaria na interdição da rua por parte dos mesmos. Adivinhem o que aconteceu, isso mesmo, o prazo não foi cumprido pela prefeitura e os moradores foram obrigados a realizar a interdição da rua. O jornal Folha de Ponte Nova noticiou a manifestação que recebeu destaque na primeira página:



            Abaixo os comentários que alguns moradores postaram na página da prefeitura no facebook na referida postagem:
Mike Douglas Meio KM de asfalto, demoraram uma eternidade pra terminar... ( e ainda acham que é mérito deles ). Isso se chama obrigação, de quem tem uma cidade pra gerenciar, além de que essa "verba" saiu junto da "verba" p/ as obras no bairro da RAZA, engraçado, o asfalto lá já está até velho!!!! ARRRRG'
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Vitor Coelho é isso aí....não tem como justificar.....e agora vem dizer que este asfaltamento vai trazer valorização imobiliaria, beneficios, etc e tal...se iria trazer tanta coisa boa assim pq então só depois do povo cair em cima e exigir seus direitos é que esta chamada obra saiu? Foram anos, anos e mais anos vivendo na poeira e esperando, esperando e esperando....
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Natalia Delgado Kkkk os moradores q não correm atras pra vê se esse asfalto saia.

Zi Lopes Prefeitura Ponte Nova MG,deixa eu te perguntar,tem alguma previsão do asfalto da rua carangola,como que ta o andamento,desde ja agradecida.
A resposta dada  pelos responsáveis pelo perfil no facebook foi a seguinte:

Prefeitura Ponte Nova MG Caro Mike, e a quem interessar possa, o Governo Municipal é ciente de suas obrigações formais, e informais, regidas pelas diversas leis e regras de convivêcia social. Independente do nivelamento das ponderações as ações municipais são feitas de maneira sistemática obedecendo-se diretrizes e normas que regem a administração público. Infelizmente, por questões diversas, muitas fora do controle do administrador municipal, um projeto/ planejamento sofre alterações com atrasos em seus prazo de execução. Os gestores da Prefeitura e servidores municipais não trabalham com o objetivo de errar, de trazer transtorno para a população. Pedimos desculpas a você, seus familiares e amigos, por qualquer tipo de falha ou transtorno/atraso que tenha causado prejuízo, transtorno. Você pode não concordar ou não, o que é direito seu, mas tanto a atual administração quanto a anterior, tem méritos em lutar e ter lutado com sucesso na captação de mais recursos financeiros no Estado e na União, fortalecendo o erário municipal.O orçamento sozinho da Prefeitura não daria condições para tantas obras que vêm sendo realizadas ao longo dos últimos anos. Grato pelo contato.
há 8 horas · Curtir

            Ao longo de mais de dois anos e meio de mandato a prefeitura alega não ter em seus cofres recursos que pudessem ser destinados à esta obra. Estranha essa alegação haja vista a simplicidade da obra, asfaltar uma rua, que não é qualquer rua segundo a própria postagem da prefeitura, pois a própria prefeitura alega na postagem a importância da revitalização da mesma visto que vai melhor o acesso à rodoviária por parte dos morados de bairros como Triângulo, Triângulo Novo e Raza, além de melhorar o acesso de toda população à DEMAES (Departamento Municipal de Água, Esgoto e Saneamento de Ponte Nova). Se a obra era considerada tão importante e traria tantas vantagens à população, por que sua execução não foi priorizada pela administração municipal? Por que apenas após o protesto dos moradores ela foi realizada? Será que o asfaltamento da Rua Ernesto Trivellato seria feita caso não estivéssemos às vésperas de um ano eleitoral em que o atual prefeito tentará se reeleger?
            Essas questões surgem pelo fato de que a obra da Beira Rio, mesmo com protesto realizado pela população no ano passado2010, como mostra a foto abaixo, não foi solucionada de imediato, mas apenas este ano, em 2011. Não é estranho esse interesse da prefeitura em finalizar obras, em atender quase que de imediato as reivindicações da população, como no caso dos moradores da “Beira Linha”?







