domingo, 25 de maio de 2014

ETE SIM! NO RASA NÃO!?

ETE SIM! NO RASA NÃO!?
                                                                   
                                                                                       Carlos Inácio 

O veto do Projeto de Lei que propunha a construção da ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) de Ponte Nova continua a repercutir pelos perfis dos pontenovenses do facebook. Tenho acompanhado algumas discussões e os argumentos contra a construção da ETE parecem estar comprometidos com interesses particulares, desprezando por completo o interesse coletivo, qual seja, o bem estar da população pontenovense.  Vejo muitas justificativas do tipo “Você defende a ETE por não morar no Rasa! Não vai ter que conviver com o fedor!” ou então “Possuo terreno próximo ao local onde a ETE será construída e se isso de fato ocorrer meu terreno será desvalorizado”. As frases deixam clara a preocupação direcionada para o que acontece ao redor do próprio umbigo.
            Os opositores do PL cunharam o seguinte sologan: “ETE SIM! NO RASA NÃO!” Mantra cujo objetivo é alcançado: anular o pensamento de quem o entoa. Através de uma retórica fajuta, se dizem a favor da construção da ETE desde que não seja no Rasa. Contudo, sua natureza falaciosa se revelou quando o Executivo cedeu à pressão e assumiu o compromisso, através de oficio enviado ao Ministério Público de mudar o local de construção da ETE para aquela que seria a segunda opção, de acordo com estudo realizado antes da formulação do projeto, conforme notícia publica no site Unidade de Notícias (link para notícia: http://unidadenoticias.com.br/novo/prefeito-volta-com-pedido-de-financiamento-para-a-ete-e-garante-que-nao-sera-na-raza/) Embora não seja determinada nessa reformulação do PL a localização da ETE, fica claro tratar-se de região abaixo do Distrito do Pontal, uma vez que um estudo feito pelo DESA (Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG)  determina essa região como segunda opção.
Diante dessa mudança tão exigida pelos praticantes do mantra “ETE SIM! NO RASA NÃO!”, outra razão surge pra manter a contrariedade acerca da construção da ETE, a suposta existência de um empecilho jurídico, pois, no texto original do PL, o local descrito para a construção da ETE é o Rasa. Nesse sentido, alegam ser a alteração do local da ETE uma falsificação do texto original proposto pelo governo municipal. Ora essa, porque os militantes do “ETE SIM! NO RASA NÃO!” só após essa mudança do Executivo apontam para essa falha? Não percebem a contradição em solicitar algo que não pode ser feito? Pois pedem a mudança do local e dizem não ser possível realizá-la! Uma razão anula a outra. Ora essa, o governo atende a principal solicitação feita pelos opositores da construção da ETE no Rasa e ainda assim não se dão por satisfeitos!
Sinceramente! O prefeito Guto Malta é Procurador Federal, e isso, caso eu não esteja enganado, significa deter algum domínio sobre o campo jurídico. Será mesmo que o ofício enviado ao MP e o comprometimento do prefeito, expresso no mesmo documento, de construir a ETE abaixo do Pontal, não tem nenhum valor jurídico? Será mesmo, caso esse ofício possa ser anulado por outro emitido posteriormente pelo prefeito, como disse um dos vereadores votantes pelo veto da PL, que Guto Malta faria uso de tal artifício atestando ser homem de duas palavras? Ao que tudo indica a ETE seria vetada pelos vereadores independentemente do local escolhido para sua construção.
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Coloquemos as coisas em seus devidos lugares. Sendo o principal problema a localização da ETE, voltemos ao dia 30 de agosto de 2013. Nesta data, o DMAES noticiou em seu site o recebimento de um relatório entregue por uma comissão de moradores do bairro Rasa, contrários à construção da ETE. No relatório são indicados 04 locais, todos localizados entre o bairro Rasa e o distrito do Pontal. O DMAES acatou o pedido e encomendou junto ao DESA (Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG)  novo estudo para determinar o melhor lugar para construção da ETE. (Fonte: site do DMAES, link da notícia: http://dmaespontenova.com.br/index.php/noticias/85-apresentado-novo-estudo-locacional-da-ete). Além de ceder à pressão dos manifestantes do “ETE SIM! NO RASA NÃO!”, o governo municipal havia anteriormente atendido a um pedido da comissão de moradores do Rasa, mostrando-se claramente aberto ao diálogo.
Façamos mais um regresso no tempo, agora para o dia 21 de novembro de 2013, quando o DMAES divulgou o resultado do novo estudo realizado pelo DESA, solicitado pela associação de moradores do Rasa. A escolha do Rasa como local para construção da ETE foi feita a partir de critérios estabelecidos pelos profissionais responsáveis pela realização do estudo que determinou qual seria o melhor local para construção da estação. Esse estudo levou a dois locais que satisfaziam boa parte dos critérios de construção: o Rasa e a região abaixo do distrito do Pontal. Os critérios utilizados no estudo encomendado pelo DMAES foram: riscos inerentes à desapropriação de terrenos, percentual de atendimento à população, custo com interceptores, custo das obras de implantação, consumo de energia elétrica nas estações elevatórias, distância de adensamentos populacionais e acesso rodoviário”. (Fonte: Página de notícias do site do DMAES http://dmaespontenova.com.br/index.php/noticias/85-apresentado-novo-estudo-locacional-da-ete). Na comparação entre as duas áreas, o Rasa foi considerado o melhor para a construção da ETE, por satisfazer a maior parte dos critérios listados no estudo.
Quer dizer, existe um laudo técnico atestando ser o Rasa a melhor localização, garantindo não haver impactos negativos sobre a região e ainda sim o mantra é repetido exaustivamente. Isso faz crer estarem as pessoas contrárias à ETE no Rasa preocupadas apenas com seus interesses particulares. Não vejo ninguém entre os adeptos do mantra “ETE SIM! NO RASA NÃO!” apresentar argumentos amparados em fatos concretos comprovando ser a ETE causa de doenças e emissora de gases mau cheirosos. Lembremos a visita à ETE de Ipatinga no dia 11 de janeiro deste ano por comitiva formada pelo prefeito Guto Malta, representantes do Executivo e do DMAES, membros do Conselho Deliberativo do DMAES (Condel), representantes do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Codema), do Rotary Club, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da imprensa local, da sociedade civil - como moradores do bairro Rasa e Pacheco - e alguns vereadores. A comitiva avaliou positivamente o modo como opera a ETE em Ipatinga conforme noticiado pelo site Pontenet (Link para a notícia: http://www.pontenet.com.br/index.php/component/k2/item/2042-avaliacao-positiva-comitiva-de-ponte-nova-conhece-a-ete-de-ipatinga).
Os vereadores Leo Moreira, Valéria Alvarenga e Toni do Badalo acompanhados pelo vice-prefeito Zé Luiz visitaram uma moradora do bairro próximo à ETE de Ipatinga que relata a existência de forte odor antes da instalação dos desodorizadores. Na realidade a ETE de Ipatinga não previa em seu projeto original a instalação dos desodorizadores que evitassem os odores provenientes do tratamento do esgoto daquela cidade. O sistema foi instalado posteriormente conforme atesta a moradora entrevistada o que diminuiu bastante a emissão do mau cheiro que segundo a entrevistada praticamente não existe mais. No caso do projeto de Ponte Nova, o desodorizador já é previsto como equipamento obrigatório, sendo do modelo mais eficiente e moderno segundo o DMAES. No final do vídeo o operador da câmera lança uma pergunta capciosa à entrevistada que aqui reproduzimos: “Vou te fazer uma última pergunta: o que você recomenda à população de Ponte Nova? Aceitar ou não aceitar uma ETE dessas a 100 metros de uma RESIDÊNCIA?” A pergunta é capciosa por não estar amparada no texto do PL da ETE. No texto do PL consta ser a construção da ETE próxima a 100 metros de residências?  Voltemos aos critérios que determinaram o melhor local para construção da ETE segundo estudo feito pela DESA: riscos inerentes à desapropriação de terrenos, percentual de atendimento à população, custo com interceptores, custo das obras de implantação, consumo de energia elétrica nas estações elevatórias, distância de adensamentos populacionais e acesso rodoviário”.  O critério em destaque determina a construção da ETE em local distante de concentração populacional. Portanto a ETE não poderia ser construída próxima à residências, haveria uma distância mínima da zona residencial. Certamente essa distância não seria de 100 metros entre as residências e a ETE conforme faz crer a pergunta feita à entrevistada. O vídeo pode ser visto através do perfil do vereador Leo Moreira no youtoube acessando o link: https://www.youtube.com/watch?v=RTtiYK7mLoA
Isso tudo levar a crer que os interesses ligados à oposição da escolha do local do Rasa para construção da ETE são particulares. Ninguém parece pensar no benefício do conjunto, ou seja, de toda população pontenovense, mas nos seus próprios apenas.