Manifestação dos Moradores: interdição da Rua Ernesto Trivellato.

Manifestação dos Moradores: interdição da Rua Ernesto Trivellato.
Asfaltamento da Rua Ernesto Trivellato: Preocupação
com a situação difícil dos morados ou investimento
na reeleição em 2012?

Asfaltamento da Rua Ernesto Trivellato: Preocupação
com a situação difícil dos morados ou investimento
na reeleição em 2012?

Asfaltamento da Rua Ernesto Trivellato: Preocupação
com a situação difícil dos morados ou investimento
na reeleição em 2012?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

II FESTPON - II Festival de Teatro de Ponte Nova - MG



O NAED – NÚCLEO ARTÍSTICO EDUCACIONAL, a CIA TEATRO DE BOLSO e o GRUPO DE TEATRO VIVER COM ARTE, todos grupos teatrais de Ponte Nova, anunciam o lançamento do II FESTPON – FESTIVAL DE TEATRO DE PONTE NOVA. O Festival acontecerá de 13 a 21/08/11 com apresentações gratuitas na Praça de Palmeiras e Teatro do CSDH. A novidade este ano serão as intervenções teatrais que acontecerão na semana que antecede o festival nas escolas públicas de Ponte Nova. Será feita também campanha de arrecadação de alimentos que serão doados às instituições sociais de nossa cidade. Parcerias com o Departamento de Artes da Universidade Federal de Ouro Preto já foram estabelecidas e há presença confirmada de grupos de Barbacena e Itabirito. 

domingo, 24 de julho de 2011

Saído do forno, Love Story.

Capa do álbum Love Story. Capa feita por Carlos Oliveira.

   O que vem a cabeça de vocês quando alguém diz ter gravado um cd só com voz e violão? Certamente o mesmo que eu, mais um som daqueles pra se ouvir em casa quando se está incapacitado de se dirigir ao bar mais próximo. Não é o caso do álbum Love Story do violonista, poeta e compositor pontenovense Carlos Oliveira. Aproveitando da habilidade e refinado senso musical Carlos gravou e produziu seu álbum que não repete a já saturada fórmula MPB cuja referência são os padrões harmônicos e melódicos do Djavan. O que vocês irão encontrar em Love Story é uma musicalidade original que tenta encontrar novos caminhos sonoros para esse formato já estigmatizado que é a combinação voz e violão. Em cada música encontramos um ritmo diferente embalado por dedilhados e batidas próprias desse  músico. Se há algo de semelhante entre as músicas que compõem o álbum é a expressão de um sentimento de saudade, de vontade de se chegar a algum lugar ou encontrar alguém que há muito tempo não se vê. Essa me parece ser a tônica da musicalidade presente em Love Story, a solidão, a necessidade de preencher um vazio que magistralmente se mostra nessa nova face dada por Carlos ao conjunto voz e violão. Nada mais solitário e mais intenso que o uivo do músico que procura apenas com sua voz e seu violão satisfazer seus anseios. 



Letras da músicas.





Contra Capa







sábado, 18 de junho de 2011

Chivas Duo - Ingrávida Split, rock´n roll direto e sem frescura

    Devido uma série de contratempos demoramos a divulgar o lançamento do Split Chivas Duo - Ingravida gravado, produzido e divulgado no peito e na raça pelos integrantes da banda, destacando o esforço sem precedentes de Bruno Bueno baterista da Chivas Duo. Tenho o prazer de ser amigo desse grande cara que não mede esforços em nome do rock e dos amigos. Sempre pronto pro que der e vier concluiu esse projeto que já havia sendo realizado por mais de um ano, brindando aos amantes do punk - hardcore uma obra que remonta às raízes desse estilo musical. A lição dos mestres Ramones "Faça você mesmo" foi levada às últimas consequências por Bruno. Correu atras da gravação, prensagem e divulgação do àlbum, sem esperar por ser descoberto como grande gênio da música, desejo da média que se intitula artista nos dias de hoje. Som nu e cru, atitude autêntica e intensa, Chivas Duo e Ingrávida promoveram um terremoto sonoro, que certamente vai levar o amante do punk ao encontro de seus instintos mais primitivos. Como as mais antigas tribos façamos nosso ritual e que ele tenha como combustível a combinação sonora Chivas Duo - Ingrávida. Som na caixa cambada!!

Abaixo um pequeno bate papo com Bruno Bueno e em seguida o link para download do Split Chivas Duo - Ingrávida.

Born To Lose: Vocês já haviam lançado uma demo, porque decidiram lançar um split e não um álbum?

Então, estava tudo pronto para lançarmos uma antologia do Chivas com todo o material gravado entre 2006 e 2008. Nesta época, o Herói do Mal, banda de BH, havia nos feito um convite para lançarmos um split e dividirmos as despesas da prensagem. Aceitamos, mas devido a alguns imprevistos acabou não vingando. Ficamos motivados com a idéia do split e nesta mesma época tocamos com o Ingravida em BH onde conhecemos melhor o trabalho da banda e começamos a manter contato via internet. Como já estava com a proposta de montar o nosso próprio selo (Porco Dio), me interessei também em lançar o Ingravida, os convidando para participar deste projeto. Aceitando o convite, acabamos deixando de lado a antologia do Chivas e investimos bastante em algumas músicas para compor o split.

Born To Lose: Gostaria que falasse um pouco da relação da Chivas Duo com a Ingravida.

Temos muito pouco contato. Nos conhecemos em 2008 em um show que tocamos juntos em BH. A partir daí mantemos contato com a Daiana, baixista da banda, via internet. O próprio convite para o split foi feito desta forma (rsrsrs). Não somos grandes amigos, nos vimos uma vez apenas, mas temos empatia por eles. Gostamos da proposta da banda, curtimos o som, apenas isso. Pode ser o início de uma grande parceria. Vamos aguardar alguns shows de lançamento do split para este ano de 2011.

Born To Lose: Por que decidiram lançar um split com a Ingrávida e não com uma banda nacional?

Não as convidamos pelo fato da banda ser argentina, mas sim por ser uma banda com quem agente se identificou bastante na época e mantínhamos certo contato. Claro que fazer esta ponte Brasil/Argentina é uma experiência muito legal dando espaço até mesmo para uma divulgação mais ampla do split, mas confesso que tudo isso foi conseqüência.

Born To Lose: Sei que a principal forma de divulgação do split está sendo no boca à boca. Foram as dificuldades de se investir numa forma de divulgação mais “profissional” que levou a optarem por essa espécie de veiculação?
Assim que foi lançado o split entrei em contato com várias distribuidoras, selos e blogs do país inteiro. Todos que corresponderam aos meus contatos eu enviei o material FREE para divulgação. O intuito do split era este, fazer com que todos os interessados tomassem conhecimento do trabalho, abrindo portas para novos contatos e shows. O primeiro material sempre é mais complicado. Você precisa usá-lo como meio de divulgação. Para ser sincero não vi outra forma a não ser esta. Ainda mais eu que sou bastante enrolado. Mais de 300 cópias do split já estão por ae. Vários cidades do Brasil inteiro, Argentina, Peru. Alguns amigos tocaram nos Eua mês passado e também levaram algumas cópias para divulgar por lá. É isso aê. Nem tanto profissional, mas com muita correria. Confesso que estou fazendo a minha parte.

Clique no link abaixo e mergulhe nas águas agitadas do punk rock mineiro.

A clarineta Mágica de Tiago Delgado

Ontem à noite conversei com Tiago depois de muito tempo. Quando ficamos sem ter notícias de um amigo é comum começarmos a conversa perguntando como vão as coisas, seguido de quais as novidades. Essas perguntas que geralmente servem apenas para iniciar a conversa e que trazem sempre respostas previsíveis (tudo bem e você, sem novidades) acabaram cumprindo uma outra função, trouxeram respostas recheadas de novidades, cuja mais surpreendente foi a participação de Tiago na 12ª edição da série Jovem Músico BDMG realizada em Belo Horizonte no dia 27 de abril deste ano.