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O orçamento para construção da ETE no Rasa seria de R$ 21.049.086,84, abaixo do Pontal chegaria a  R$ 24.202.799,59. “Além disso o fato do licenciamento já se encontrar em etapa de Licença Prévia e de Instalação (LP + LI), além da economia do custo de implantação de interceptores”. Amparados pelo estudo que indica ser o Rasa o melhor local para construção da ETE, evidentemente a opção foi seguir as determinações técnicas desse laudo. Somem a essa razão o custo menor da construção no Rasa e teremos o resultado! (Fonte: Página de notícias do site do DMAES http://dmaespontenova.com.br/index.php/noticias/85-apresentado-novo-estudo-locacional-da-ete)
A discussão sobre a construção da ETE em Ponte Nova teve início em 2006, portanto, há duas gestões. Nessa ocasião foi protocolado pedido de Licença Prévia (LP) na SUPRAM (Superintendência Regional de Regularização Ambiental/MB) localizada em Ubá. A licença foi concedida por esse órgão em 2008. A partir dessa concessão o governo municipal podia iniciar o processo que levaria à construção da ETE. Porém, em 2009, portanto na gestão do ex-prefeito Joãozinho de Carvalho, o Executivo não deu prosseguimento ao licenciamento concedido em 2008. Resultado: o Ministério Público abriu inquérito civil frente ao DMAES a fim de verificar se Ponte Nova tratava seu esgoto ou não. No ano seguinte, 2010, foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o DMAES, o Executivo e o MP. Nesse documento, DMAES e Prefeitura Municipal assumiram o compromisso de conseguir a Licença de Instalação e a Licença de Operação para construção do empreendimento em apenas 09 meses. (Fonte: Página de notícias do site do DMAES http://dmaespontenova.com.br/index.php/noticias/85-apresentado-novo-estudo-locacional-da-ete) Porém, adivinhem o que aconteceu! As exigências não foram cumpridas levando o MP a executar o TAC em 2011. Por esse motivo o DMAES ficou sujeito a pagar multa diária de R$ 5.000,00 e transferir o valor mensal arrecadado através da tarifa de esgoto do Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos (FUNDIF). (Fonte: Página de notícias do site do DMAES http://dmaespontenova.com.br/index.php/noticias/85-apresentado-novo-estudo-locacional-da-ete)
No dia 21 de fevereiro de 2013 foi realizada audiência de conciliação organizada pela atual direção do DMAES, cujo resultado foi a suspensão da execução do TAC pelo Ministério Público, já que o DMAES se comprometeu a apresentar o projeto da ETE, bem como no prazo de 2 meses apresentar um relatório informando a situação do processo de implantação do empreendimento. O governo Guto Malta, portanto, livrou os cofres municipais da multa diária de R$ 5.000,00 que vinha sendo paga desde 2011 quando o MP executou o TAC e levou o PL para votação na Câmara. Agora, calculem aí quanto foi gasto de lá até a realização do acordo em fevereiro do ano passado! O problema herdado da gestão Joãozinho de Carvalho estaria resolvido caso o PL tivesse sido aprovado pela Câmara. Os vereadores contrários à ETE apresentaram entre suas razões para o veto o receio de termos o orçamento municipal comprometido através do uso de recursos do FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS para o financiamento da ETE causando endividamento do município. O áudio da sessão da Câmara Municipal em que o PL foi votado, com as respectivas justificativas dos vereadores para seu voto, pode ser acessado através do link: http://www.pontenova.mg.leg.br/audio-das-reunioes/Reuniao%20do%20dia%2012%20de%20maio%20de%202014.mp3/view)
Agora pergunto: o veto também não acarretaria o endividamento do município uma vez que a execução do TAC levaria ao pagamento de multa diária de R$ 5.000,00? Segundo os vereadores favoráveis ao PL o não cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado pelo ex-prefeito Joãozinho de Carvalho, levará a Prefeitura a assumir uma dívida de oito milhões de reais. Caso haja algum fundamento nos motivos apresentados pelos vereadores a respeito do endividamento através do FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS, resta considerar que o endividamento ocorreria de um jeito ou de outro. O problema é que o endividamento contraído pelo veto não traz consigo, como contrapartida, a ETE para o município de Ponte Nova. O veto levou à perda do recurso já que a assinatura do convênio com Governo Federal/Ministério das Cidades deveria ser efetivada até junho desse ano (Fonte: Página de notícias do site do DMAES http://dmaespontenova.com.br/index.php/noticias/85-apresentado-novo-estudo-locacional-da-ete).
Seria o veto resultado de falta de bom senso por parte dos sete vereadores que por ele votaram, uma manobra política para mostrar a força da oposição, a prova de serem os interesses particulares ligados à área de construção da ETE prioridade da oposição? Quanto aos motivos só podemos especular, a seu respeito nada sabemos. Contudo sabemos que o resultado da votação só trouxe lastimáveis perdas à Ponte Nova.