Tiago e eu fomos vizinhos na rua da Linha, o vi crescer, acompanhei de longe, mas com grande interesse sua iniciação musical na Corporação Musical Sete de Setembro, instituição que tive o prazer de fazer parte durante toda a década de noventa, o que torna ainda mais significativa essa primeira conquista desse clarinetista de grande talento. Mesmo com todas as dificuldades impostas por sua origem humilde, por viver em uma cidade do interior mineiro que oferece poucas oportunidades para quem deseja alçar vôos mais longos em qualquer área profissional, Tiago não se intimidou, encontrou em si mesmo o que realizaria plenamente sua existência: a música. Descoberto o que daria sentido a sua existência, iniciou uma busca ávida por locais onde pudesse desenvolver cada vez mais suas habilidades. Finda sua fase na União Sete de Setembro, que já havia oferecido a Tiago tudo o que podia, o músico pôs o pé na estrada e foi buscar novos horizontes que possibilitassem a satisfação de seu desejo por dominar cada vez mais seu instrumento de expressão artística, a clarineta. Passou num vestibular concorridíssimo, disputando uma vaga com candidatos que tiveram uma formação musical mais apurada, realizada nos melhores conservatórios de Belo Horizonte e os desbancou um a um superando a todos com seu talento e esforço incansável de alcançar um nível de conhecimento teórico que a União Sete de Setembro não poderia oferecer. Encontrou grandes mestres que o auxiliaram como o professor Iura de Resende (UFSJ) e hoje é clarinetista do departamento de música de uma das universidades mais importantes do país a UFMG.

Meu amigo Tiago é agora conhecido como Tiago Delgado clarinetista a caminho de uma carreira profissional brilhante. Nós pontenovenses, principalmente nós que nos formamos musicalmente na grandiosa Corporação Musical União Sete de Setembro ficamos orgulhosos por ter esse músico como destaque de um evento de tão grande porte como a série Jovem Músico BDMG. Geralmente os músicos pontenovenses tem suas raízes musicais na música popular, Tiago Delgado segue por uma caminho novo tratando-se de Ponte Nova, a música erudita, inaugurando uma nova fase da música de nossa cidade. Ponte Nova conhecida por ser berço de grandes nomes da música popular como João Bosco e Tunai e de grandes violonistas como José Carlos Daniel, vive um momento em que nasce um novo ícone da nossa música agora nos colocando no campo da música erudita, que este seja apenas o primeiro degrau na carreira desse novo nome da música mineira, que a clarineta mágica de Tiago Delgado encante todos os grandes festivais de música erudita pelos Brasil.


Abaixo destaque para a apresentação de Tiago Delgado e outros quatros jovens músicos mineiros que

se apresentaram na 12a edição da séria Jovem Músico BDMG. A notícia foi extraída do site oficial do BDMG.

Logo após a notícia veja e ouça a apresentação de Tiago Delgado na 12a edição da séria Jovem Músico BDMG.



JOVEM MÚSICO BDMG

27/04/2011

BDMG Cultural realiza 12ª edição da série Jovem Músico BDMG


Tiago Delgado (clarinete)


Marcos Ferreira (Trompete)


Laura Von Atzingen (violino)


Fernanda Zanon (piano)


A série Jovem Músico BDMG, desenvolvida há 12 anos pelo BDMG Cultural, recomeçará no próximo dia 27 de abril, a temporada 2011 com recital na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, em Belo Horizonte.
Participam da noite de estrea os músicos: Tiago Delgado (clarinete); Marcos Ferreira(Trompete); Laura Von Atzingen (violino) e Fernanda Zanon (piano).
A seleção foi feita pelos maestros de Belo Horizonte – Lincoln Andrade (Maestro e Professor de Regência da Escola de Música da UFMG); Márcio Miranda Pontes (professor do Cefar – Palácio das Artes, Maestro Titular do Coral Lírico de Minas Gerais,Maestro Fundador do Coral BDMG) e Oiliam lanna (Compositor e Professor da Escola de Música da UFMG). A comissão julgadora selecionou 28 estudantes de música erudita, que apresentarão em solos, duos e trios ao longo do ano.