domingo, 18 de maio de 2014

Não são apenas sete os responsáveis pelo veto ao projeto de construção da ETE em Ponte Nova

Carlos Inácio Coelho Neto
Dalton Sanches

      Antes que alguns críticos ao governo, tanto em âmbito federal como municipal, venham ao encontro deste texto ávidos por críticas histéricas e superficiais ao mesmo, advirtamos desde já que, com todos os seus erros, nós, e muitos de nossa geração, acreditamos ser ainda o que tem um PROJETO DE PAÍS E MUNICÍPIO com o qual minimamente concordamos; por verificarmos, e sentirmos concretamente, algumas de suas conquistas essenciais fazendo parte da vida dos brasileiros. Conquistas políticas e sociais que nenhum governo anterior teve capacidade de efetivar, diga-se em alto e bom som. Aos críticos raivosos ao governo – e falando em âmbito nacional –, advirtamos ainda que não significa que somos incondicionalmente a favor de megaeventos no Brasil como a Copa do Mundo, à custa de despejos desumanos de várias famílias de suas moradias e outras questões, entre elas o aparelhamento milionário da polícia; pra não falarmos das alianças com forças conservadoras. Porém, diante do eminente desespero latente da elite brasileira para emplacar o candidato do PSDB, Aécio Neves, nas próximas eleições, deixamos claro, mais uma vez, o nosso APOIO AO GOVERNO DO PT.

       Agora, pedimos paciência ao leitor para nos acompanhar no raciocínio deste texto um pouco longo, mas necessário, o qual intenta chamar atenção para alguns problemas pontuais da política municipal ocorridos na semana passada. É bom frisar, ainda, que os autores destas linhas são cidadãos pontenovenses, destituídos de qualquer tipo de filiação a algum partido. Posto isso, vamos ao que interessa:

       O Projeto de Lei (PL) nº 3.347/2014 que propõe a construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) em Ponte Nova foi vetado na Câmara de Vereadores da cidade em sessão do dia 12 de maio. O veto repercutiu bastante no Facebook. Postagens feitas em perfis pessoais de moradores de Ponte Nova revelam haver de grande parte da população o sentimento de que o veto representa retrocesso político, social e ambiental para a cidade. Há, de parte dos perfis do Facebook das pessoas ligadas ao governo municipal, postagens que mostram o seu descontentamento com relação ao veto, no entanto, a essa altura não passam de lágrimas vertidas sobre o leite derramado.

       O veto da Câmara é resultado de um processo iniciado com a retomada das discussões em torno da construção da ETE pelo governo Guto Malta em 2013, cujo resultado foi o acima citado PL nº 3.347/2014. Os principais responsáveis pelo veto são a oposição e o Legislativo municipal, representado na figura dos sete vereadores que votaram pelo veto do projeto, portanto, CONTRA a construção da ETE. São eles: Leo Moreira (PSB), Marília Rôlla (PSB), José Mauro Raimundi (PP), Valéria Alvarenga (PSDB), Toni do Badalo (PDT), Patrícia Castanheira (PTB) e Wellington Neim (PMDB). A oposição é responsável por ter repercutido massivamente os “malefícios” que seriam causados pela construção da ETE em meio à população do bairro Rasa, por meio do Facebook e na Audiência Pública promovida pelo CODEMA (Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente), no dia 25 de janeiro desse ano, quando um número esmagador de pessoas contrárias à ETE compareceu atendendo à convocação da oposição. Um dos principais motivos usados como justificativa pela oposição contrária à construção da ETE foi o de que ela emitiria gases mau-cheirosos fortes, afetando portanto a população do Rasa. O que CAIU POR TERRA quando houve uma visita – por parte de autoridades, civis, entidades e membros do governo, entre eles o prefeito Guto Malta – à ETE de Ipatinga, conforme noticiado pelo site PONTENET (http://www.pontenet.com.br/index.php/component/k2/item/2042-avaliacao-positiva-comitiva-de-ponte-nova-conhece-a-ete-de-ipatinga). Mesmo com mostras factuais de ser INCORRETA a informação de que a ETE emitiria tais gases fedorentos, a oposição, junto a uma parte dos moradores do Rasa, mantiveram-se contra a implementação da ETE naquele local. O slogan ETE SIM, MAS NO RAZA NÃO! esteve à frente dos protestos contra a ETE. O prefeito, então, decidiu ouvir o slogan e o projeto passou a determinar a construção da ETE no distrito do Pontal. Mesmo cientes da mudança do local para construção da ETE, a maioria dos vereadores votou pelo veto do PL. Isso deixa, no mínimo, margem para interpretar que o veto teve INTERESSES POLÍTICOS E ECONÔMICOS, e também ressentimentos por parte de alguns não reeleitos à atividade política para o ano de 2014.

       Enfim, derrota lastimável para muitos. Vitória glorificadora para poucos. Glorificadora, aliás, pelo fato de os sete vereadores que votaram contra terem sido laureados com a insígnia de “heróis” em perfis do Facebook de alguns cidadãos. Seria cômico, se antes não fosse trágico! Mas, como salientamos no início, não choremos o leite derramado. Ao contrário, indaguemos sobre possíveis parcelas de culpa do próprio governo e sua base:

     Primeiramente perguntemos por onde andou a assessoria de comunicação da prefeitura e do PT pontenovense. Afinal, a informação clara e sistemática à população é um dos pilares de uma boa governabilidade, não é mesmo? Não houve, por exemplo, até onde sabemos, divulgação massiva sobre a Audiência Pública ocorrida no dia 25 de janeiro de 2014 na Escola Municipal Jose Maria da Fonseca. Houve, sim, uma conclamação à população feita a toque de caixas, por parte de membros do governo e entidades, às vésperas da audiência, mesmo assim quando sentiram que os moradores do Rasa juntos a autoridades estavam pressionando ferrenhamente. O PT pontenovense foi omisso ou incompetente por não articular sua militância – se é que ela existe – e promover o comparecimento massivo de pessoas favoráveis à construção da ETE. O resultado foi a quase impossibilidade de as pessoas a favor da ETE, membros da sociedade civil, diga-se de passagem, exporem seus argumentos ao pegarem o microfone para falar das vantagens de termos uma ETE em Ponte Nova. Foi quase impossível falar, pelo fato de serem vaiadas e hostilizadas pelos contrários à ETE, numa clara manifestação ANTIDEMOCRÁTICA, diga-se de passagem. Não fosse pela competente mediação realizada por autoridades do CODEMA, a audiência seria implodida devido ao estardalhaço causado pelos que estavam gritando desenfreadamente palavras de ordem.  Daí, perguntemos: onde estava a militância do PT, tão presente na comemoração da vitória de Guto Malta em 2012? Por que não estavam presentes à audiência pública e na sessão de votação do PL? Um detalhe: dias antes da votação na câmara, ou até mesmo no dia 12 de maio, se não nos equivocamos, a oposição se articulou e colocou um carro volante circulando em toda a cidade, no qual transmitia-se chamada para a população comparecer à câmara, bem como discorrendo sobre as “desvantagens” de termos uma ETE no bairro Rasa e adjacências. Ora, por que a administração atual não reagiu do mesmo modo, colocando um carro a fim de argumentar fortemente sobre o porquê das vantagens de termos, sim!, um projeto de tamanha importância para a cidade? Voltando: onde estavam, com exceção de alguns presentes, maioria dos secretários, assessores e o próprio prefeito para pronunciar a favor da ETE na audiência? Desde que tal projeto, legado da administração anterior, foi assumido, não foram feitas campanhas sistemáticas de divulgação da ETE, mostrando do que se trata, os impactos sobre o meio ambiente da cidade, enfim esclarecendo todas as dúvidas por parte da população sobre a ETE. A proposta do PL é importante, mas não é suficiente para sua aprovação. Seria preciso promover ações mais pontuais e intensas a fim de mostrar à população – bairro a bairro – a relevância fundamental da aprovação do projeto. Isso não foi feito por parte da prefeitura e nem do PT pontenovense.