As apresentações serão de abril a novembro (exceto julho), sempre às 19h30, com quatro músicos por noite. Desde a sua criação, a série Jovem Músico BDMG já selecionou 300 músicos.

Jovem Músico BDMG
27 de abril às 19h30
Sala Juvenal Dias - Palácio das Artes
Av. Afonso Pena 1537
Belo Horizonte- MG
Ingressos: R$ 2 (inteira), R$ 1 (meia)
(renda destinada ao programa social "Raio de Luz BDMG")
Conheça os músicos, confira o programa e participe!

Thiago Delgado, clarinetista, 23 anos, mineiro de Ponte Nova, iniciou seus estudos de música aos 14 anos, na Corporação Musical União 7 de Setembro e, em 2006, se aperfeiçoou em clarinete, com o professor Iura de Resende (UFSJ). No mesmo período, participou da Big Band do Palácio das Artes. Cursa Bacharelado em clarinete na UFMG, na classe do prof. Maurício Alves Loureiro e atua como clarinetista na Orquestra Sinfônica da Escola de Música da UFMG. Participou de master classes com os professores Ovanir Buosi, Giuliano Rosas, Luis Alfonso Montanha e aulas com Marcus Julius Lander. Atualmente, tem aulas com Marcus Julius Lande, além de receber orientação do professor Dominic Desautels da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
Repertório: Widor,C – Introduction et Rondo, op. 72 – para clarinete e piano - Debussy, C. – Première Rhapsodie – para clarinete e piano.

Marcos Ferreira, 21 anos, trompetista, nasceu em Carmo do Cajuru, em Minas Gerais. Aos 12, iniciou seus estudos na banda de música de sua cidade natal, Associação Musical Cajuruense. Aos 15 começou estudar trompete na Escola Municipal de Música Maestro Ivan Silva em Divinópolis/MG, com a professora Madelon de Lellis Silva. Na ocasião, atuou no grupo de trompetes e também na orquestra da escola. Em 2009, participou do 40º Festival de Inverno da UFMG, em Diamantina, sob a orientação do professor Anor Luciano Jr. Em 2010, no III Encontro Internacional de Trompetistas promovido pela ABT (Associação Brasileira de Trompetistas), participou de master classes com Rex Richardson (EUA), Joatan Nascimento (Brasil), Jorge Almeida (Portugal), Gabriele Cassone (Itália) e Adam Rapa (EUA). Em 2011, no 6° Festival de Música de Santa Catarina (Femusc), teve aulas ministradas pelos professores Flávio Gabriel e Gilberto Siqueira (Osesp). Atualmente cursa bacharelado em trompete na UFMG, sob a orientação do professor Anor Luciano Júnior e atua no quarteto de metais chamado Timbrass.
Repertório: Arutunian, A. – Concerto para Trompete
Laura Von Atzingen, violinista, 19 anos, nasceu em Iowa City nos EUA. Começou a estudar violino aos 3 anos com a violinista Luciene Vilani, com quem permaneceu até os 10 na Escola de Formação de Instrumentista do Sesiminas-MG. A partir de 2002, foi aluna do violinista Edson Queiroz nas classes de extensão na Escola de Música da UFMG. Cursa Bacharelado em violino pela UFMG na classe do prof. Edson Queiroz. Participou de vários festivais de música: Pro-Music Festival em Juiz de Fora (2000,2004,2005,2009); Semana de Música de Ouro Branco (2005,2007) ; Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão (2007, 2008); Oficina de Música de Curitiba 2009; Festival de Santa Catarina (2007,2010); Festival Nacional de Música de Divinópolis (2011). Em 2010, no Festival junger Künstler Bayreuth na Alemanha, que reuniu pessoas do mundo inteiro, foi uma dos três brasileiros selecionados. Fez parte em orquestras de festival, tendo a oportunidade de tocar para violinistas como Alessandro Borgomanero, Augusto Trindade, Elisa Fukuda, Michel Bessler, Daniela Jung, Yang Liu, Paul Biss e Charles Stegeman. Participou de master classes com o violinista Goetz Hartmann na Semana de Música de Câmara da Fundação de Educação Artística, em 2005 e 2006.Em 2000, como solista, apresentou o Concertino para violino de Ernest Mahle, com a Orquestra Jovem do Sesiminas EFIC. Em música de câmara, se apresentou em concertos com o Grupo Diadorim (quarteto com violino, viola e dois violoncelos, formado por seu pai, irmão e irmã) e com este grupo realizou em 2007 e 2008, 33 concertos didáticos em escolas públicas de Belo Horizonte e em cidades do estado de Minas Gerais, por meio do Projeto "Música de Concerto nas Escolas 2007/2008", patrocinado pela "Lei de Benefício à Cultura".
Repertório: Béla Bartók – Danças Romenas
Marlos Nobre Desafio III
Fernanda Zanon, pianista, 24 anos, belorizontina iniciou seus estudos musicais no Núcleo Villa-Lobos de Educação Musical em 1995, aos 8 anos. Atualmente cursa Bacharelado em piano pela UFMG na classe da Professora Celina Szrvinsk e leciona piano noNúcleo Villa-Lobos de Educação Musical em Belo Horizzonte-MG. Conquistou o 1° lugar no Concurso Nacional de Piano Orestes Farinello (Goias). Participou de master classes com os professores: Luiz Senise, Michael Uhde, Gilberto Tinetti. Atualmente leciona noNúcleo Villa-Lobos de Educação Musica. Fez parte de diversos festivais:Festival Música nas Montanhas (Poços de Caldas),Semana da Música (Ouro Branco), Festival de Música FEMUSC (Santa Catarina), entre outros.
Repertório: Beethoven, L.. Sonata nº 8 – Opus 13 – Grande Sonata Patética – 1º mov.
Schumann, R. – Blumenstück – Opus 19.