       Dito isso, cabe dizer da atuação pouco expressiva do atual governo no que toca a conscientização da população acerca dos graves problemas estruturais do Município, herdados da lastimável administração anterior, os quais, devido a essa má comunicação (omissão?), foram automaticamente associados, por muitos, à gestão atual. No que diz respeito ao que consideramos ser excesso de pragmatismo político por parte da base do PT municipal e aliados, erros de estratégia como a derrota da ETE, por exemplo, foram frutos de uma relação de quase subordinação diante da oposição, e cujo intuito, a nosso ver, perpassa pela garantia de governabilidade. Agora, nos perguntamos: o que se tem colhido efetivamente com tal governabilidade, uma vez que parte da oposição tece críticas ácidas à atual gestão, se aproveita de situações e eventos que na verdade deveriam ser mérito da mesma e, no entanto, a atual gestão não responde com as cabíveis medidas? Para encerrarmos e não mais cansarmos o leitor, deixamos o exemplo que ilustra bem o que argumentamos acima: uma das falas que pautou a discussão da aprovação da ETE, na Câmara, foi sobre o possível endividamento por parte do Município caso fosse feito o financiamento junto à Caixa Econômica Federal. Juramos que procuramos o PL a fim de verificarmos se tais razões tem fundamento. Não encontramos! Procuramos, também, alguma nota da assessoria de imprensa da prefeitura comentando o resultado da votação e desconstruindo os argumentos apoiados nessas duas razões. Nada encontramos. Devemos, portanto, considerar que o Executivo municipal propôs um projeto que dispara um tiro contra seu próprio pé e compromete o orçamento da cidade? Preocupa-nos a falta de pronunciamento oficial por parte do governo municipal a esse respeito! Será que o silêncio é realmente a melhor resposta? De acordo com o ditado popular: Quem cala consente! Também temos ouvido muitos discursos que revelam uma fé messiânica quanto à figura do prefeito, como se ele fosse salvar a todos nós. Não podemos esquecer que num Estado democrático as decisões e ações não são responsabilidade de um único homem. Se as partes componentes do governo não abandonarem a atitude extremamente burocrática apresentada até aqui e assumirem suas responsabilidades políticas, que vão além das paredes das repartições públicas, situações como essas voltarão a ocorrer muitas vezes mais. Mas, como advertimos no início deste texto, e para não sermos injustos, conquistas e avanços foram realizados como nunca antes verificados e sentidos na história do Município. Fica então o nosso apoio, com certo tom de auto-crítica e mea culpa.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Série Entre-Vistas com Emerson DMG

    A série Entre-Vistas retorna após 4 anos para trazer o rapper Emerson DMG. Natural de Ipatinga, cresceu em Ponte Nova, cidade com a qual possui forte vínculo e hoje vive na em São Paulo. O rap mineiro, em particular o pontenovense, tem pouquíssimo espaço na mídia e podemos dizer sobrevive da militância própria de quem é do hip-hop. Emerson fala sobre sua carreira, sua luta para se firmar na cena hip-hop no berço dessa cultura no Brasil e da cena em Ponte Nova e em Minas Gerais.

BORN TO LOSE: Obrigado por aceitar o convite de participar da série Entre Vistas do Born To Lose. É um prazer tê-lo aqui!! Emerson, sempre iniciamos as entrevistas com a pergunta: o que é arte para você?

Emerson DMG: A arte salva, arte é vida e há muito tempo carrego esse lema comigo ( Viver é arte Sobreviver é preciso ) cada vez mais.

BORN TO LOSE:  Quando e como foi seu primeiro contato com o hip hop?

Emerson DMG: Em meados da década de 90 eu conheci o rap que é um dos 4 elementos da cultura hip hop. Foi amor à primeira vista. Eu e o meu parça Franklin,  vulgo Preto, começamos a fazer umas rimas e a escrever algumas letras dentro da sala de aula mesmo, só para tirar um barato. Era muito loko! Daquele momento em diante, era só rap 24 por 48 até eu me apaixonar novamente, quando conheci a dança, ou melhor, o break que também bateu forte e ficou marcado.

BORN TO LOSE: Acredito que isso tenha sido quando ainda morava em Ponte Nova! Em qual escola você estudou e como conheceu o Preto (Franklin)?

Emerson DMG: Estudei em outras escolas mas a que mais marcou foi a E.E.Senador Antonio Martins certo. Agora o Preto, nos conhecemos na infância ainda moleques, morávamos na mesma rua, crescemos juntos e até hoje temos uma conexão de família morou.          
                                                                                                                               BORN TO LOSE: Você disse acima que a arte salva, ela te salvou de algo?

Emerson DMG: A arte salva, acredito plenamente que a minha formação como cidadão e tal, na parte profissional também, foi devido ao meu envolvimento com a arte, no caso a cultura hip hop. Vários amigos meus se envolveram com o crime certo, alguns infelizmente não estão mais entre nós, outros presos, alguns passaram pelo sistema prisional e estão se ressocializando devido à arte e o que me livrou de não ter seguido essa mesma trajetória foi a arte, o hip hop.   

BORN TO LOSE: Havia um movimento hip hop em Ponte Nova quando você começou a escrever suas rimas e se interessar pelo break. Como era o hip hop pontenovense naquela época e como está hoje?

Emerson DMG: Quando comecei a escrever não sabia da grandeza que era o rap,
para mim era só um estilo musical. Eu logo me identifiquei como rap porque abordava nas letras o nosso cotidiano. Em Ponte Nova sempre houve vários manos envolvidos com a cultura, porém muitos ficam no anonimato, pois vivemos em um país que não valoriza a cultura ou a arte. Eu vou mais além, certo, não valoriza nem mesmo o cidadão brasileiro morou. Antigamente em nossa cidade tínhamos vários salões voltado para som black, vários concursos de dança na cidade e região onde todo final de semana uma rapaziada se reunia para se encontrar, dançar, confraternizar ou só para curtir. Infelizmente hoje não existem mais espaços como os de antigamente, mas felizmente ainda existem guerreiros que trabalham e lutam contra tudo e contra todos para não deixar a cultura morrer em nossa cidade. Salve o hip hop!      

BORN TO LOSE: Pra você qual seria a causa do desaparecimento dessas casas de shows e eventos ligados à black music e em particular do Hip Hop em Ponte Nova?

Emerson DMG:  Primeiramente por incompetência dos donos das casas, que na época só visaram os lucros e não se preocuparam em expandir, preparar e capacitar melhor os seus funcionários. Depois, incompetência da administração da prefeitura, que com o índice crescente de violência e mortes de jovens, principalmente por várias tretas geradas nos bailes, acharam mais prático acabar com os bailes. Pensando que assim acabariam ou amenizariam o problema certo, não! Errado! Com os fechamentos das casas as ocorrências na cidade podem não ter aumentado, mas a violência aumentou muito e com certeza uma boa parte desse crescimento foi feita pelo fim desses eventos, sem um lugar para se divertir e confraternizar a vida ficou monótona, principalmente por ser uma cidade do interior que infelizmente não cresce, não evolui e não dá oportunidades concretas para os jovens e moradores da cidade. 


BORN TO LOSE: Pra você o que leva a essa visão negativa lançada sobre a cultura vinda da periferia como o Hip Hop, principalmente por parte da elite e do governo? Em Ponte Nova o olhar lançado sobre o Hip Hop pela elite e governo também é esse?