Apresentação de Tiago Delgado na 12a edição da séria Jovem Músico BDMG:





terça-feira, 3 de maio de 2011

As ficções religiosas existirão enquanto houver humanos

Para Michel Onfray, autor do Tratado de ateologia: física da metafísica (São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007), que na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, classifica sua filosofia como uma filosofia das Luzes para a atualidade, a fonte do sentimento religioso é a negação da condição de mortal. Em sua opinião, “é fácil crer: tem-se resposta para tudo, a religião oferece uma metafísica, uma ontologia, uma filosofia, chaves na mão. Todas as respostas já foram dadas a todas as questões possíveis. Basta para isso ser instruído na ordem cristã. Ao passo que o ateu que reflete deve construir sozinho sua visão do mundo e isso é mais complicado”. E continua: “o recurso às ficções religiosas também terá lugar enquanto houver humanos. Somente alguns espíritos fortes viverão sem Deus, mas estes serão sempre minoritários”.

Por: IHU Online

O filósofo que assegurou ter “menos animosidade contra os ajoelhados do que contra os que fazem ajoelhar” escreveu cerca de 30 obras, nas quais formula um projeto hedonista ético, político, erótico, pedagógico, epistemológico e estético. Fundou a Université Populaire de Caen, onde leciona contra-história da filosofia. Para maiores informações, consulte o site pessoal do filósofo: http://pagesperso-orange.fr/michel.onfray/.
IHU On-Line - Você identifica na origem dos três monoteísmos uma mesma “pulsão de morte genealógica”, uma matriz niilista. Para você, então, a premissa básica da religião é o “nada endeusado”?
Michel Onfray –
 Não. Em primeiro lugar é menos a pulsão de morte do que o medo da morte, a vontade de não morrer, o temor desesperado de dever desaparecer um dia, a impossibilidade de enfrentar o nada face a face, olhando-o diretamente em seus olhos, se posso expressar-me assim. A negação da condição de mortal, eis a fonte do sentimento religioso.
IHU On-Line - Violência, intolerância e religião andam, necessariamente, lado a lado? Por quê?
Michel Onfray -
 Não exatamente. Eu não sou tão caricatural a ponto de ter essa idéia, e eu nunca pensei que, se as religiões não tivessem conduzido o mundo, jamais teria havido nem guerras, nem violência, nem intolerância! Mas eu constato que as três religiões monoteístas que se dizem de paz, de tolerância e de amor, paradoxalmente geraram muitas guerras, muita intolerância e ódio, em nome de sua pretendida mensagem de paz, de tolerância e de amor.
IHU On-Line - Dawkins, Dennet e Harris são acusados de combater o fundamentalismo religioso com um fundamentalismo ateísta. Qual é o seu ponto de vista a respeito?
Michel Onfray -
 Eu constatei que aqueles que censuram o fundamentalismo de tal ou tal orientação são com freqüência... fundamentalistas! É uma velha lei da psicologia que quer que se censure no outro o que não se quer nem se pode censurar em si próprio. A mesma lei quer que se seja muito lúcido quanto à palha que se encontra no olho de seu vizinho, mas absolutamente incapaz de ver que há uma trave no nosso. Que se deixe de insultar (pois “fundamentalista” nesta configuração é um insulto) e que se discuta realmente, verdadeiramente, os argumentos em torno de uma mesa. E que os religiosos, tão ciosos de paz, de tolerância e de amor, comecem dando o exemplo!
IHU On-Line - Nessa mesma linha de raciocínio, como você classificaria a sua filosofia?
Michel Onfray –
 Como uma filosofia das Luzes para a atualidade. Eu me inscrevo na radicalidade do pensamento de, por exemplo, Meslier, La Mettrie ou D’Holbach, que são os filósofos do século XVIII. Eles fazem uso da razão sem nenhuma concessão e se propõem a acabar com todo pensamento mitológico.
IHU On-Line - Você afirma que o ateísmo reconcilia com a terra, o outro nome da vida. O que nos garante que o ateísmo promova essa união se, como dizia Ivan Karamazov, “se Deus não existe, tudo é permitido”?
Michel Onfray -