Emerson DMG: Acredito que hoje apesar da nossa cultura não ser valorizada como deveria ser, estamos tendo uma grande aceitação em todas as áreas. Vários irmãos em toda parte do país estão trampando e difundindo a cultura. O respeito não é comprado e sim conquistado e em Ponte Nova não será diferente! Somos o que queremos ser, a nossa luta continua... 

BORN TO LOSE: Você tem alguns raps gravados e as rimas procuram falar sobre o cotidiano de quem vive na periferia. O rap é uma música de protesto? O que você pensa do rap que não expõe as questões sócias da periferia?

Emerson DMG: O rap é um estilo musical como qualquer outro, porém, por ter nascido nos guetos, no Brasil muitos grupos seguem uma linha de protesto, pois temos um estado omisso. Eu procuro fazer um som com a minha verdade, o que eu vejo, vivencio ou relatos de alguns manos. Vivemos em uma democracia, ou melhor, em uma falsa liberdade, mas cada um faz as suas escolhas e segue o que acredita desse jeito, cada um no seu corre.          

BORN TO LOSE: Quais são seus objetivos com rapper? 


Emerson DMG: Reconhecimento se estiver realizando um bom trabalho e conseguir sobreviver fazendo aquilo que amo: a musica, o rap.

BORN TO LOSE: Há na internet alguns raps que você gravou e vêm divulgando através das redes sociais. Você pensa em lançar um álbum?

Emerson DMG: Com certeza eu pretendo lançar um álbum. Tenho até uma obra que está estacionada, porém para lançar algo de qualidade com a minha cara é necessário investimentos. Hoje eu não tenho condições e nem patrocínio para concretizar essa obra, mas quem sabe se em um futuro próximo as coisas podem mudar.

BORN TO LOSE: Você é pontenovense, mas vive em São Paulo. Por que resolveu deixar Ponte Nova e ir morar em São Paulo? Tem algo a ver com o hip hop?

Emerson DMG: Na realidade eu nasci em Ipatinga - MG, mas me considero pontenovense, pois foi em Ponte Nova que eu cresci. Referente à minha ida para São Paulo fui a convite do meu amigo Franklin, pois na época estávamos desempregados e como eu tinha algumas qualificações profissionais resolvi aceitar a proposta de mudança, e com certeza o que pesou para eu tomar essa decisão foi pelo fato do cenário do hip hop ser muito forte em São Paulo.   

BORN TO LOSE: Qual pergunta não foi feita, mas que você considera ser importante fazê-la e qual sua resposta a ela?


Emerson DMG: Todas as perguntas foram importantes, mas para finalizar perguntaria onde vc quer chegar com a sua musica e quais os seu planos para futuro? Espero que a minha musica possa chegar onde deve chegar e quem sabe possa confortar e direcionar os nossos irmão em meio ao caos em que vivemos. Para um futuro próximo eu espero lançar o meu primeiro álbum de forma independente ou não, solo ou na. Tenho um projeto pronto, mas ainda não está definida a forma como ele será concretizado. No mais espero que a rua, o publico curtam o meu trabalho, e que eu consigo chegar e me manter dentro de um cenário, de uma cultura transformadora que resgata vidas. Pra finalizar gostaria deixar um salve sem citar nomes para não magoar certo,  para todos os manos que de alguma forma fizeram parte da minha vida, pros irmãos de correria lado à lado quem é tá ligado, um salve para as quebradas que fizeram e fazem parte do meu dia a dia, Diadema, São Bernardo do Campo, todo ABCD, Vila Clara, Jr.Mirian, Cidade Ademar, Pantanal, Luso, Cidade Julia, Missionária, Pedreira, Santo Amaro salve zona sul e todas as quebradas de São Paulo, um salve para Mariana - MG, Ouro Preto - MG e todas as cidades mineiras em especial, sem esquecer jamais de onde eu vim e estão as minhas raízes, salve, salve Ponte Nova - MG é nois DMG paz a todos... 



Emerson DMG disponibilizou alguns de seus raps em seu perfil do soundcloud. Cliquem no link abaixo e ouça o trabalho de Emerson DMG.

https://soundcloud.com/emerson-31