 É precisamente porque Deus existe que tudo é permitido! Lembrai-vos do convite de Simon de Monfort por ocasião do massacre dos albigenses: “Matai-os a todos, Deus reconhecerá os seus”. Se Deus existe, ele sabe e vê tudo, e ele restaurará no Céu a ordem que não se soube instaurar na Terra, desde que se tenha querido instaurá-la em seu nome, como dizem e pensam os crentes. Opostamente, o ateísmo afirma que, já que Deus não existe, tudo não é permitido e que, por conseguinte, é preciso estabelecer um código, regras, uma moral, uma ética contratual para viver juntos.
IHU On-Line - Por que a “fé tranqüiliza” e a “razão preocupa”? O cristão é um ser infantil, alguém que se furta da verdade?
Michel Onfray -
 Porque é fácil crer: tem-se resposta para tudo. A religião oferece uma metafísica, uma ontologia, uma filosofia, chaves na mão. Todas as respostas já foram dadas a todas as questões possíveis. Basta para isso ser instruído na ordem cristã. Ao passo que o ateu que reflete deve construir sozinho sua visão do mundo e isso é mais complicado.
IHU On-Line - Em Tratado de ateologia, você diz não recriminar os homens “que consomem experiências metafísicas para viver”, mas deplora os “vigários dos Deuses monoteístas”. Poderia explicar quais são os elementos pelos quais você apóia essa argumentação?
Michel Onfray -
 Eu de fato digo que tenho menos animosidade contra os ajoelhados do que contra os que fazem ajoelhar. Em outras palavras: eu tenho compaixão por aqueles que foram postos de joelhos, mas não por aqueles fazem pôr-se de joelhos. Pode-se crer no que se quiser, mas fazer crer me causa mal-estar. Trata-se do princípio do colonialismo estendido à alma. É o que distingue o crente do padre. O padre almeja o império sobre a alma dos outros, e eu me sinto mal com esta perspectiva.
IHU On-Line - Moisés, Paulo de Tarso, Constantino e Maomé seriam “ficções úteis”. Quais são suas referências teóricas para tal afirmativa?
Michel Onfray -
 Em duas palavras e no quadro de uma breve entrevista isso não será possível. Foi-me necessário um livro para começar a fazer um pouco a demonstração disso! Digamos que estas figuras são menos históricas do que mitológicas, que elas relevam menos história verificável nos fatos do que gestos e lendas com os quais se constrói cosmovisões úteis para constituir comunidades e civilizações.
IHU On-Line - No Tratado de ateologia, fica clara sua posição racionalista ocidental. Por que só a disjunção fé-razão é capaz de promover a Aufklärung? Religião e fé são sempre, necessariamente, incompatíveis?
Michel Onfray -
 Os cristãos pensam que não, certos muçulmanos igualmente, e um grande número de judeus também, o Papa atual, Bento XVI, crê que não. Todos os crentes dizem que eles usam a razão. De minha parte, eu direi que eles a utilizam, sem dúvida, mas demasiado tarde, após a força imperiosa da Fé. Ele crêem primeiro, absolutamente não se servem de sua razão naquele momento de seu pensamento, um momento psicológico, mas utilizam-na depois, num segundo tempo, para procurar dar sentido e coerência às suas crenças que procedem do fundo psicológico, do qual falamos bem no início de nossa entrevista. Uma razão utilizada a priori, e não a posteriori, como ocorre com os crentes.
IHU On-Line - Quais são as evidências que o levam a afirmar exatamente o contrário de Kant: a inexistência de Deus e do livre-arbítrio e a mortalidade da alma?
Michel Onfray -
 Não evidências, mas o bom senso: cabe àqueles que afirmam a existência de uma coisa apresentar a prova. Deus existe? Provai-o. Senão eu vos digo que os íncubos e os súcubos existem e que, se não podeis fazer-me a demonstração que isso é falso, então isso será verdadeiro.
Para o livre arbítrio, isso me parece claro: quando se é, por pouco que seja, informado de ciência, história, psicologia, sociologia, psicanálise, economia, política, constata-se como os determinismos são fortes, poderosos e todo-poderosos junto ao maior número. Vocês crêem que o violador de crianças é livre e que ele escolheu, entre outras possibilidades sexuais, esta antes que outra? Ou, então, ao contrário, que ele foi determinado por mil causalidades que seria preciso explicitar tornar-se um delinqüente sexual?

Enfim, a morte de todo mamífero faz a demonstração que o destino do cadáver de um cão, por exemplo, é o mesmo que o de meu próprio cadáver que, no dia determinado, será um cadáver de mamífero. O que vocês chamam de “alma” e da qual dizem que ela é eterna, imortal e imaterial, eu também concordo com sua existência: eu creio na existência da alma, sem dúvida, mas ela é material, mortal e perecível. O que a constitui é o agenciamento específico de minha materialidade: com minha morte, ela morre igualmente. Mas o exercício de uma entrevista que vocês me propõem torna difícil uma verdadeira argumentação que é dada no livro. Somos constrangidos a roçar os temas por alto.
IHU On-Line - Para você, Deus não morreu porque “uma ficção não morre”. A religião e o divino continuam, então, a ocupar lugar importante na sociedade?
Michel Onfray -
 Sim, seguramente. A maioria das pessoas têm e terão medo da morte. O mecanismo psicológico de negação funcionará até o fim dos tempos. E o recurso às ficções religiosas também terá lugar enquanto houver humanos. Somente alguns espíritos fortes viverão sem Deus, mas estes serão sempre minoritários.
IHU On-Line - Por que só o ateísmo possibilita sair do niilismo?
Michel Onfray -
 Não somente, mas filosoficamente, sim; somente a filosofia atéia evita que se substitua uma ficção por outra ficção, um mito por outro mito, uma religião (aquela dos romanos pagãos) por outra (aquela dos ocidentais cristãos). A filosofia permite uma mudança de era: ela permite passar de uma era mitológica e religiosa a uma era que será racional e filosófica. Eu me bato por isto, mas em desespero, sem muito crer nisso, sabendo que os humanos sempre preferirão as ficções que lhes dão segurança às verdades que os inquietam.